Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Com as lentes no Paraná

DEVER DE CASA

Diogo Cavalcanti (*)

Engana-se quem pensa ser a imprensa politicamente neutra em época eleitoral ? ou fora dela. Sentar-se na cadeira de juiz e definir a posição política de um jornal é uma tarefa difícil, pela responsabilidade que implica. Nem sempre os jornalistas são livres para expressar exatamente o que pensam.

Em certas ocasiões o profissional se vê forçado a orientar seu texto conforme o perfil editorial do veículo, sem falar na plástica que qualquer matéria ou artigo sofre nas mãos dos editores antes de chegar ao público.

Embora a imprensa seja pintada com as tintas da imparcialidade, é nas entrelinhas que se escondem as preferências políticas de um jornal ou revista. Em alguns meios parece não existir esta preocupação com as "aparências". Posicionam seus microscópios sobre as críticas feitas contra determinados candidatos e partidos, enquanto apóiam ou protegem outros segundo seus interesses.

Nos últimos editoriais do Paraná-Online, objeto de análise neste artigo, não se encontra outra realidade. Camuflados entre os artigos de economia, sugestões para o próximo governo ou problemas regionais, entrincheiram-se os textos com afirmativas comprometedoras para certos candidatos. "Certos candidatos" significa "não todos".

O que surpreende no caso é o desequilíbrio na crítica aos presidenciáveis ? em quem exatamente é atacado. Como exemplo, no texto "Maturidade política", de 21 de agosto, que analisa o encontro do Fernando Henrique Cardoso com os candidatos, o autor elogia FHC do início ao fim. Ele foi "gentil ao máximo com todos", enquanto cada um dos candidatos, com exceção de Serra (é lógico!), "saiu dizendo o que bem quis".

Um tom claramente ofensivo contra Lula, Ciro e Garotinho. "Deu para vislumbrar o estilo que cada um dos candidatos usa para escamotear a realidade e dissimular seus pensamentos", conclui o artigo. A maturidade coube apenas ao presidente e ao candidato tucano.

Quinze a dois

O mesmo ocorre em "Questão de linguagem", também de 21 de agosto, em que se defende que o discurso dos candidatos ? menos Serra, novamente ? é mera retórica. A finalidade deles, segundo o artigo é "satisfazer seu eleitorado, que esperava alguma coisa contra". A parcialidade se transforma em euforia em artigo de 28 de agosto, "José Serra sobe 6% e empata com Ciro Gomes". É o maior dos textos analisados, com 15 parágrafos, divididos em três blocos emendados com os seguintes entretítulos, além do primeiro: "Vox Populi também mostra reação", e "Tucanos avaliam eficácia de ataques".

O artigo não somente informa, mas trata o fato com desmedida euforia. Primeiro porque nestes 15 parágrafos não há nem uma linha reservada a Ciro e seus partidários, enquanto cinco personalidades ligadas aos tucanos tecem elogios, previsões e expectativas quanto à candidatura de Serra.

Dois parágrafos são dedicados às declarações de Jules Mort, estrategista de um fundo de investimentos britânico. Neles, Mort afirma que "a campanha de Serra na televisão até aqui é a mais profissional e competente". A esta declaração unem-se a de Michel Temer ? "agora a disputa fica mais interessante" ?, a do vice-presidente dos tucanos Alberto Goldman ? "eu sentia o movimento favorável, mas não imaginava tamanha reação" ?, ou a de Juthany Júnior, líder do partido na Câmara ? "foi melhor que a encomenda, nem acreditei". O fato foi tratado como a vitória da Seleção sobre a Inglaterra. E onde está o jornalístico e quase "sagrado" direito de resposta da outra parte?

Quantos parágrafos mereceriam o encontro de Lula com embaixadores, e a liderança nas pesquisas tanto no primeiro quanto no segundo turnos, independentemente de sua filiação partidária? Bem, como não se trata de "furo", cinco, no máximo sete. Bem, uns três podem resolver o problema. O editor que concedeu 15 parágrafos à festa de Serra dedicou apenas dois aos petistas em artigo de 27 de agosto, "Cúpula petista comemora resultado de pesquisa." Quinze a dois. Estranho, não é?

(*) Aluno do 2? ano de Jornalismo do Unasp