RADIODIFUSÃO
Hamilton Octavio de Souza (*)
A comunicação de massa, sob a hegemonia do modelo neoliberal globalizante, constitui-se hoje na maior ameaça à soberania nacional, à democracia e ao processo de transformações para retirar o Brasil da crise econômica, social, política e ética.
Há muito tempo os meios de comunicação vêm sendo utilizados pelas elites dominantes para impor seus valores, desde a redução do papel do Estado ? e todos os postulados do Consenso de Washington ? até o consumismo supérfluo e contraditório com as condições gerais do país.
Há muito tempo, as culturas regionais são bombardeadas pelos padrões estéticos e sociais do modo de vida dos centros emissores, especialmente dos Estados Unidos ? o que tem causado a destruição das mais diferentes manifestações na música, nas artes, na culinária, no vestuário e no folclore.
Os medidores de audiência, que proporcionam os indicadores do lucro das empresas de comunicação, contribuem para a pasteurização e a padronização do que há de pior no rádio e na televisão, em detrimento de uma programação voltada para a promoção e a diversidade cultural.
Os processos eleitorais no Brasil têm sido distorcidos porque as principais redes nacionais e regionais de comunicação estão nas mãos ou são aliadas dos políticos conservadores, que usam os cofres públicos e o tráfico de influências para manter os veículos sob total controle.
No episódio dos atentados de Nova York e Washington e da atual guerra declarada pelos Estados Unidos, os principais meios de comunicação (jornais, revistas, emissoras de rádio e televisão) adotaram a linha editorial subserviente aos grupos de comunicação dominados pelos Estados Unidos, que, por sua vez, se entregaram ao oficialismo do governo Bush.
Os meios de comunicação do Brasil, assim como o governo FHC, abriram mão de uma postura soberana diante do conflito, não explicitaram até agora que os nossos sentimentos diferem do governo norte-americano e os nossos interesses econômicos e políticos ? em relação ao mundo árabe e aos muçulmanos ? não têm nada a ver com os interesses dos Estados Unidos.
O novo projeto de radiodifusão lançado pelo ministro Pimenta da Veiga afronta a inteligência nacional, pois abre a comunicação de massa ao capital estrangeiro e permite a concentração sem limites de veículos nas mãos dos grupos mais poderosos.
É preciso, urgentemente, lutar pela democratização dos meios de comunicação, pela diversidade de opiniões, pela estimulação da cultura ? pois o totalitarismo da mídia tem sido o grande instrumento devastador dos valores que formam a nossa nacionalidade.
(*) Professor do Departamento de Jornalismo da PUC-SP e diretor da da Associação dos Professores da PUC-SP (Apropuc). Artigo originalmente publicado no boletim PUC Viva, da Apropuc