CRISE NA CÁSPER
“Professores da Facasper pedem demissão”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 1/09/03
“Dezessete coordenadores e professores de Jornalismo e Rádio e TV da Faculdade Cásper Líbero vão entregar um pedir demissão coletiva na noite desta segunda-feira (01/09). O coordenador de Jornalismo, Mario Vitor Santos, contou ao Comunique-se que, em virtude da decisão do Conselho Técnico Administrativo de não recontratar o professor Marco Antonio Araújo, ele e outros professores ficaram sem apoio político.
Os demissionários estão dedicando o dia a se despedir das turmas. ?A nossa decisão e nossa luta são muito mais valiosas do que qualquer aula?, comentou Santos.
A assessoria de imprensa da Fundação Cásper Líbero, mantenedora da Facasper, disse que a direção só deverá se manifestar depois de apresentado o pedido de demissão.
Entre os demissionários estão Sidnei Resende, Paulo Nassar, Mario Andrada e Silva e Sergio Rizzo.
Leia a nota enviada à imprensa:
?Coordenadores e Professores de Jornalismo e Rádio e TV da Cásper Líbero pedem demissão coletiva
São aulo, 1o. de setembro de 2003
Diante das seguidas agressões sofridas por parte de uma diretoria que se pauta pelo autoritarismo, pela perseguição mesquinha, pela tacanhez da perspectiva pedagógica, pelo atraso político, pela incompetência administrativa, pelo desrespeito contumaz ao regimento da faculdade, aos compromissos assumidos publicamente e à própria palavra empenhada, os professores de Jornalismo e de Rádio e TV da Faculdade Cásper Líbero, abaixo-assinados, anunciam por meio desta a sua demissão em caráter irrevogável.
Lamentam que um curso considerado padrão de referência no país seja desmantelado pelo primitivismo intelectual e pela ausência de compostura ética de uma clique encastelada no poder, que se faz sustentar pelo sólido e clássico conluio entre as forças da mediocridade, do acomodamento, da pusilanimidade e da bajulação.
Vendo fecharem-se os canais de diálogo com as demais coordenadorias e instâncias da instituição -o que inviabiliza qualquer mudança no desastroso quadro que se configurou-, os abaixo-assinados contam com a compreensão dos alunos da Faculdade, de quem receberam generoso apoio e o constante alento na sua luta, ao fazer pública a percepção de que não mais consideram compatível com a própria integridade pessoal o título de professores da Faculdade Cásper Líbero.?
Adriana Garcia
André Rodrigues
Domingos Fraga
Eduardo Marini
Everton Constant
Jayme Brener
José Américo Dias
Luciana Bistane
Luiz Costa
Marcelo Coelho
Mario Andrada e Silva
Mario Vitor Santos
Mauricio Stycer
Paulo Nassar
Rosane Baptista
Sergio Rizzo
Sidnei Basile”
UNIVERSIDADE & MÍDIA
“Faculdade vê na mídia solução contra crise”, copyright Folha de S. Paulo, 31/08/03
“Crescimento recorde do número de universidades privadas no país (45% em dois anos), ociosidade das vagas (31% das matrículas) e inadimplência (30% dos estudantes não pagam as mensalidades). Esses fatores estão levando as instituições de ensino superior a elevar expressivamente o investimento no marketing, a fim de atrair estudantes e sobreviver à concorrência. Somente em 2002 foram aplicados R$ 420 milhões em propaganda, o que representa um aumento de investimento de 39% em três anos.
?Até há dez anos, era praticamente nula a aplicação de recursos das universidades em marketing. Há sete anos, a média era de aproximadamente 3% do orçamento das instituições. Hoje, a aplicação média em mídia é de 6,8% do faturamento?, afirma Ryon Braga, presidente da Hoper Marketing Educacional, empresa responsável pela pesquisa.
A expectativa, segundo Braga, é que os investimentos em publicidade cresçam mais 26% nos próximos dois anos. Os resultados são referentes a uma consulta com mais de cem instituições de ensino superior privadas do país.
Para Gabriel Mario Rodrigues, presidente do Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Ensino Superior no Estado de São Paulo), esse é o resultado de uma maior competitividade do mercado das instituições de ensino superior. Segundo ele, a nova LDB (Lei de Diretrizes e Bases, de 1996) flexibilizou a abertura de cursos, o que permitiu uma corrida das instituições para atender uma demanda reprimida dos estudantes.
Um dos reflexos da preocupação setor, segundo Rodrigues, foi a realização neste ano do 1? Congresso Brasileiro de Marketing e Comunicação para Instituições de Ensino, realizado pelo entidade. O evento reuniu 500 representantes de instituições de ensino.
De outubro de 2001 até julho deste ano, o n? de instituições privadas aumentou 45% -544 foram autorizadas a funcionar. Em 2001, havia 1.208 universidades privadas. Neste ano, já são 1.752 estabelecimentos -em 1995, havia 684 particulares. As universidades privadas oferecem cerca de 70% dos cursos do ensino superior do país.
Mas o setor dá sinais de que chegou ao seu limite de crescimento. Em 2001, segundo dados do Censo do Ensino Superior, o ensino superior privado ofertou 1.151.944 vagas, para um total de 2.036.136 inscritos em seu processo seletivo. Do total, somente 792.096 alunos efetivaram a matrícula. Ou seja, 31% das vagas estão ociosas.
Segundo Braga e Rodrigues, a competição deve se estabilizar em dois anos, quando começará o processo de falências, de fusões e de cooperações.
O presidente do Semesp diz que, nesse primeiro momento, após a nova LDB, foram atendidas as demandas da classe B, que não estava incorporada a esse campo de ensino.
Para ele, o novo desafio do setor é atender as necessidades das classes C e D, que podem pagar em média R$ 267 ao mês. Atualmente, segundo o Semesp, as mensalidades são em geral de R$ 400 a R$ 600 para os cursos de humanas, de R$ 600 a R$ 900 para os de exatas e de R$ 600 a R$ 3.000 para os cursos de saúde. ?O setor deve pensar em novas metodologias de ensino e formas de bancar os estudantes com bolsas, entre outras ações, a fim de atingir essa meta.?
Custo
O custo de focalizar o marketing em uma área de mercado não é baixo. A Faculdade Impacta de Tecnologia, por exemplo, gastou em seu planejamento estratégico cerca de R$ 3 milhões, antes de abrir as portas.
Segundo Ryon Hoper, presidente da Hoper Marketing Educacional, no caso da Unip (Universidade Paulista, maior universidade privada do país), o gasto em publicidade é de R$ 30 milhões do seu faturamento de R$ 600 milhões.
A Universidade Anhembi Morumbi destina entre 6% e 7% do orçamento para desenvolver a sua marca.”
APURAÇÃO & PRUDÊNCIA
“O dever de aferir antes de divulgar”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 28/08/03
“O XIS DA QUESTÃO – Quaisquer que sejam as limitações do meio em que trabalhe, o jornalista tem o dever sócio-profissional de, previamente, se assegurar de que as informações a divulgar merecem fé. Ou seja: não deve divulgar sem aferir. No imediatismo do rádio, isso é mais difícil. Mas, porque, aí, a notícia corre mais velozmente, os cuidados deveriam ser dobrados.
1. No rádio, riscos da velocidade
Por coincidência, às vésperas do Mês do Rádio, um amigo, também jornalista, me procurou para criticar a facilidade com que os programas jornalísticos radiofônicos divulgam, sem aferir, declarações e notícias que depois geram desmentidos. ?Quem não ouve mais tarde o desmentido?, argumentou ele, ?guarda como verdadeira uma informação falsa, e dela faz uso e referência, por dar crédito à emissora que a divulgou?. Para sustentar a crítica, citou exemplos de situações em que ele próprio, na qualidade de ouvinte, fora vítima do logro.
Gosto de rádio. Acompanho, com regularidade, alguns programas jornalísticos. Mas nunca havia atentado para essa fragilidade do jornalismo radiofônico. Fragilidade, aliás, que decorre do aproveitamento (por vezes pouco cuidadoso) de uma virtude, a imbatível rapidez com que o rádio se aproxima da notícia e a consegue difundir. É esse o mais importante diferencial do rádio, em relação aos outros meios de difusão jornalística.
Mas o meu amigo tem razão nas queixas e nos temores. Não se pode aceitar que, a pretexto de tirar vantagem de particularidades tecnológicas e culturais do meio que lhe dá suporte, o jornalismo coloque em segundo plano o zelo pela garantia de veracidade das informações que divulga.
Acima de tudo, a sociedade espera que o relato jornalístico tenha a virtude da veracidade, para que possa ser acreditado. Nos acordos ou cumplicidades culturais em que se organiza a relação entre o jornalismo e a sociedade está, como coluna mestra, o pressuposto de que a notícia, por definição e natureza, é um relato veraz. E daí deriva o dever sócio-profissional de o jornalista, quaisquer que sejam as limitações do meio em que trabalhe, se assegurar, previamente, de que as informações a divulgar merecem fé. Daí, a obrigação técnica e deontológica da aferir antes de divulgar.
Sem isso, nem a profissão nem o processo têm sentido. Seja no velho jornal impresso, no rádio, na televisão ou na internet.
2. Multiplicação incontrolável
Quando decidi escrever sobre radiojornalismo, defrontei-me com a minha ignorância no assunto. De rádio e jornalismo radiofônico pouco mais sei além do aprendido na experiência de ouvinte. Por isso, chamei para conversar um outro amigo, o Andr&eeacute; Barbosa, este sim, especialista no assunto, com longo percurso profissional e acadêmico percorrido. Professor do Departamento de Rádo e Televisão da ECA/USP, está agora na reta final do seu doutorado. Portanto, com informações e argumentos na ponta da língua.
Da conversa, e com agradecimentos ao André Barbosa, aqui deixo um resumo da principal questão abordada.
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O rádio ainda é o principal gerador e multiplicador da notícia – André Barbosa está convicto disso. Tendo a concordar com ele, em especial no que se refere à extraordinária e incontrolável capacidade de universalizar a notícia, pela multiplicação. Isso se dá quer pela velha utilização da ?gillette-press?, que coloca no circuito radiofônico o noticiário do meio impresso, quer pela reprodução local dos noticiários das grandes redes de rádio. E aí está, na opinião convergente a que eu e André chegamos, o maior problema do radiojornalismo brasileiro.
De acordo com os números oficiais, existem no Brasil cerca de 3.400 emissoras de rádio. Por disposição legal, todas estão obrigadas a ocupar, no mínimo, 5% da programação com informação jornalística. E a maioria delas cumpre a lei reproduzindo noticiários das redes. Perde-se, assim, o objetivo que dá espírito à lei, que seria o de privilegiar a personalização do rádio local, com capacidade de gerar os próprios noticiários, em favor dos acontecimentos, conflitos e valores locais.
A lei está para ser mudada. Por iniciativa da deputada Jandira Feghali, do PCdoB do Rio de Janeiro, tramita na Câmara Federal um projeto que, se aprovado, estabelecerá em 15% a parcela mínima obrigatória de programação local, para conteúdos jornalísticos e culturais. Mas nada garante que a capacidade local de gerar notícias venha a crescer. O mais provável é que a vocação reprodutora de noticiários continue a se sobrepor ao dever de gerar notícias.
Não só em função dessa expectativa, mas já por causa do cenário atual, marcado pela reprodução local dos programas jornalísticos das emissoras cabeças de rede, é preciso zelar pela veracidade da informação jornalística na origem da notícia. Quando se multiplica, país além, uma informação falsa ou não comprovada, o que circula não é a notícia, mas a fraude da notícia.
E porque aí está, no dever da veracidade, a idéia central da coluna desta semana, encerro com a citação do espanhol José Maria Desandes, referência internacional nos estudos de legislação e ética da informação: ?A notícia tem de ter a qualidade da verdade, para não ser a corrupção da notícia?.”