Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Criação de ilusões

PESQUISAS

Chico Bruno (*)

Os institutos de pesquisa são os grandes "vilões" das eleições brasileiras. De dois em dois anos, mal terminam as apurações dos votos em todo o país e recomeça a cantilena contra as pesquisas de opinião. Esse fenômeno acontece porque jornais e revistas divulgam parcialmente os resultados das pesquisas, satisfazendo a grande maioria dos políticos brasileiros que somente se interessa pela leitura do placar eleitoral, que para eles tem duas funções, para eles mágicas: uma, a divulgação maciça no horário gratuito eleitoral como indutor do voto; outra, fundamental na visão deles, servir de chamariz para a arrecadação de recursos para a campanha. Já as emissoras de rádio e televisão talvez divulguem apenas o placar porque dispõem de pouco tempo em seus informativos jornalísticos. A mídia impressa, que poderia fazer uma reflexão maior sobre os resultados das pesquisas de opinião, não a faz.

Na semana passada os jornais divulgaram pesquisas de intenção de voto para presidente, a partir da perguntinha carimbada: se as eleições para presidente fossem hoje em quem o(a) Sr.(a) votaria? Os resultados foram divulgados pela quase totalidade da imprensa e muita conversa foi jogada fora. Cientistas políticos e marqueteiros foram ouvidos e opinaram. Como sempre, opinaram em cima do que os jornais e revistas publicaram, haja vista que os dois patrocinadores da pesquisa, as confederações nacionais dos Transportes e da Indústria, só divulgam a parte que lhes interessa dos resultados. Portanto, a análise é incorreta, pois para ser correta é preciso que os analistas tenham acesso à totalidade da pesquisa. E aí os leitores comem gato por lebre. É sempre assim, antes das eleições as pesquisas são de grande valia para os políticos, depois das eleições são utilizadas para justificar a maioria das derrotas. E a imprensa serve aos dois propósitos.

A imprensa é estimuladora da chiadeira dos políticos derrotados porque divulga sempre e somente o placar das pesquisas. Aliás, a maioria dos políticos só se preocupa com o placar pelas razões expostas acima, desprezando o restante da pesquisa. E ainda passa por cima de recomendações importantes que os resultados das pesquisas informam. Quando quebram a cara não se penitenciam, culpam as pesquisas, aproveitando a falha da imprensa.

Um bom exemplo é a melhor maneira para clarear o que estamos afirmando. Na eleição de 2000 na Bahia, o apoio de ACM era considerado fator importante para a vitória nas urnas ? a imprensa baiana divulgava essa versão diariamente. Por esse motivo o apoio foi disputado aos tapas por muitos candidatos. Enquanto os políticos baianos, induzidos pela imprensa, assim pensavam, o que não era divulgado nas pesquisas os contrariava. As pesquisas indicavam aos candidatos à reeleição que a maior razão para o voto era o desempenho na administração municipal. Os avaliados positivamente fizeram o discurso da continuidade administrativa e se elegeram. Os mal-avaliados foram reprovados e mandados de volta para casa. Basta consultar o sítio do TSE <www.tse.org.br> na internet para comprovar esta afirmação. Aliás, a imprensa cria mitos, como o de que ACM manda na Bahia, o que não é verdade: basta ver que nas grandes cidades baianas quem manda é o PT.

O incorreto é a divulgação parcial das pesquisas pela imprensa, pois criam ilusões. Quem não se lembra que um ano antes das eleições de 94 e 98 Lula era considerado o ganhador e acabou nas duas dando FHC? Hoje volta a acontecer o mesmo. A Veja desta semana tem como matéria de capa o novo Lula, o Lula light, que segundo a matéria tem tudo para ganhar nesta quarta tentativa. O que a revista e a totalidade da imprensa não informam é que em todas as pesquisas há erros "amostrais" e "não-amostrais", que precisam ser levados em consideração; que há outras perguntas que precisam ser cruzadas com outras para que se faça uma avaliação correta do caminho que a pesquisa indica.

A imprensa não divulgou, no caso particular da eleição de 2000, no Rio de Janeiro, que todos os institutos de pesquisa demonstravam claramente que o candidato Conde vinha despencando e que as pesquisas indicavam uma virada nas urnas. Qualquer profissional de consultoria política (não estamos falando daqueles que se dedicam apenas a produzir e dirigir programas eleitorais) saberia discernir, por exemplo, que as pesquisas indicavam que Garotinho faria mal a Conde, seu apoio portanto deveria se restringir à declaração de voto e a um muito obrigado do Conde. Isso porque a neutralidade dos brizolistas e petistas era um fator importante para a vitória de Conde. Essa análise na época não foi feita pela imprensa, que se preocupou apenas em divulgar o placar e especular em cima dele.

Estamos novamente começando a trilhar o mesmo caminho. Por isso, seria de muita valia a publicação pela imprensa da íntegra das pesquisas. A divulgação parcial das pesquisas prejudica os institutos, a quem as divulga e a quem as utiliza como ferramenta de trabalho.

(*) Jornalista

    
    
                     

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