Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Crítica açodada e fora de foco

PEGADINHA DO ANO

Edson Rossi (*)

Este Observatório perdeu boa chance de transformar a publicação da reportagem de Silvio Santos em Contigo! num debate proveitoso. Pior. Deslizou numa missiva de seu comandante-em-chefe, Alberto Dines. Ao confundir crítica com acórdãos, Dines produziria apenas um texto mais. Mas atacou uma repórter, uma reportagem e uma revista da qual estou interinamente diretor de Redação. Só uma coisa explica tamanha miopia: o senhor Dines não leu Contigo!, pois se o tivesse feito ficaria em duas alternativas:

a) a entrevista de Silvio Santos deveria ou não ter sido publicada?

b) se sim, de que maneira?

Fora isso, é blablablá. E dos mais rasos. O problema é
que parte dos jornalistas que teve de suitar de alguma maneira essa
história ? não tenho espaço para discutir se
deveriam ou não dar essas suítes ? nem sequer se aproximou
das 12 páginas publicadas pela revista. E este Observatório
embarcou na tosca toada dos “não li, mas não gostei”,
mais preocupado em atacar o veículo e, por tabela, seus profissionais
do que em discutir. Erra até mesmo a cidade americana onde
estava havia semanas o empresário-apresentador (Orlando,
não Miami). Fosse essa desatenção apenas isso,
ficaríamos aqui. Mostra, porém, um mal maior: o preconceito.
Dines escreve que no “Episódio Contigo! Sílvio
Santos aproveitou-se de um conjunto de falhas
[grifo meu] para vender a sua rentrée:

** uma profissional preparada apenas para cobrir o mundo virtual das telenovelas;

** uma revista de fofocas televisivas, preocupada com a promoção do seu 40? aniversário;

** um setor que está à beira da falência e agarra-se a qualquer patacoada para fingir que está vivo.”

Vamos lá, um a um para manter o didatismo:

1. A profissional atacada trouxe material que passou, inclusive, pela direção editorial da Abril. Dizer que ela é preparada apenas para cobrir o mundo das celebridades é mentiroso (a trajetória dela não é essa) e leviano (mesmo que tivesse limitado sua vida profissional a essa área não se trata de sinônimo para jornalista menor). Seria capaz de propor uma simples equação aritmética sobre juros e não encontrar acerto, mas meu revanchismo se reduz ao futebol.

2. A preocupação editorial de Contigo!, onde estou há 20 dias, se limita a acreditar que fazer jornalismo bem-feito é a única maneira de acumular aniversários. Uma visita ao 5? andar da Editora Abril ? e não apenas ao terraço ? ajudaria a dissipar dúvidas. Para fazer a reportagem e a suíte de Silvio Santos reunimos uma redatora-chefe, três editores, três repórteres e mandamos duas vezes o fotógrafo até Orlando, num prazo de uma semana. Esse tipo de investimento mostra com que grandeza tratamos o tema. Se ele não é do agrado de Dines, não se trata de problema de Contigo! ou do jornalismo ? fazemos isso em respeito ao leitor da revista.

3. se existe um segmento editorial que não está à beira da falência é o de jornalismo de celebridades. Novamente, quer o senhor Dines goste ou não.

O que mais me incomodou, e muito, foi ver bufo parido em preconceito. Tenho 17 anos de jornalismo ? cinco como professor de jornalismo ?, e passagens por esportes, geral, política, internacional, economia, variedades, revistas infanto-juvenil e feminina. Um ziguezague que me fez ver a tempo que cobrir celebridades não é algo menor. Aliás, costumava ouvir isso em tanques de “focas”. Não de alguém com a incensada trajetória de Dines.

(*) Diretor de redação de Contigo!

 

Vê-se que o editor interino está querendo conquistar o cargo às custas de uma bravata. A pegadinha de Silvio Santos, veiculada por Contigo!, foi a matéria mais criticada pela mídia brasileira nos últimos tempos. Mereceu uma nota oficial de página inteira publicada pelo SBT nas seções nobres de todos os jornais brasileiros no fim de semana passada. Foi capa de revistas, assunto de cronistas e articulistas, repercutiu até na Folha de S.Paulo do domingo seguinte. O comentário deste observador foi publicado dois dias depois.

O interino não teve tempo de ler, nem coragem para contraditar , o “sabão” público que a empresa do entrevistado deu na matéria de Contigo!. Se o fizesse perderia o emprego. E o pior: jamais conseguiria trabalhar no SBT sob a batuta do Pinocchio apelidado de Silvio Santos. Preferiu bater neste modesto jornalista e neste modesto site onde certamente jamais será admitido por lhe faltarem substâncias essenciais para o exercício do jornalismo ? caráter. Ou decência. Ou hombridade. (A.D.)

P.S. ? O interino deveria agradecer a este observador o emprego que está conseguindo. Em meados dos anos 80 a revista Contigo (então sem exclamação) ia ser fechada pela direção da Abril. Numa reunião da diretoria da divisão de revistas da Abril o então diretor-editorial adjunto salvou-a do fechamento com uma projeto de reformulação para tirá-la da condição de revista de telenovelas e convertê-la numa revista verdadeiramente popular. Salvou-se. Mas deu este vexame quase um quarto de século depois.