Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se

VIAGEM AO MUNDO DOS TALEBAN

"Lourival Sant?Anna relata experiências em livro", copyright Comunique-se, 14/6/02

"Quem gosta de jornalismo investigativo está consciente dos riscos que corre. Correspondente de guerra também. Lourival Sant?Anna, 35 anos, escreveu sobre a experiência de risco da cobertura da guerra no Afeganistão, bombardeado pelos Estados Unidos depois dos atentados de 11 de setembro. Em ?Viagem ao mundo dos Taleban?, o jornalista do Estado de S. Paulo conta o outro lado da história. No livro, ele tenta descobrir uma justificativa para os ataques ao World Trade Center.

Quatro horas depois do atentado, Sant?Anna, desconfiado de que Osama Bin Laden estivesse envolvido no caso, já estava no aeroporto a caminho do Paquistão. Mal chegou a Islamabad e conheceu o afegão Iqbal Afridi (foto abaixo), que lhe serviu de guia. E foi um guia muito valioso. Foi ele quem ajudou o jornalista a entrar no Afeganistão. ?Afridi era muito articulado e cheio de contatos. Pertencia a uma família muito influente?, conta o repórter, que se tornou amigo do muçulmano

Sat?Anna foi o segundo jornalista a conseguir entrar no Afeganistão – a primeira foi Yvonne Ridley, do The Sunday Express of London, presa durante 10 dias naquele país. Ele conta que só não teve problemas com o Taleban porque, ao invés de ser encontrado pelos militantes, ele quem os procurou. Estar acompanhado de alguém que eles conheciam também foi seguro. ?Seis dias antes de os EUA começaram a bombardear o país, eu consegui atravessar a fronteira. Precisava ouvir o lado deles. Foi muito interessante, porque foram pegos de surpresa. Fui direto à sede do governo dos Taleban. Quando me viram, não fizeram nada. Concederam entrevistas. Os afegãos têm um lado de hospitalidade muito interessante?. Para evitar problemas maiores, ele deixou a barba crescer e passou a se vestir como um afegão.

Por questão de segurança, passou apenas algumas horas no Afeganistão. Mas foi um tempo bem aproveitado. Conseguiu que os militantes e governantes expusessem o que sentiam e falassem sobre os atentados. Mais até que a rede de TV americana CNN, que enviou oito equipes, cada uma com quatro profissionais. ?Eles andavam em comboios e com escolta. Quando achavam alguma coisa interessante, paravam e entrevistavam as pessoas. Eu estava sozinho, vestido de afegão e buscando entender por que fizeram aquilo?, compara.

?Viagem ao mundo dos Taleban? conta os bastidores das reportagens, as angústias e alegrias de Sant?Anna, conclusões, reflexões sobre o Islamismo e traz discussões entre professores das escolas religiosas.

O livro será lançado em Goiânia, sua terra natal, nesta sexta-feira (14/06), às 19:30h, na Livraria Siciliano, no Shopping Flamboyant.

Sobre Lourival Sant?Anna

Repórter especial do Estadão, Sant?Anna cobre Internacional e Brasil. Passou quase todo o tempo de carreira no jornal, que, segundo ele, ?dá as maiores oportunidades na área internacional?. Consciente dos perigos e limites da profissão, o jornalista diz que procura fazer seu trabalho dentro do que acha seguro para sua vida. ?Quando fui para o Afeganistão, minha mulher estava grávida do segundo filho. Sabia que não poderia ficar longe por muito tempo. Fiz a cobertura da forma mais segura possível. Apesar de amar o que faço, a minha vida é mais importante do que uma reportagem?.

O primeiro contato com o Jornalismo foi como repórter da Folha de S. Paulo, em 1989. No ano seguinte, já estava no Estadão, na editoria Internacional. Deixou o jornal em 1993 para trabalhar na BBC de Londres. De lá, fazia reportagens para o Estado. Quando retornou ao Brasil, em 1995, foi convidado para ser editorialista do Estadão. Passou para a reportagem especial. Mas um convite para trabalhar na CNN, em Atlanta (EUA), balançou seu coração. Ficou lá trabalhando como editor do site em português durante três meses. ?Pedi que o Estadão me aceitasse de volta. Adoro reportagem especial, não quero mudar mais de área?, declara."

 

JORNALISTAS NO SETOR PÚBLICO

"Quantos profissionais atuam na área pública?", copyright Comunique-se, 13/6/02

"Está lançado o desafio. De minha parte, arrisco um chute, daqueles que podem tanto resultar numa jogada de mestre, com gol de placa, ou num disparo bisonho, empurrando a bola não em direção ao gol, mas às arquibancadas, com direito a vaias e xingamentos. Penso haver hoje, no País, pelo menos 15 mil jornalistas atuando na área pública, sob os mais diferentes regimes de contratação: dos estáveis aos celetistas, passando pelos cargos de confiança e free-lancers. É, sem dúvida, um contingente considerável.

Vamos aos cálculos (hipotéticos). Temos hoje, no Brasil, 5.484 prefeituras, 26 governos estaduais, o Distrito Federal e o Governo Federal. Dentro do chamado Poder Executivo, há múltiplas autarquias, dezenas de estatais, secretarias de áreas estratégicas como Educação, Saúde, Transportes, Segurança Pública, Comunicação, Indústria e Comércio etc., e os ministérios – os vários ministérios.

Dá para imaginar quantos jornalistas atuam no Palácio dos Bandeirantes, por exemplo? E se nesse exercício incluirmos as diversas secretárias do governo Alckmin, para quanto sobe esse número? E se a soma abranger também as empresas do Governo, como Sabesp, Nossa Caixa Nosso Banco, Metrô, CPTM etc?

Um pelo outro, dos 26 estados mais o Distrito Federal, podemos calcular uma média de 30 jornalistas por governo estadual. Teríamos aí algo como 800 profissionais.

Não ficam atrás as prefeituras, particularmente a das grandes cidades, que, em geral, tem uma Secretaria de Comunicação, para atender o prefeito, e ramificações pelas principais secretarias e autarquias municipais. Quantas cidades temos com mais de 300 mil habitantes, que já comportam estruturas mais sofisticadas? Seguramente perto de 50. São municípios que empregam, na média, digamos assim, pelo menos 10 profissionais. Somando esses 500 com mais aqueles 800, já temos 1.300 colegas.

Temos ainda outras 5.434 prefeituras e não é nenhum absurdo calcularmos mais 1 jornalista para cada duas prefeituras, o que perfaz 2.717 profissionais atuando na área municipal. Estão com a calculadora na mão? No meu cálculo já batemos em 4.017 profissionais.

No Governo Federal, há a estrutura da presidência, 17 ministérios, o comando das forças armadas e todas as autarquias e empresas penduradas nesta estrutura. Temos, para ficar em apenas alguns exemplos, gigantes como Petrobras, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e Correios. Se estimarmos uma média de 20 profissionais por unidade (não se pode esquecer que são estruturas responsáveis tanto por assessoria de imprensa, quanto por publicações, que demandam redações e contratações terceirizadas), pensando em 26 unidades, entre a presidência, os ministérios e as empresas, chegamos a 520 profissionais, elevando o número para 4.537 colegas.

Saindo do Poder Executivo para o Legislativo, nossa matemática de chute fica ainda mais interessante. Temos de contabilizar o Congresso Nacional (Câmara e Senado), as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais. Que contas podemos aqui fazer, considerando as estruturas que cada uma dessas casas tem? Difícil, mas como palpite é palpite, avançamos. Falar numa equipe de 30 profissionais no Senado e outros 30 na Câmara não é de todo improvável, assim como 5 jornalistas por Assembléia Legislativa, na média, também não é. Temos portanto perto de 200 jornalistas. Se considerarmos também aqui, na esfera municipal, um jornalista para cada duas prefeituras, batemos em 2.714 colegas. Somando portanto esses 2.914 aos 4.537 da soma anterior, chegamos a 7.451.

E as lideranças dos partidos nas casas legislativas? Muitas delas tem sua própria equipe de imprensa. E não dá, em hipótese alguma, para ignorar os parlamentares que tem sua própria assessoria, sejam senadores, deputados federais, deputados estaduais, e até mesmo vereadores (o que, convenhamos, é um pouco mais raro, mas ocorre). Dos milhares de parlamentares que freqüentam as casas legislativas Brasil afora (50 mil, talvez; não consegui checar esse número), podemos arriscar um jornalista para cada 10 parlamentares, o que totalizaria mais 5 mil colegas atuando no serviço público (vale aqui também cargos como chefia de gabinete e também em desvio de função, o que é muito comum na vida pública), elevando para 12.451 empregos diretos.

Fechada a soma? Não, de forma alguma. A República é integrada pelos Três Poderes e aqui não citamos ainda o Judiciário, possivelmente o que menos emprega, mas emprega. Temos aí o STF, o STJ, o TSE, o TST, os vários tribunais regionais com respectivos fóruns etc. Aí, para não amolar mais a paciência dos pacientes leitores vamos ficar em 1 mil profissionais, em todo o País, número que talvez seja exagerado, mas compensado por eventual subestimação de outras áreas.

Arredondando, portanto, chegamos a 13.500 jornalistas atuando na administração direta, nos Três Poderes.

Há, pelo Brasil todo, inúmeros contratos de terceirização, particularmente pelas empresas, o que eleva significativamente esse número. Eu arrisco, aqui, somar pelo menos mais 1.500 profissionais, sem medo de errar (só a Petrobras, com seus vários contratos de terceirização em todo o Brasil, garante hoje o emprego de dezenas de profissionais nas suas várias unidades regionais).

Resultado: batemos nos 15 mil profissionais, número que (mesmo sem qualquer embasamento científico) é ao menos uma referência. O desafio fica lançado para quem tiver melhores condições de apurar e depurar esses números.

Uma boa oportunidade será durante a realização do 2? Congresso Brasileiro de Comunicação no Serviço Público, evento programado para os dias 14 e 15 de agosto de 2002, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, numa iniciativa da Mega Brasil Comunicação. Ali são esperados cerca de 600 profissionais que atuam no serviço público, de todas as áreas da comunicação, incluindo relações públicas, marketing, recursos humanos e outras. Quem quiser maiores informações basta entrar no site da empresa, que é www.megabrasil.com.br ou pelos telefones (11) 5573-3627/7573"