REVELAÇÕES POR E-MAIL
Fabio Leon Moreira (*)
A seguinte mensagem, intitulada "Acorda, Brasil", foi enviada via e-mail por uma amiga jornalista:
"Alguém que tenha depositado R$ 100 na poupança num banco no dia 1? de julho de 1994 (data de lançamento do Plano Real) teria hoje R$ 374. Se esse mesmo alguém tivesse sacado R$ 100 no cheque especial, na mesma data, teria hoje uma dívida de R$ 139.259 no mesmo banco. Ou seja, com R$ 100 do cheque especial você fica devendo 9 carros populares e, com o da poupança, consegue comprar apenas 4 pneus. Não é à toa que o Bradesco teve quase R$ 2.bilhões de lucro líquido somente no 1? semestre, seguido de perto de bancos como o Itaú, Santander etc."
Mensagens de conteúdo "revelador" são resultado de um comportamento cada vez mais rotineiro na internet. Há um aumento vertiginoso de internautas fissurados por toda a sorte de teorias conspiratórias ou apenas curiosos por um belo fuxico produzindo e plantando textos fantasiosos. Não se sabe como ou quem começa o processo, mas todos os dias circula pela rede uma quantidade ilimitada de boatos sem questionamento sobre a veracidade das informações.
As "fontes" são sempre conhecidos que trabalham para alguém da empresa "X" e cuja reputação é inquestionável, mas não agüentou a tortura de manter um segredo qualquer por muito tempo e dividiu isso com um amigo, que dividiu com mais um e por aí vai. Para muitos é apenas uma inocente diversão, uma subcultura que gosta de se intoxicar com histórias fantásticas e intrigantes.
A informação acima não foi veiculada pela mídia. Simplesmente foi incluída numa corrente e propagada por milhares de computadores domésticos. Elaborou-se uma fórmula matemática exótica para justificar os lucros exorbitantes de uma parte do setor financeiro, mas não foram indicados os passos que possibilitaram tal raciocínio. Alguém simplesmente elaborou um argumento quase convincente e pronto.
Mas há casos em que os detalhes são tão bem construídos que a pulga se aloja atrás da orelha. Um exemplo aconteceu no mês passado. E-mail de um dito professor de Cinema da UFRJ tratava dos bastidores do programa Big Brother Brasil. Seu conteúdo revelava artimanhas da escolha de participantes, que nem fofoqueiros profissionais como Nelson Rubens e Leão Lobo se propuseram a investigar. Se tais afirmações são verdadeiras é outra história. Um trecho:
"A Rede Globo está sendo formalmente acusada de propaganda enganosa ao indicar o portal Globo.com como única forma de se candidatar ao sorteio para participar do programa. Como não houve sorteio algum, a Globo utilizou de má-fé para alavancar acessos e cadastros, pois a pessoa interessada em participar era obrigada a criar endereço de e-mail no portal (…) Além disso, todos os escolhidos para o programa já haviam sido selecionados (entre modelos e atores) em novembro de 2001, portanto muito antes das inscrições serem abertas."
Em muitos casos pode acontecer o contrário. Os e-mails migram do território da pura especulação para observações reais da opinião pública. Há pouco um e-mail bombástico me foi enviado. Desta vez, comentado reportagem do Correio Braziliense de 22/12/01:
"O filho do presidente do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDF), Bruno (aquele marginalzinho que pôs fogo no índio pataxó), fez concurso público para o cargo de segurança (12 vagas disponíveis; salário de R$ 1.300, nível exigido, 2? grau) e ficou em 65? lugar. Depois do resultado do concurso, o número de vagas aumentou para 70! Após 12 dias no cargo ele foi promovido a dentista do TJDF, para ganhar R$ 6.600. O presidente do TJDF (Edmundo Minervino) ainda teve a cara-de-pau de afirmar na entrevista: ?Não houve ato ilegal nenhum?."
E-mails sobre teorias conspiratórias, como se vê, são mais divertidos do que a realidade. Aos que bradam pela proibição dessas correntes, entretanto, vale lembrar que controle configura atentado à democracia.
(*) Jornalista