TIM LOPES (1951-2002)
Magdalena de Almeida (*)
Escrevo em absoluto estado de choque. A gente envelhece e acha que já viu tudo. Pois o tudo ainda está por vir ? percebe-se agora. Imagino que estejam acompanhando a tragédia que representou para todos nós o brutal assassinato do repórter Tim Lopes. Todo assassinato é algo, em si mesmo, brutal. Mas este, pelos relatos que nos chegam daqui e dali, foi revestido de uma crueldade que, sabemos todos, já é comum no mundo da bandidagem, mundo esse que está cada vez mais próximo de nós e torna-se uma grande ameaça para os jornalistas que decidem fazer o que a polícia é paga para fazer e não faz.
Reportagem investigativa virou sinônimo de morte anunciada. Estamos todos aterrorizados, paranóicos, reféns do próprio medo, ainda atônitos com o que aconteceu com o Tim. Esta guerra não declarada parece mais ameaçadora porque não sabemos de que esquina partirá a próxima bala, o próximo seqüestro, a brutalidade que vai nos calar.
Imagino também que o assunto já deverá ser objeto de outras manifestações neste Observatório, as quais, talvez, não sirvam para nada, porque na prática nada mudará ? a Copa do Mundo está aí mesmo para desviar todas as atenções e o Tim, no final, será mais um a engrossar a já gorda estatística da violência urbana orquestrada pelo narcotráfico.
Estamos impotentes diante de governos omissos, provincianos, caducos. Somos um esgoto a céu aberto e lamento pelos nossos filhos. Hoje pedi desculpas à minha filha por não lhe ter dado um Brasil melhor.
(*) Jornalista