Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Cobertura pífia

PÓS-GRADUAÇÃO

O sistema de pós-graduação no Brasil é uma das raras áreas de ensino pouco conflitantes. Financiados pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior), a cada três anos essa instituição realiza uma cuidadosa e minuciosa avaliação de todo o sistema, e os resultados praticamente não são objeto de contestações maiores. A participação da comunidade acadêmica na definição dos critérios e no processo de avaliação faz com que as críticas, originárias daqui, dali ou acolá, venham quase invariavelmente de áreas mal avaliadas. Em sua maioria, são críticas mais sobre a forma como os critérios foram usados na avaliação de um curso específico e menos sobre o processo ou os próprios critérios.

Pois neste ano a coisa mudou, infelizmente para pior. Pela primeira vez em muito tempo, a Capes e o MEC divulgaram os resultados antes que as instituições deles tomassem conhecimento oficial e pudessem interpor seus eventuais recursos. Nas avaliações anteriores, os cursos recebiam antecipadamente os resultados, recorriam se achavam necessário e não era incomum o recurso ser acatado. Somente depois desse procedimento é que se fazia a divulgação pública.

Na semana de 26-31 de agosto, toda a grande imprensa noticiou os resultados ? ignorando o fundamental e fazendo estridência no secundário, senão no falso.

Numa área onde o Brasil até que caminha bem, a imprensa limitou-se a transcrever os releases oficiais. Os resultados mostraram onde estão os centros de excelência em pesquisa e onde o Brasil se equipara aos melhores do mundo. Mas praticamente nenhum jornal cuidou de avançar nesta pauta.

Sem exceções ? inclusive a Época, única semanal que cobriu ?, todos enfatizaram o fato de que 81 cursos podem ser fechados pelo MEC. Os cursos que obtiveram conceitos 1 e 2 não serão fechados. Apenas terão mais dificuldades na obtenção de recursos públicos e não serão recomendados pela Capes.

A área de comunicação mostrou um bom desempenho, de um modo geral. Nenhum curso desceu aos conceitos 1 e 2, tampouco algum alcançou os conceitos 6 ou 7, de padrão equivalente aos melhores do mundo.

O coordenador da área junto à Capes já alertara a comunidade, antes mesmo da divulgação pela mídia, que a divulgação deste ano seria feita antes do julgamento dos recursos ? o que, em certa medida, pode ser uma antecipação de resultados ainda não definitivos e significa um retrocesso em relação às avaliações anteriores.

De todo modo, se a mídia comportou-se burocraticamente, temos as próximas semanas para uma melhor cobertura desta área.

Como acontece com certa freqüência, Veja não apenas não cobriu como preferiu destacar novidades sem graça do MBA de Harvard. O comportamento reincidente de nossa mais importante revista semanal merece um estudo à parte.

    
    
                     

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