CHINA
“A China e a internet”, copyright O Globo, 20/1/03
“O boletim de dezembro de 2002 da Anistia Internacional dá destaque à censura crescente que o governo chinês vem exercendo sobre a internet. Depois de um incêndio mal explicado num cibercafé de Pequim, em junho passado, que deixou um saldo de 25 mortos, foram fechados mais de 2400 cibercafés na cidade, por supostas questões de ?segurança”. Não chega a ser um número chocante num país onde há, dizem, 200 mil cibercafés ? mas é muito revelador. A rede está longe de ser uma favorita das autoridades chinesas, que têm baixado leis cada vez mais severas restringindo o seu uso, e adotam, sem subterfúgios, medidas como o bloqueio em massa de sites considerados ?subversivos” ? de ferramentas de busca a publicações estrangeiras, passando por domínios de hospedagem de websites e blogs.
Um desses domínios é o Blogspot, onde está pendurada a maioria dos blogs criados pelo Blogger.com ? inclusive o meu internETC. Comprovei isso pessoalmente. Embora pudesse escrever e publicar meus posts no Blogger.com, em Xangai não conseguia acesso ao blog propriamente dito. Nem a ele, nem a qualquer outro blog hospedado no blogspot. O curioso é que, como ? felizmente! ? não estamos acostumados à censura na rede, num primeiro momento achei que o Blogspot estava simplesmente fora do ar; afinal, outros sites carregavam rápido e bem. Muito rápido: o hotel tinha uma banda larga espertíssima, coisa não incomum na cidade que é, me informaram, uma das mais bem servidas da China em termos de internet. Explica-se: assim como Hong-Kong, Xangai é, essencialmente, uma cidade de negócios, um gigantesco entreposto comercial.
Só quando outros jornalistas que trabalhavam na mesma sala de imprensa começaram a encontrar dificuldades semelhantes é que juntamos os pontos ? de resto bem visíveis no diário em inglês que li durante toda a semana, o ?Shanghai Daily”, que apresenta ao leitor um mundo descomplicado, onde tudo está ordem, as autoridades são competentes e preocupam-se com o bem-estar da população.
Apesar dessa facilidade de conexão, o grande meio de informação do cidadão em Xangai continua sendo o dazibao, jornal mural exposto nas ruas, em vitrines tão onipresentes quanto as bicicletas, e lido de pé, como na foto acima, à esquerda. Computadores e eletrônicos em geral, ainda que Made in China , são caros até pelos padrões brasileiros ? o que efetivamente restringe o seu acesso às camadas mais favorecidas. Isso, contudo, não impede que a China seja o mercado internet com maior crescimento no mundo. Desde que foi implantada comercialmente no país em 1995, a rede já conquistou 50 milhões de usuários.
Para muitos chineses, o que ainda nos parece uma hipótese de trabalho ou cenário futurista é absolutamente real: seu primeiro (e em muitos casos, único) contato com a internet se dá através dos telefones celulares, que desempenham, além do óbvio papel de telefones, funções de email, agenda e PDA.
A censura oficial, porém, não faz distinções entre aparelhos. Segundo a Anistia Internacional, há pelo menos 33 prisioneiros de opinião na China neste momento, entre eles Huang Qi, engenheiro de sistemas que montou o primeiro website chinês sobre direitos humanos. De acordo com leis instituídas recentemente, esses prisioneiros podem ser até condenados à morte. É pouco provável que isso venha a acontecer, considerando-se o barulho universal que uma condenação assim geraria, e a sua repercussão negativa ? num momento em que, justamente, a China prepara-se para as Olimpíadas, e pretende mostrar ao mundo uma imagem positiva. A simples existência dessa ameaça, porém, fala por si só.”
PASQUIM
“Um ano de bom humor”, copyright Jornal do Brasil, 19/1/03
“O Pasquim, apontado por muitos como o jornal mais polêmico e bem-humorado do país, entrou no século 21 totalmente repaginado e agora comemora um ano de edições semanais com uma exposição no Palácio do Catete, no Museu da República. Depois de um hiato de 20 anos – o tablóide original circulou entre os anos de 1968 e 1982 – o jornal agora rebatizado de O Pasquim 21 voltou às bancas em março de 2002 com a missão de virar o principal meio de comunicação para novos e consagrados chargistas, jornalistas e analistas políticos.
Uma das diferenças mais marcantes em relação ao Pasquim antigo, além do formato e das cores (o antigo era tablóide em preto e branco e o atual é standard com páginas coloridas), é o momento político que o país vive. Numa época em que a censura tinha poder de vetar o que os jornalistas escreviam, O Pasquim foi a válvula de escape para grandes nomes do humor brasileiro, como Sérgio Cabral, Tarso de Castro, Millôr Fernandes, Jaguar, Ziraldo, Sérgio Augusto, Fortuna, Claudius Ceccon, Miguel Paiva, Paulo Francis, Luiz Carlos Maciel, Martha Alencar, Ivan Lessa e Henfil.
– O Pasquim original se beneficiou da restrição da liberdade de expressão que imperava no Brasil da ditadura militar. Ele era o veículo em que se canalizava o caudal de insatisfação de uma parcela da população. Hoje, vivemos em plena democracia e o jornal reflete isso. O nosso jornalismo é mais de análise do que de protesto. Agora fazemos parte da grande imprensa, mas ainda com salário de imprensa nanica – diz o bem-humorado cartunista Paulo Caruso, colaborador fiel.
O número de colaboradores, aliás, impressiona. Enquanto a redação abriga apenas 18 profissionais, a lista de agregados ultrapassa 200 nomes. A maior parte deles é de cartunistas, muitos dos quais ainda não são conhecidos do grande público.
– Recebo, em média, uns 150 cartuns toda a semana via internet, que é uma invenção fantástica. Os melhores desenhos a gente publica, os outros vão para a gaveta. É quase como promover um concurso por semana – compara Ziraldo, cujo cargo oficial é o de editor-superintendente da publicação, mas que prefere ser chamado de ?observador?.
– Agora sou um velhinho só olhando – diz, rindo.
O aniversário oficial da nova safra do Pasquim é no dia 11 de março, bem nomeio da exposição, que fica em cartaz do dia 23 deste mês até 23 de março (terças, quintas e sextas-feiras das 12h às 17h; quartas das 14h às 17h; e sábados, domingos e feriados das 14h às 18h, com entrada a R$ 5). A mostra terá 30 páginas ampliadas do jornal no tamanho de 1 x 1,5 m, além de uma série de desenhos originais de Ziraldo, Laerte, Zappa, Miguel Paiva, André Barroso e Nani, entre outros.
– A idéia é expor o nosso visual, bem diferente do que é feito por aí. Os pôsteres serão de capas e páginas que achamos importantes no conteúdo gráfico e ideológico do Pasquim – explica Zélio Alves Pinto, irmão de Ziraldo e editor-chefe do novo jornal.
Outras atrações prometidas, mas ainda com datas a serem agendadas e confirmadas, são shows musicais com os irmãos Caruso (o já citado Paulo com seu irmão, o também cartunista Chico) e uma série de palestras cujo tema será o papel do humor no jornalismo e na política.
– A gente ainda está fechado a programação, mas a maioria das atrações extras deve acontecer depois do carnaval, que é mais perto do nosso aniversário – diz Zélio Alves Pinto.
O Pasquim 21 é uma publicação semanal vendida nas bancas de jornal e atualmente tem uma tiragem de 60 mil exemplares por edição. A versão online pode ser visitada no endereço www.opasquim21.com.br.”
JORNALISMO CULTURAL
O papel do jornalismo cultural, copyright Comunique-se <www.comunique-se.com.br>, 20/1/03
“Há muito se vem discutindo o papel do jornalismo numa sociedade. Será que o jornalismo informa ou mostra a verdade?
No que diz respeito ao jornalismo cultural, como divulgador das identidades culturais, em sua maioria, ele apenas informa. Porque a verdade, muitas vezes, fica escondida atrás dos interesses financeiros. Vale lembrar que ganhar dinheiro não é proibido.
O que se discute é o papel do jornalismo como divulgador das verdadeiras culturas brasileiras. Será que o que vemos nos jornais é o reflexo das nossas culturas? Será que após 502 anos do ‘descobrimento’ – some-se a esse número a existência dos índios aqui na terra tupiniquim – a nossa cultura se restringe ao que a televisão nos mostra ou anda ditando por aí?
Hoje, o grande papel dos meios de comunicação tem sido o de criar uma cultura industrializada, aqual permanecerá até que o público se mostre fatigado. E aí ela inventa outra moda, causando um processo que se chama perda da memória social.
Vejam, por exemplo, as danças da bundinha, da garrafinha, dos tapinhas, os adornos do Marrocos, as micaretas e outras modas sazonais ditadas pela TV e que foram captadas pelo jornalismo e hoje estão em desuso.
Com o advento da Revolução Industrial criou-se o que hoje se chama de cultura de massa. Uma cultura que surge de noite e pela manhã vai embora. E nesse processo, sufoca as verdadeiras manifestações culturais.
Se se perguntar a alguém de alguma cidade paraibana, qual é a representação do artesanato local, decerto essa pessoa não saberia responder.
O problema não está nela saber ou não o que representa o artesanato local, mas está na falha do jornalismo como divulgador e conceituador das identidades culturais – nesse caso – paraibanas. Já que a cultura é fonte permanente de progresso e desenvolvimento.
Como se sabe, a cultura nasce da necessidade do homem em se adaptar à região e às condições em que ele vive, criando um conforto satisfatório. E isso nos leva à conclusão de que as culturas são evolutivas.
No entanto, essa evolução tem que se manter representadora dos seus traços primeiros. O vaqueiro sertanejo ao trocar as suas indumentárias de couro por outro tecido, estará enterrando uma cultura de séculos. E não é isso o que se deseja.
O papel do jornalismo cultural está em se discutir os atentados de grande barbárie que têm acometido as nossas manifestações culturais e de produzir na sociedade uma vacina para que este mal não cause a perda da memória cultural. E isso se dá a partir da percepção de identidade cultural e resistência que cada um venha a adquirir através da divulgação das nossas verdadeiras expressões culturais. [Jornalista especializado em Jornalismo Cultural, atualmente trabalha como diagramador do jornal Diário da Borborema, de Campina Grande (PB)]”
SCHRÖDER vs. IMPRENSA
“Schröder desafia jornal”, copyright Jornal do Brasil/The Independent, 20/1/03
“O chanceler alemão Gerhard Schröder vem tendo problemas com a imprensa. Depois de ganhar processo contra uma agência de notícias alemã, que anunciava que seu cabelo era tingido, agora ele passa por problemas com o jornal inglês Mail on Sunday que publicou artigos sobre possíveis problemas em seu casamento.
O editor do jornal, Peter Wright, parece fazer do caso uma disputa de poder entre a corte alemã e o jornal inglês. A justiça alemã proibiu o Mail on Sunday de repetir as alegações sobre o chefe de Estado.
Doris Schröder-Koepf, esposa do chanceler, teve de desmentir artigos do jornal e de uma revista alemã que anunciaram que o casal passava por uma crise matrimonial e que Schroeder ?vinha passando as noites em outro lugar?.
O chefe de Estado aunciou que se o jornal britânico descumprir as ordens da corte, terá de pagar uma quantia de 250 mil euros.
Mas um artigo no jornal comenta: ?Pelo que os melhores cérebros da lei puderam dizer, a corte alemã não tem direito de nos dizer o que nós podemos ou não podemos publicar?. Especialistas afirmam que a ordem vale para toda a Europa, copnsiderada como uma única jurisdição.
O deputado conservador britânico Sir Teddy Taylor disse estar chocado:
– Nós não pretendemos tomar lições do chanceler alemão ou de cortes alemães sobre liberdade de imprensa. É absolutamente constrangedor que uma corte de outro país europeu possa fazer um jornal inglês parar de publicar fatos que possam ser embaraçosos.”