PARANÁ
Alexandre Teixeira (*)
Sexta-feira, 22 de agosto, 12h30. Horário nobre da TV ocupado pelos telejornais. No ar, na afiliada da Rede Globo no Paraná, a Rede Paranaense de Comunicação (RPC), a primeira edição do jornal estadual. As duas jornalistas/apresentadoras entrevistam ao vivo o governador do Paraná, Roberto Requião, que está nos Estados Unidos estudando modelos de companhias energéticas públicas.
As jornalistas passam a questionar o governador sobre o aumento de 15% na tarifa de energia elétrica efetivado pela Copel (Companhia Paranaense de Energia Elétrica), que ele, lá dos EUA, mandou cancelar. Requião, bem ao seu estilo, começa respondendo que ao assumir o governo encontrou uma empresa quebrada e que, em oito meses de nova administração, conseguiu sanear as finanças e apresentar lucro de 230 milhões de reais; e uma empresa com este lucro não tem necessidade de aumentar tarifa de energia.
Dois meses atrás, o governador do Paraná já criara polêmica ao criticar a ministra das Minas e Energia por ter autorizado um amento de 25,27% na tarifa. Requião tomou a decisão de repassar o aumento, mas ao mesmo tempo dava um desconto de 25,27% para pagamento em dia. A atitude acabou derrubando as ações da Copel na Bolsa de Valores de São Paulo em 6%. Segundo os analistas de mercado, os investidores ficaram receosos com o futuro da empresa, já que o setor elétrico precisa de investimentos e a Copel estaria fadada a ficar sem recursos para aplicar em novas usinas, e em obras de infra-estrutura para geração e transmissão.
Questionado sobre a queda das ações na Bolsa de Valores, Requião gritou dizendo que a Copel não estava ali para abastecer o "cassino" do mercado aberto de energia, mas sim os paranaenses carentes que precisam da luz para tomar banho, ligar a geladeira, o rádio e a televisão. Durante a campanha eleitoral, o então candidato prometeu luz de graça para quem tivesse um consumo de até 100 kw por mês. Compromisso ainda não cumprido.
Mas a resposta que causou grande constrangimento na imprensa foi a que atacou o jornal O Estado de S. Paulo. Perguntado se as últimas atitudes da direção da Copel não poderiam vir a causar prejuízo à empresa, Requião respondeu que apenas o Estadão achava que as suas ações de governo eram erradas, e que o jornal vinha sistematicamente fazendo campanha em favor dos grandes grupos econômicos interessados no "cassino" da energia.
Tutela chapa-branca
No estilo de administrar "batendo em tudo e em todos", sobra até para a imprensa. Qualquer tipo de análise crítica ao atual governador paranaense é visto como perseguição ou defesa de interesses espúrios. Não será a primeira vez que vamos ouvir os gritos de que a imprensa está vendida. Os veículos de comunicação regionais sabem disso: criticar o governador é sinônimo de caixa baixo, de nenhuma ordem de serviço ou pagamento por serviços prestados, é verba zero.
Na semana passada a comunidade jornalística do Paraná foi surpreendida com a notícia de que algumas cabeças estariam rolando por conta de que o governador não estaria satisfeito com manchetes e colunas políticas.
A grave crise econômica, que atinge todos os veículos de comunicação do Brasil, é campo fértil para que a tutela editorial chapa-branca ganhe espaço em troca de polpuda verba publicitária. A esperança da imprensa e dos leitores e eleitores paranaenses é que tudo isso não passe de boato.
(*) Jornalista