Thursday, 26 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Cobertura fúnebre preparada

TELETIPO

Preparar-se para a morte de um líder mundial não é algo que a imprensa costuma alardear. Considerando o estado de saúde frágil do papa João Paulo II, a mídia está se aprontando para cobrir seu funeral. "Seria loucura não ter um plano", afirma Marcy McGinnis, da CBS, que esteve em Roma na década de 90 fechando acordo de 10 anos para obter vagas em hotéis, linhas telefônicas e espaço no telhado para as câmeras da rede. Segundo Peter Johnson [USA Today, 29/5/02], os canais já gastaram centenas de milhares de dólares com tais reservas: se para os jornais basta um necrológio, na TV é preciso ter um âncora no local e o cenário do Vaticano ao fundo. Além disso, a morte de um papa é matéria que dura semanas, enquanto os cardeais se reúnem para nomear o sucessor.

Omar Saludes é um dos 100 jornalistas independentes que trabalham em Cuba. Como seus colegas, é acusado pelo governo de ser contra-revolucionário, e é barrado em eventos oficiais. Esses dissidentes escrevem matérias sobre prisioneiros políticos e problemas sociais, à mão ou numa velha Olivetti, e as ditam por telefone a sítios de internet sediados em Miami. Os salários são pequenos e irregulares, os riscos, altos: para o Comitê de Proteção aos Jornalistas, Cuba está entre os 10 piores lugares para a atuação de repórteres (Bernardo Padrón está preso desde 1997 por ter chamado Fidel Castro de mentiroso). No entanto, poucas destas reportagens retornam ao país, revela David Gonzalez [New York Times, 31/5/02], a maioria pela Radio Marti, estação financiada pelo governo americano.

Howell Raines, eleito editor do ano pela Editor & Publisher em apenas nove meses de reinado, continua provocando tumulto na redação do New York Times. Conta Howard Kurtz [Washington Post, 3/6/02] que, após as saídas de Kevin Sack, chefe da sucursal de Atlanta, para o Los Angeles Times e do editor investigativo Stephen Engelberg para o Portland Oregonian graças a confrontos com o editor executivo, Jill Abrahams, chefe da sucursal de Washington, também ameaçou se demitir. Em matéria do New Yorker, Raines afirma que sua "paixão às vezes passa por grosseria, ou é confundida com instintos agressivos que não tenho". Isso, reconhece, deixa as pessoas "estressadas ou agitadas". Segundo a revista, Raines está agora empenhando numa "ofensiva de charme e humildade".