Friday, 27 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Correio da Bahia

ACM SOB SUSPEITA

“ACM acusa oposição de trama para escamotear corrupção”, copyright Correio da Bahia, 16/02/03

“O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) reafirmou ontem que vem sendo vítima de uma campanha para tentar prejudicá-lo politicamente pelos candidatos derrotados no pleito de outubro e desviar a atenção da população dos crimes ao erário contidos nas supostas gravações.

?Todas as vezes que nós temos grandes vitórias na Bahia surge um fato qualquer que dão conhecimento ao público, mentindo e me atribuindo. Esse é caso do grampo, por exemplo. Ignoro inteiramente esse assunto e não conheço nada em relação a ele. Essa coisa é de derrotados, é o despeito?, afirmou o senador.

Indignado com as acusações que lhes são atribuídas pelo advogado Plácido Faria nas revistas semanais, ACM afirmou que ele certamente está a serviço de políticos da oposição que foram derrotados no pleito de outubro de 2002, a exemplo do corregedor geral da República, Waldir Pires, que disputou e perdeu a eleição para o Senado por uma diferença de 1,2 milhão de votos. ?Por isso transpira ódio e a derrota o torna suspeito para qualquer acusação?.

O senador baiano voltou a garantir que não tem ?nada a ver com esse assunto, nem com o doutor Plácido, nem com esses senhores que dizem que foram grampeados?. ACM disse que vai aguardar que apresentem as supostas provas. O senador não sabe as razões que levaram o advogado a fazer tais ilações. ?Evidentemente que quando um sujeito quer criar ou então se projetar, arranja todas as intrigas e todas as mentiras?, concluiu.

O senador está convencido de que tudo não passa de uma manobra espúria para evitar que os ilícitos relatados nas supostas transcrições sejam apurados, o que poderia levar alguns dos financiadores desta sórdida campanha a prestar contas ao Congresso e à Justiça.

Manobra de corruptos

Impossível acreditar em coincidência, que, de repente, as três principais revistas semanais do país decidiram mudar o foco da questão e abrir espaço para imaginários aspectos sórdidos de nenhum interesse público. Há por trás, certamente, uma orquestração, e alimentada por dinheiro, muito dinheiro, para fazer com que, o mais importante, que é o assalto ao erário, fique em segundo plano na questão dos supostos grampos telefônicos.

É claro que o grampo em si é grave, mas a apuração isenta da Polícia Federal certamente chegará à verdade. Mas é preciso ir a fundo nos crimes relatados nas supostas transcrições, na corrupção, no tráfico de influência, nas negociatas. E é certo que, isso feito, muitos que estão a financiar acusadores vão ter de se explicar perante o Congresso Nacional e a Justiça.

Ninguém ignora que o governo passado, por conta do inconformismo do senador Antonio Carlos Magalhães com a corrupção, por conta das inúmeras denúncias que apresentou – todas comprovadas -, o nomeou ?inimigo n?1?, e na campanha eleitoral deixou de lado qualquer pudor ético e promoveu um verdadeiro derrame de dinheiro para tentar derrotá-lo. Os baianos, no entanto, deram a resposta devida, elegendo ACM com uma votação histórica, sem igual. O corregedor geral, Waldir Pires, que transpira ódio, por exemplo, perdeu por uma diferença de 1,2 milhão de votos.

O fato é que, em nenhum momento, ao longo do ano passado, o governo federal mostrou interesse em apurar casos de corrupção que pudessem atingir políticos que formavam a sua base de apoio parlamentar. E são inúmeros os que foram denunciados às vésperas das eleições e são de conhecimento público. A começar pela ?compra? de deputados, que trocaram o PFL pelo PMDB por dinheiro e a promessa de cargos federais para os apadrinhados, os convênios espúrios com prefeituras, com objetivos puramente eleitoreiros, e as negociatas em favor de empreiteiras financiadoras de campanhas.

A torpe artimanha de, a custa de dinheiro, tentar tirar o foco do que é de interesse público, o roubo do erário, não dará certo. Ao final, quando a verdade surgir, os corruptos serão chamados a prestar contas de seus atos e pagarão, também, o preço pela leviandade.”

“Advogada diz que ACM é responsável por grampos”, copyright Folha de S. Paulo, 16/02/03

“A ex-amiga de Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), a advogada baiana Adriana Barreto, 30, acusou o senador de ser o responsável pelos grampos em seu telefone e em linhas de pessoas ligadas a ela. Em entrevista à revista ?Veja?, Adriana diz ter mantido ?um romance de alguns anos com o senador? e que, após o rompimento, teria sofrido ?todo o tipo de perseguição e intimidação?.

Adriana, o seu atual marido, o advogado Plácido Faria, os familiares e amigos dele, além de desafetos políticos de ACM, tiveram seus telefones grampeados ilegalmente, a pedido do governo da Bahia, entre 2001 e 2002.

Plácido Faria disse à revista que, após iniciar o relacionamento com Adriana, no final de 2001, ACM transformou a vida dos dois em um ?inferno?. ?Confesso que cheguei a pensar em fazer uma besteira?, afirmou o advogado.

De acordo com a revista ?Época?, ACM teria avisado Adriana que iria mandar grampear os telefones do marido dela. A advogada teria afirmado: ?Ele [ACM? me disse que ia grampear e que isso seria para o meu próprio bem?.

O pai de Plácido, César Faria, a ex-mulher do advogado, Márcia Reis, e seu ex-sócio, Manoel Cerqueira, também foram grampeados. Além deles, os deputados federais Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) e Nelson Pellegrino (PT-BA) e o ex-deputado federal Benito Gama (PMDB-BA) também tiveram instaladas em suas linhas de telefone escutas ilegais.

Perseguição

Adriana contou detalhes da suposta perseguição de ACM contra ela e seu marido. Um carro da Polícia Militar da Bahia chegou a ficar parado na porteira da fazenda de Plácido, no interior do Estado, quando a advogada foi passar um feriado, no ano passado, no local.

Os dois contaram também que foram filmados e fotografados a mando de ACM quando frequentavam lugares públicos, como restaurantes e shoppings de Salvador. Uma empregada de Adriana teria dado informações para o senador sobre a rotina do casal em troca de dinheiro. Clientes de Plácido teriam deixado seu escritório por estarem sendo intimidados.

Na semana passada, uma lista levada ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pelo presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, Carlos Alberto Cintra, mostrou que 232 telefones foram grampeados ilegalmente a pedido de autoridades baianas.

Os grampos começaram com um pedido à Justiça da delegada Angela Sá Labanca, entre outubro e novembro de 2001, de quebra de sigilo telefônico de 86 pessoas que estariam envolvidas na investigação de uma quadrilha de sequestradores baianos.

Em entrevista à Folha na semana passada, o senador negou o envolvimento com os grampos telefônicos. ?Não estou envolvido nesse assunto e não tenho mais nada o que dizer além do que já disse. Agora, aguardo, com ansiedade, as investigações policiais, tanto da Polícia Federal quanto do Estado, para demonstrar que têm muitos levianos que deveriam estar realmente fora da política, à medida que, sem provas, acusam pessoas que nada têm com o assunto?. Ontem, o senador baiano não foi localizado.

Durante a entrevista, o senador chegou a afirmar que acredita que Adriana é uma pessoa ?correta?.

O presidente do PT, José Genoino, afirmou ontem, em Campinas, que o caso dos grampos telefônicos é ?grave? e que confia nas apurações da Justiça Federal e do Ministério Público sobre o fato. Ele não descartou a necessidade de realizar uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito).”