EXAME NACIONAL DE CURSOS
Victor Gentilli
O destino do Provão parecia ter preocupado a imprensa. Com a chegada do novo governo, os jornais falaram do seu fim, das mudanças, das novidades. O ministro da Educação Cristovam Buarque nomeou uma comissão, ainda no início do ano, para estudar o Exame Nacional de Cursos e o sistema de avaliação do ensino superior e propor mudanças. E deu um prazo para esta comissão entregar os trabalhos. Com data marcada: 27 de agosto.
Pela maneira como a data vinha sendo anunciada, inclusive nos materiais de imprensa do Inep, parecia que as mudanças ? ou ao menos o teor dos estudos da comissão ? seriam tornadas públicas nesse dia. Pois na quinta-feira, 28 de agosto, os jornais não trouxeram uma única linha a esse respeito. Nem nos dias seguintes. O sítio do Inep abria, claro, com destaque para o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que foi aplicado no domingo (31/8), mas também não fazia referências ao resultado da comissão.
Só Veja deu uma notinha, na seção Holofote, intitulada "Atenção, ministro". O texto informa que a nota individual dos alunos e o ranking das escolas ? que a revista considera virtudes do Provão ? vão acabar, conforme um especialista que teve acesso ao documento.
O silêncio da imprensa preocupa porque confirma a desatenção geral da mídia.
Enquanto marqueteiros conseguem espaço em jornais para vender seus peixes ? matérias sobre o incremento do investimento em marketing aparecem nos jornais, empurradas por boas assessorias e vendendo lobistas ?, o noticiário sobre o destino do Provão, na sua semana decisiva, é praticamente nulo.
As instituições privadas gastam mais em marketing, informa matéria da Folha de S.Paulo ("Faculdade vê na mídia solução contra a crise", de Luis Renato Strauss, 31/8/03, pág. B 5). Como se houvesse necessidade de convencer os alunos e seus pais de que o ensino superior é fundamental na formação do jovem. A própria matéria informa, com dados antigos, que a inadimplência nas escolas está em torno de 30%. Ora, ninguém deixa de pagar mensalidade escolar por falta de estímulos mercadológicos. E não há marketing que consiga arrumar dinheiro para quem não tem.