Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Crítica da CNN à cobertura eleitoral

ECOS DO VEXAME

Em reportagem para a CNN, três experts em jornalismo criticaram a cobertura televisiva na noite eleitoral da corrida para a presidência dos Estados Unidos, dizendo que foi um "desastre noticioso" e culpando as emissoras por criar um clima político de "rancor e amargura" [veja remissões abaixo].

A reportagem afirmou que as declarações unânimes das emissoras de que George W. Bush havia vencido na noite eleitoral "criou uma impressão prematura" de que Bush, candidato republicano, derrotou Al Gore, do Partido Democrata, na corrida crucial pelos votos da Flórida. "Tal caracterização se estendeu ao desafio pós-eleitoral", disse a reportagem da CNN, transmitida em 2 de fevereiro.

A emissora produziu a reportagem para estudar sua performance na noite eleitoral. Os autores chamaram a cobertura da CNN de um "desastre", mas criticaram mais os canais noticiosos de uma forma geral.

Segundo Daniel J. Wakin [The News York Times, 3/2/01], entre outras recomendações a reportagem aconselhava o fim do uso de boca-de-urna para projetar vencedores, e de pesquisas parciais antecipar os vencedores. Sugeriu, também, que a CNN não fizesse projeções sobre um estado cujas urnas ainda estivessem abertas; e que fossem reavaliados os métodos utilizados pelo Voter News Service, consórcio que provê dados eleitorais montado por emissoras de TV e a Associated Press.

Os autores do estudo veiculado pela reportagem são Joan Konner, professor e ex-reitor da Faculdade de Jornalismo da Universidade de Columbia, James Risser, ex-diretor das bolsas John S. Knight para jornalismo na Universidade de Stanford, e Ben Wattenberg, colunista sindicalizado e sócio sênior do American Enterprise Institute.

A CNN afirmou que só abandonaria projeções de bocas-de-urna se a corrida eleitoral estivesse muito acirrada. Além disso, não prometeu privar-se do uso de pesquisas parciais para projetar vencedores. "As transmissões e suas retrações constituíram um desastre noticioso que danificou a democracia e o jornalismo", afirmou a reportagem, que não encontrou tendências políticas na cobertura da CNN.


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PÉROLAS

Fabio Augusto

Há anos que o nível dos jornais brasileiros tem despencado ladeira abaixo. Não me refiro apenas ao conteúdo editorial ou à precisão da informação (isso parece que está tão ruim como sempre esteve), mas à facilidade com que erros primários de redação são publicados em jornais e revistas de grande circulação. Nas edições online a coisa parece ainda pior. Aparentemente, a pressa em disponibilizar matérias antes da concorrência leva a absurdos quase ao nível de piada de botequim. O trecho transcrito abaixo foi retirado do site da Agência Estado ("Preso mais um seqüestrador da família Oliveira", 29/1/2001, 17h54).

"(…) O seqüestrador foi surpreendido pelos policiais quando participava de um churrasco na casa do cunhado. A polícia desconfia que o local serviria de cativeiro, pois haviam 30 galinhas no quintal. (…)"

Alguém poderia me esclarecer qual a correlação entre a existência de 30 galinhas no quintal de uma residência e o uso desta como cativeiro por seqüestradores? Será que as galinhas vão ser indiciadas por formação de quadrilha? O jornalista que redigiu isto realmente leu o que escreveu?

Nota do OI: Para não falar do "haviam"…

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