THE WASHINGTON POST
O ombudsman do Washington Post [16/11/03], Michael Getler, recebeu e-mail de um leitor chamando atenção para o contraste que duas reportagens do diário revelam existir na região da capital americana. Uma era sobre um técnico de um time de futebol americano de um colégio que, em 23 anos de trabalho ali, teve 20 atletas feridos a tiro e quatro assassinados. O último morto foi Devin Fowlkes, de 16 anos, que caiu em um tiroteio com que nada tinha a ver no fim de outubro. A outra mostrava que em Washington há mais pessoas com pós-graduação que "apenas" graduadas.
"Em Anacostia, se você está no time de futebol da escola, pode esperar que todo ano um colega atleta vai levar um tiro. Se você mora no Noroeste e é ?só? bacharel, seu grande problema vai ser se relacionar com a vizinhança", comenta o leitor, que questiona se não seria o caso de o Post retomar todo o problema que envolve histórias como a de Fowlkes. Getler menciona que outras pessoas acham que a violência cotidiana, de repercussão mais local, tem tido pouco espaço nas páginas do diário. Em contrapartida, casos como o dos atiradores que causaram pavor em toda a cidade e agora enfrentam o tribunal têm ampla cobertura.
Um funcionário municipal que escreve com freqüência ao ombudsman nota que em Washington há 100 mil pessoas abaixo da linha de pobreza do governo federal, 60 mil viciados, 16 mil sem-teto e uma das maiores taxas de analfabetismo dos EUA. Getler responde que o Post faz muitas boas reportagens sobre esses temas. "Mas quantas são suficientes numa cidade de contrastes ?estupefacientes? como o que o primeiro leitor apontou? Os crimes aparentemente rotineiros têm mais importância do que os jornais normalmente lhe atribuem? (?) Os jornalistas de hoje vivem dentro ou ao menos perto das áreas repletas de criminalidade? Podem os repórteres captar a força dessas histórias sem passar muito tempo nessas regiões? Dá para imaginar um colégio em que, em 23 anos, 20 alunos foram baleados?"