LITERATURA DE PANELINHAS
Afonso Caramano (*)
Sobre "A literatura das panelinhas", de Silas Correia Leite, algumas considerações: no celeiro globalizado das panelinhas, cuia pequena não entra. Quem quiser que estenda a sua para ver se lhe jogam uma moedinha. Vai esperar é muito. Melhor tentar a sorte no espaço alternativo… mas, onde fica?
Tratando-se de espaço e de alternativo cabe em qualquer parte, contanto que não seja o pensamento único, a mesmice, o obsoleto elevado à categoria de supra-sumo, e que de quebra cause algum incômodo, ao menos um olhar enviesado. É… a mediocridade também cansa ? mas às vezes demora ? e parece que estamos vivendo culturalmente numa interminável planície árida.
Para usar um clichê ? o nosso país continua sendo o de contrastes gritantes ?, de um lado uma rica efervescência cultural, mergulhada nas próprias raízes de nossa formação, de outro a extrema carência, a falta de apoio para a produção artística, para dar vazão a essa inquietação, enfim, falta-nos a democratização do evento cultural. O que interessa ao mercado editorial, fonográfico e afins é vender seja lá o que for, é empurrar goela abaixo qualquer coisa e lucrar com isso, lançando mão dos meios (mídia?) de que dispõe. (Felizmente ainda há exceções).
O olhar do precavido
A propósito das tais listas dos melhores disso ou daquilo pouco se tem a acrescentar, senão que sempre parecerão injustas e reducionistas. Ademais, principalmente, no caso da literatura ou, mais especificamente, da poesia teríamos que levar em conta que critérios foram adotados para avaliar tão extensa produção artística e quem os adotou. Nem vale a pena.
Uma vez mais estamos sozinhos nesse barco. Cadê o verdadeiro jornalismo cultural? Em que páginas de revistas estão as discussões profundas sobre a literatura, sobre a poesia? Quem tem acesso a essas publicações? O escritor ou poeta iniciante porventura tem espaço aberto para discutir a sua criação literária nessas revistas ou jornais? Difícil, muito difícil o amadurecimento de uma obra sem o confronto das discussões de idéias, da criação e do diálogo permanente.
A Bienal do Livro está aí. A previsão de movimentação financeira é de cerca de 2 bilhões de reais. Uma quantia considerável para um mercado que, segundo os jornais, vive equilibrando-se na corda bamba. Não nos esqueçamos também dos preços nada acessíveis dos livros, num país cujo ministro da Educação quer transformar num Brasil de leitores. (A democratização da leitura deveria passar também pela iniciativa privada, contar com o apoio desta, não somente com a iniciativa governamental e os lucrativos contratos com as editoras ? lucrativo para ambos, claro). Democratizar não significa nivelar ou apenas quantificar e gabar-se das estatísticas. O deus mídia, digo Midas? tudo o que anuncia vira ouro… mas em tempos tão obscuros o precavido deve olhar bem de perto para não se decepcionar mais tarde, vítima desse engodo.
(*) Funcionário público municipal, Jaú, SP
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