TRANSGRESSÕES
Victor Gentilli
O Enecom (Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação) reuniu cerca de 2.300 estudantes de Comunicação no campus da Universidade Católica de Brasília, neste agosto. O tradicional evento realiza oficinas, debates, discussões, tudo o que é normal num saudável encontro de jovens universitários. Tradicional, no caso, significa que este foi o 25?, a décima edição organizada pela Executiva Nacional de Estudantes de Comunicação.
O Enecom nunca foi nem pretendeu ser um evento midiático. Claro que durante a ditadura, em suas primeiras edições, a cobertura jornalística era importante na luta pelas liberdades. Ponto.
Neste ano, um grupo de 300 estudantes promoveu um festival de maconha, emulando eventos similares dos países da Europa nórdica, com o nome de "Cannabis Cup". A novidade foi a estratégia. Tudo foi feito de forma particular ? não confundir com segredo. Os preparativos foram todos articulados eletronicamente.
A "Cannabis Cup" não tinha nada a ver com o Enecom.
De repente, surgem cartazes e se realiza abertamente, inclusive com a produção de um vídeo de 13 minutos, um alegre festival de maconha. De diversos locais chegam os juízes e passam a experimentar e julgar. Havia várias categorias: prensada, pernambucana, baiana, o melhor enrolado, o maior, o mais bem feito etc.
Era um espetáculo midiático, mas a mídia não sabia. Apenas uma repórter do iG cobriu o fato e centrou o foco na espetacularização do evento.
Como professor, para mim não é novidade o espírito aberto e transgressor que sempre marcou o estudante de comunicação. Mas a reaparição na mídia me provocou um certo desconforto. Primeiro, porque não há nada de novo nisso, senão a realização do evento ? um feito paralelo, realizado por pessoas desvinculadas da organização oficial do encontro. Confesso meu desprazer em ver a sociedade reencontrar-se com o estudante transgressor numa situação pontual, certamente identificável com o dia-a-dia mas tornado público como espetáculo pela primeira vez neste Festival.
Leia também