THE WASHINGTON POST
No dia 3/4/03 o Washington Post publicou matéria de capa sobre a soldado americana Jessica Lynch, que havia sido capturada por forças inimigas durante a invasão do Iraque. Segundo a reportagem, que depois foi amplamente repercutida em outros veículos, a jovem teria lutado bravamente contra seus captores, disparando contra eles até que a munição acabasse e partindo para o combate corporal, quando teria sido esfaqueada. Como exemplo de patriotismo, o caso ajudou a gerar na população americana sentimento favorável à ação do governo de George W. Bush contra Saddam Hussein. No dia 17/6/03, no entanto, o Post publicou nova reportagem desmentindo a resistência que Jessica teria oferecido.
Para o ombudsman do jornal, Michael Getler, em coluna de 29/6/03, o problema nessa história, é claro, não é a soldado, mas sim o papel da imprensa. E a matéria de correção feita pelo diário não o deixou satisfeito. Nela se admite serem falsos alguns "relatos iniciais, incluindo os publicados pelo Post, de funcionários anônimos". Isso não deixa claro o fato de que foi o Post o jornal que primeiro espalhou a história. Após o resgate de Jessica, assim que chegou ao hospital militar americano em Landstuhl, na Alemanha, o coronel responsável David Rubenstein veio a público informar que ela não tinha ferimentos de bala ou faca. Apesar de ser a única fonte identificada próxima do caso, ele rapidamente sumiu da imprensa, o que deixa impressão de que não havia interesse em que a verdade fosse trazida à tona. Pelo menos não naquele momento.
Como aponta Getler, muitas outras questões não ficaram esclarecidas com o desmentido do Post, que só saiu em junho, muito após o fim do conflito no Iraque. "Como essas fontes anônimas explicam as informações falsas e a demora em corrigi-las? O governo quis manipular a imprensa? O próprio Post esteve relutante em retomar esta história?"