VOICE OF AMERICA
Robert Reilly, recém-nomeado diretor do Voice of America (VOA) ? emissora de rádio financiada pelo governo dos EUA ?, é visto com cautela pelos funcionários da rádio. Em reunião com sua equipe, relatada por Frank Ahrens [Washington Post, 10/11/01], Reilly anunciou que o Congresso aprovou a liberação de 20 milhões de dólares adicionais às transmissoras da VOA em Djibouti e no Egito como parte do esforço de guerra (já que ela não tem transmissoras no Afeganistão). E emendou: "Eu também me encontrei com os funcionários [do Departamento de Estado] e perguntei como poderíamos apresentar e promover melhor as políticas americanas". Depois que o diretor deixou a sala, um membro da equipe confidenciou: todos ali preferiam que "ele não tivesse dito isto". Para Ahrens, a observação poderia ser entendida da seguinte forma: "Valeu, chefe. Todo mundo pensa que somos um instrumento do governo, mesmo".
A grande questão, enfrentada pela rádio é que papel deve ter o jornalismo patrocinado pelo governo. A equipe de reportagem, ciente de que é vista como porta-voz de Bush, esforça-se para mostrar independência.
Mas há quem julgue incômoda a autonomia do veículo. Muitos o acusam de simpatizar com o Talibã após levar ao ar a entrevista com seu líder, o mulá Omar. A matéria irritou o Departamento de Estado, que parece acreditar, como tantos outros, que inimigos dos EUA não deveriam ter qualquer presença em um veículo financiado pelo governo. William Safire, colunista do New York Times, condena a rádio por "nunca sujar as mãos". Em tempos de guerra, insiste, o jornalismo tem o dever patriótico de ajudar a causa.
Recentemente, chegou ao Senado americano um projeto de lei para a criação da Radio Free Afeganistão, em resposta às críticas de que a VOA seja "a voz do Talibã". Na prática, isto significa que muitos acreditam que a rádio não esteja cumprindo seu trabalho imparcialmente. Embora Reilly oficialmente tenha saudado a iniciativa, sua equipe vê o projeto como mais um ataque à sua credibilidade.
Fontes muçulmanas
Na Nigéria, a Voice of America já foi condenada por ser pró-muçulmana e anticristã. O país, cuja população é 50% islâmica e 40% cristã, enfrenta graves e constantes tumultos por causa das diferenças religiosas. Após confrontos violentos no começo de setembro, que duraram uma semana e mataram 500 pessoas, o poder legislativo regional acusou a VOA de inflamar o conflito difundindo propaganda pró-muçulmana. É a primeira vez que um governo critica oficialmente a rádio americana.
Informa Jonathan V. Last [The Daily Standard, 12/11/01] que em 26/10 o congressista Dave Weldon enviou carta ao diretor Reilly pedindo que investigue o serviço da VOA na Nigéria e que se certifique de que "eles não estejam inadvertidamente aumentando a tensão naquele país".
O serviço em idioma hauçá transmite nove horas e meia de programação por semana no país. O conteúdo editorial é produzido por uma equipe de Washington. Um detalhe importante: todos os produtores são muçulmanos. Por isso, mesmo acusando a rádio de negar emprego a candidatos cristãos, muitos acreditam que, ainda que os contratem, a sutil tendência pró-muçulmana persistirá.
"Estamos cientes dos problemas", declarou Reilly, confirmando reformas no serviço. Em agosto, contratou o jornalista nigeriano ? e cristão ? Sunday Dare para chefiar a transmissão em hauçá. Segundo Dare, "havia uma tendência a falar mais com fontes muçulmanas" porque os próprios jornalistas eram desta religião e "reclamavam que o risco de falar com cristãos era muito alto". O novo chefe organizou um registro de fontes de ambas as religiões para que os editores possam balancear as matérias.