DIRET?RIO ACAD?MICO
PROVÃO SEM IMAGEM
Antônio Brasil
Imagine, nos dias de hoje, preparar um texto jornalístico ou mesmo uma prova de avaliação de final de curso de Jornalismo sem computador.
Impossível?
Infelizmente, não, para os alunos do curso de Jornalismo que, mais uma vez, enfrentarão, com boa ou má vontade, as imposições do próximo Provão 2001. Não se discute mais a importância de uma avaliação, mas se discutem, sim, o conteúdo, a forma, a elaboração, a implantação e, principalmente, os recursos necessários para uma avaliação "justa e realista".
Uma das poucas unanimidades consensuais entre todos os participantes do Seminário sobre o Provão, promovido pelo Inep em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, de 25 a 26 de abril, é que praticamente todas as escolas de Comunicação e Jornalismo já oferecem aos alunos recursos tecnológicos mínimos para elaboração de textos em computador. Praticamente todas as escolas têm esses recursos tecnológicos elementares ? mas não os organizadores do Provão! Um paradoxo, considerando-se as diversas exigências das comissões de avaliação que freqüentam as escolas de Comunicação.
Mas, com exceção dos computadores, é sempre muito difícil reconhecer a verdadeira utilidade de outras tecnologias específicas da área audiovisual. Recursos sofisticados e onerosos fazem parte de projetos pedagógicos pouco definidos no setor telejornalístico. Universidades com muitos ou poucos recursos fazem a alegria dos vendedores de equipamentos de "última geração". A "tecnologia de ponta" impressiona os avaliadores mas, muitas vezes, é totalmente inapropriada para o ensino de Telejornalismo. Empregam-se técnicos especializados, mas afastam-se os alunos. Aumenta-se a qualidade com a repetição de modelos estabelecidos, e limita-se o "experimental".
Telejornalismo, para tristeza de tantos, ainda requer tecnologia específica. Não necessariamente milionária, mas sintonizada com a realidade de uma proposta, ainda mais no ensino. Até mesmo orientar a elaboração de um bom texto para telejornalismo requer um "casamento" com a imagem, uma forma de tecnologia específica do meio. Se não, incorremos no erro de continuar fazendo "rádio em frente às câmeras". Entre o texto e a imagem, devemos sempre escolher o "telejornalismo", ou a união criativa de duas linguagens interdependentes. Afinal, como já dizia o velho Aristóteles, "não pode haver palavra sem imagem".
Mas e o telejornalismo no Provão? Como se avaliam os conhecimentos de alunos de Telejornalismo sem os recursos mínimos de produção de imagens ou de textos casados com imagens, princípios básicos de um meio essencialmente audiovisual? Como se estabelece um parâmetro de avaliação baseado no conhecimento de termos técnicos isolados e fora de seus contextos específicos? Por que priorizar a definição de termos técnicos somente encontrados em grandes emissoras de grandes centros? Por que incluir perguntas do tipo "pega bobo", que revelam uma memória de vestibulando, mas não aferem o conhecimento prático de sua utilização no cotidiano da reportagem televisiva?
Por outro lado, impor o conhecimento de "estratégias de cobertura telejornalística" para eventos nacionais, como a "vacinação pública", mesmo em nível regional, é prerrogativa de chefes de reportagem, editores ou profissionais com longa experiência no meio. O Provão deveria propor questões que estimulem a troca de experiências particulares na recepção e na produção de telejornais. Estimular uma visão crítica do conteúdo telejornalístico, e não priorizar um "fazer de conta" ou uma teoria da prática!
É difícil convencer alunos de Jornalismo, tradicionalmente mais críticos e céticos, da importância de uma avaliação, quando eles são orientados a escrever sobre aquilo que não é feito ou pensado, nem em sala de aula ou nos laboratórios. Uma alternativa seria tentar decorar os manuais e nunca se aproximar de uma câmera ou de um televisor. Como se avalia uma experimentação em telejornalismo? Não é à toa que as nossas TVs universitárias só reproduzem, e de uma forma medíocre e pobre, o padrão estabelecido de televisão. Se já é difícil estimular a criatividade na universidade, imagine… avaliá-la.
Aprender a assistir e avaliar criticamente um telejornal pode ser tão importante como aprender a escrever um texto para TV. Afinal, infelizmente, poucos alunos têm um telejornal diário na universidade ou uma produção telejornalística regular, ou mesmo uma parceria com emissoras locais para conhecer o cotidiano da profissão. Ter laboratórios modernos e equipados, bem sabemos, não significa, necessariamente, um projeto participativo e objetivo visando um aprendizado televisivo eficiente. Muito pelo contrário! Quanto mais recursos modernos, mais alunos e menor participação. Uma equação cruel mas real na maioria das universidades.
O ensino de Telejornalismo se torna, muitas vezes, um exercício isolado de boa vontade de alguns professores numa realidade "cara e frustrante". "Brincar" de fazer telejornalismo é uma coisa nas universidades. Mas avaliar estudantes é outra. Ensinar e avaliar telejornalismo sem imagem me parece mais próximo de uma teoria musical sem música ou para surdos. Avaliação de telejornalismo sem recursos mínimos próprios do meio é um risco para a seriedade de uma proposta tão necessária para todos nós que ainda acreditamos na educação brasileira.
Afinal, a limitação de recursos não deveria justificar a falta de objetividade e, principalmente, a falta de criatividade.
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