Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Como no tempo das diligências

MEMÓRIAS DAS TREVAS, FASE 2

Luiz Egypto

Na edição de sábado, 20 de janeiro de 2001, a Folha de S.Paulo publicou um comentário sob o título "Desafeto de ACM lança biografia", a respeito do livro Memórias das Trevas, do jornalista João Carlos Teixeira Gomes, que chegara às livrarias dois dias antes.

O autor implicou com a qualificação de "desafeto". "Eu não sou desafeto de ACM nem sou profissional do anti-carlismo", afirmou, um mês depois, ao programa Observatório da Imprensa na TV (20/2/01). Ao ler a matéria, sua reação foi escrever à Folha e argumentar que seu livro "fundamenta-se na exposição serena e documentada de fatos, jamais nos arroubos emocionais de um ‘desafeto’".

"Eu mandei um e-mail para o Otavio Frias Filho [diretor de redação da Folha] (…). A Folha de S.Paulo, que disse que eu era um desafeto de ACM e eu pedi que reparasse essa grave incorreção, não publicou a carta nunca."

A carta foi finalmente publicada na segunda-feira de carnaval (26/2/01), no Painel do Leitor da Folha [veja Aspas abaixo]. Pelo tempo decorrido entre a transmissão e a recepção da mensagem, das duas, uma: ou o missivista utilizou-se de um servidor de e-mails movido a lenha ou, definitivamente, o bom e velho correio voltou ao tempo das diligências.

ASPAS

"Memória das Trevas", copyright Painel do Leitor, Folha de S.Paulo, 26/2/01

‘Creio não ter sido adequado o título ‘Desafeto de ACM lança biografia’, publicado na Folha, em recente reportagem alusiva ao meu livro ‘Memórias das Trevas’. Não sou um ‘desafeto’ do sr. Antonio Carlos, mas, sim, um jornalista de convicções democráticas, autor de um livro dirigido à consciência ética e política dos brasileiros, relacionando os métodos violentos que marcam a trajetória pública do senador. De 1969 a 1975, como prefeito e governador biônico, tentou ele destruir o jornal do qual eu era redator-chefe e lançar-me na cadeia, numa época em que jornalistas presos eram torturados ou mortos pela repressão armada. Iniciava então um longo processo de perseguições e vinditas contra órgãos de imprensa e profissionais que não se submetiam aos seus interesses, numa crônica de retaliações odiosas, que se estende por quase quarenta anos. Político liberticida, todo o amplo noticiário atual da mídia confirma a veracidade e a extrema atualidade do meu livro, pois coloca novamente o senador como o foco irradiador de tensões e conflitos que nunca deixou de ser, em benefício dos seus projetos pessoais de dominação e mando. É uma figura arcaica na vida pública nacional, que tem obtido êxito às custas da intimidação e da chantagem política, tal como os fatos revelados nesses últimos dias reafirmam. A moralidade, em suas mãos, é apenas um ardil usado, em proveito próprio, para confundir a opinião pública. Baseado numa experiência pessoal traumática, meu livro pretende ser sobretudo um exemplo de resistência jornalística e uma advertência democrática. Fundamenta-se na exposição serena e documentada de fatos, jamais nos arroubos emocionais de um ‘desafeto’.’ João Carlos Teixeira Gomes (Rio de Janeiro, RJ)

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