ELEIÇÕES 2002
"Imprensa privilegia Serra, diz Ciro Gomes", copyright Comunique-se, 3/6/02
"?A cobertura jornalística da sucessão presidencial, limitada a quatro pré-candidatos, mantém um excessivo foco nas candidaturas de Luís Inácio Lula da Silva e José Serra. É evidente o privilégio ao candidato do governo e à oposição escolhida para perder?. Essa é a conclusão do site oficial de Ciro Gomes, candidato à Presidência da República pelo PPS.
Segundo o site, os dois têm, juntos, 70% do espaço nos jornais Folha de S. Paulo, Estadão, O Globo e Jornal do Brasil (Lula teria 31,43% e Serra, 40,09%). Pesquisa realizada pelo site entre os dias 29/10/01 e 19/05/02, diz que Ciro Gomes ocupou 15,37%, enquanto Anthony Garotinho (PSB) ficou com 13,10%.
O texto publicado no site diz ainda que os quatro diários ?praticamente sepultaram? o noticiário sobre o envolvimento de Ricardo Sérgio na cobrança de propinas no processo de privatização da Vale do Rio Doce.
A cobertura em torno de Lula e Serra teria aumentado do dia 13/05 a 19/05. ?Dos 48 mil cm2 adicionados nesse período, 42,5% dos espaços foram ocupados pelo candidato governista, enquanto Lula ficou com 35,4%. No jornal Folha de São Paulo, esse índice chegou a 52,6% para Serra?.
No site oficial há uma tabela com a centimetragem e o percentual dos espaços que a imprensa vem dedicando aos quatro candidatos."
JORNALISMO & ESCÂNDALO
"Anatomia do escândalo", copyright Jornal do Brasil, 5/06/02
"A dúvida cruel, com toda certeza, não assola poucas almas nestes tempos de exaltação aos dossiês: por que o escândalo rende mais audiência, entusiasma opiniões e mobiliza mais posições, do que o debate racional de idéias fundado em argumentos lógicos e objetivos?
Exatamente por ser uma dessas almas tomadas pela dúvida exposta acima foi que o ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, teve recentemente sua atenção despertada numa livraria de Madri pela versão espanhola do livro O escândalo político, do inglês John B. Thompson. Professor de Cambridge, autor de livros sobre comunicação, Thompson é estudioso das relações entre o público e o privado na política.
E nós temos exatamente mesmo o quê a ver com as leituras do chanceler? Até porque sua condição de intelectual já torna banal seu interesse por livros. Pois essa mesma condição, cuja característica principal é o exercício permanente da dúvida, é que atormentava Lafer, ultimamente em busca de uma explicação a respeito dos rumos que tomou a política brasileira: menos ideológica, mais escandalosa.
Primeira conclusão exposta pelo professor Thompson, na Inglaterra, desde sempre, um espectador do escândalo como instrumento político: à medida que o fator ideológico vai perdendo peso na política, cresce a noção de que o governante – sobre o qual não se discute mais de que lado está – deve à sociedade uma reputação acima de qualquer suspeita. Isso no que tange a competência profissional e a integridade pessoal.
Daí a importância que adquirem os dossiês – propulsores de escândalos – como arma do embate político. Pois se o combate não tem mais a ideologia como o centro da questão e sim a reputação deste ou daquele, essa mesma reputação passa a ser o patrimônio de cada um e o ponto a ser atingido pelo adversário, cujo objetivo é minar-lhe a confiança junto ao eleitorado. Quanto menor a confiança depositada em determinado personagem, mais reduzido fica seu capital político.
Transpondo o raciocínio para a realidade brasileira, não é por outra razão que os atuais candidatos à Presidência da República impõem tão fortemente o critério ético para a escolha dos vices em suas chapas. Este, no entanto, é só um exemplo entre centenas que presenciamos nos últimos tempos.
Voltando ao livro do cientista inglês que tanto contribuiu para organizar as idéias do também professor Celso Lafer a respeito do Brasil. Thompson chega a uma segunda conclusão sobre o papel do escândalo na política: como fatos que resultam em denúncias e exposição da vida alheia reúnem dois fatores que agradam em cheio ao gosto da opinião pública – entretenimento e investigação -, eles atendem perfeitamente bem aos objetivos dos meios de comunicação.
São eles que formam o público – substituindo as praças dos primórdios da civilização -, e, guiando-se pela lógica da concorrência, precisam atender tanto a perspectiva do dono do veículo como a expectativa daqueles que neles escrevem. Com entretenimento de um lado e investigação de outro, temos perfeitamente atendidas as duas vertentes e combinados os elementos que compõem o escândalo.
Thompson ainda tipifica os escândalos em três: sexuais, econômico-financeiros e de poder. Os exemplos citados no livro são todos ocorridos na Inglaterra ou Estados Unidos (casos Profumo, Monica Lewinsky, Watergate, Irã-contras), mas, para nós, não é difícil lembrar de episódios que se encaixam em cada uma das categorias, com menos ênfase na sexual, cujo impacto é quase nulo em nossa sociedade.
Os escândalos econômico-financeiros são os mais comuns. Poder-se-ia dizer que se trata de ”clássicos”. Já os exclusivamente de poder são mais raros. Recentemente tivemos um desse tipo, na violação do painel de votação do Senado. Em jogo, estava o poder da informação – assim como em Watergate – e seus protagonistas afundaram-se sem entender por que mesmo era tão grave a infração que cometeram. Crime grave, portanto, não é mais só matar e roubar.
Faltou-lhes a percepção de que, no mundo onde a reputação é patrimônio, qualquer fissura na confiabilidade do homem público tem efeito devastador na batalha dos simbolismos.
O professor inglês reuniu também várias teorias que circulam a respeito do tema. Uma delas reza que não há conseqüência maior nos escândalos, por efêmeros; outra sustenta que eles funcionam como uma expiação coletiva de culpas e pecados e, que, portanto, teriam função benéfica para a sociedade; há os que defendem a tese de que os efeitos são maléficos, pois os escândalos degradam o espaço público na medida que substituem o debate racional; uma quarta teoria diz que são forma de os meios de comunicação contestarem as informação oficiais, uma espécie de combate jornalístico permanente aos governos.
Na conclusão, Thompson diz que cada um desses raciocínios tem um pouco de verdade. Mas, na opinião dele, o que explica mesmo o escândalo, como fenômeno político e social, é a visibilidade que propicia a mídia, a permanência de provas ou evidências asseguradas pela tecnologia e o fato de poder e reputação serem, cada vez mais, seres unos e indivisíveis."