MÍDIA PARANAENSE
Alexandre Teixeira (*)
Pela terceira vez consecutiva, o edital de licitação para a contratação de empresas de publicidade pelo governo Roberto Requião (PMDB) foi cancelado pela Justiça. Todas as ações foram impetradas pelo advogado José Cid Campelo Filho, ex-secretário de Governo da gestão Jaime Lerner (PFL).
As ações têm represado recursos da ordem de 43 milhões de reais, deixando à míngua os veículos de comunicação do Paraná. Mesmo sem dinheiro para investir em comunicação, o governador Requião nunca teve tanto espaço na mídia como atualmente, porque vai contra tudo e contra todos, num trabalho de desmanche da gestão anterior.
** Requião vai encampar pedágios.
** Requião acaba com contratos da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná).
** Requião diz que governo anterior queria vender Copel (Companhia de Energia Elétrica do Paraná) a amigos.
** Requião acusa ex-diretores do Banestado de terem usado o banco para lavagem de dinheiro.
Estas foram algumas das manchetes dos jornais nos primeiros meses de governo. O discurso apocalíptico não precisou das tradicionais verbas publicitárias para ganhar páginas e mais páginas nos veículos. Era o que o povo queria ouvir e os jornais precisavam para garantir mais tiragem.
Passados seis meses de governo, o discurso eleitoreiro perdeu força e as cobranças começaram a chegar. A maioria dos veículos passa por grave crise financeira.
A Rede Paranaense de Comunicação, o maior grupo de comunicação do Paraná (TV Paranaense, afiliada da Rede Globo, jornais Gazeta do Povo e Jornal de Londrina, Rádio 98 FM e portal TudoParaná) comprou a parte que a Rede Globo detinha em suas emissoras e precisa quitar cerca de 70 milhões de reais com a família Marinho até o fim do ano.
Imprensa dependente
O Grupo Paulo Pimentel (rádios, jornais e televisão SBT) passou por dificuldades. Segundo o mercado comenta, as dívidas com bancos são vultosas e o principal credor é o Bradesco. Pimentel, um dos grandes financiadores e apoiadores da campanha de Requião, recebeu como presente a direção da Copel. Apesar de fazer os anúncios da companhia em seus veículos, fato que nos próximos dias deverá ser alvo de nova ação do grupo de Lerner, a grande tacada de Pimentel é conseguir transferir do Banco Itaú para o Bradesco as operações bancárias da Copel ? volume que deve ultrapassar a casa de 1 bilhão de reais/ano. Existe consulta no Tribunal de Contas do Estado sobre essa possibilidade. O Ministério Público acompanha de perto a movimentação.
A CNT, do deputado José Carlos Martinez (PTB-PR), também tem problemas: é adversário de Requião, a quem debita sua derrota para governador na era Collor, quando criou a fraude eleitoral conhecida como "Ferreirinha" ? desde aquela época, 12 anos atrás, parada nos tribunais superiores de Brasília. A CNT vive agora de programas regionais, a maioria deles comandados por políticos locais, e do aluguel de seu horário a programas de leilão de jóias.
A família Petrelli ? Mário, sócio de Jorge Bornhausen, e o filho Leonardo ? é dona de rádio e televisão afiliada da Rede Record. Tenta uma aproximação com Requião, mas sabe das dificuldades que tem pela frente. Em vez de jornalismo crítico, adota um trabalho oficialesco: agradar para não brigar.
O ex-senador José Eduardo de Andrade Vieira, do grupo Folha de Londrina, passou a trabalhar com Requião para bater em Lerner, a quem credita as dificuldades financeiras de seu grupo. A cada nova semana surge uma notícia de que a RBS estaria em negociações para comprar o grupo e, finalmente, colocar um pé no Paraná.
O banqueiro Joel Malucelli, da Rede Bandeirantes em Curitiba, divide a atenção de seu braço de comunicação com uma empreiteira, usinas hidroelétricas e o banco. Desfruta de proximidade muito grande com o governador, tanto que nos próximos dias deve viajar com Requião para os Estados Unidos.
Marcos Formiguieri, da Gazeta do Paraná, foi o homem que mais bateu no governo Jaime Lerner, e se aliou a Requião desde o início. Conseguiu emplacar o irmão como diretor da Imprensa Oficial do estado.
Requião ri da situação. Seu secretário de Comunicação, o empreiteiro Ayrton Pissetti, não consegue colocar o bloco na rua. Pissetti, homem responsável pela arrecadação financeira da campanha junto às empreiteiras do estado, sabe que seu futuro é incerto. Se não fizer o que o governador quer pode ser exonerado por incompetência, o que tiraria dos ombros de Requião um verdadeiro "arquivo vivo".
Enquanto o mundo gira, Requião se torna um homem globalizado. Colocou a TV Educativa do Paraná atuando dos Estados Unidos ao extremo sul do Chile. Para isso paga quase 600 mil reais por mês para ter o direito de uso de um satélite internacional.
Uma imprensa dependente financeiramente das verbas públicas é algo comum em nossos dias. Dias nos quais o AI-5 político da ditadura militar se transformou no AI-5 financeiro da ditadura econômica.
(*) Jornalista