IMPRENSA REGIONAL
Maria Carolina Rodrigues (*)
Os acontecimentos que envolvem os temas ligados à cultura nem sempre são vistos nos noticiários locais, quando observados parecem receber pouco espaço ou acabam por relatar apenas parcialmente o assunto. Para Maria das Graças Santos Araújo e Kelvis Rosário Germano, profissionais ligados à Secretaria de Cultura de Limeira (SP) e de Santa Bárbara D?Oeste, cidades do interior do estado de São Paulo, falta interesse entre os jornalistas em relação à área. A programação cultural nos municípios citados seria suficiente para produzir cadernos segmentados ? o que não tem ocorrido.
Das matérias de cultura publicadas, a maioria ainda divulga apenas nomes conhecidos do meio artístico, geralmente do eixo Rio-São Paulo, que se apresentam em peças teatrais encenadas no interior. Fato que, segundo Kelvis, alerta para um problema cultural nos veículos locais. Para ele, falta conhecimento dos profissionais de mídia sobre os trabalhos realizados nos municípios.
E acrescenta: "Acredito que falte vivência cultural aos jornalistas; poucos vão ao teatro de suas cidades, por exemplo. Os que têm alguma formação têm visão elitista do que é cultura", avalia. "Eles precisam ser mais populares". A constatação surge, diz, a partir do noticiário de Santa Bárbara D?Oeste.
O produtor cultural considera que esta é uma deficiência dos universitários em geral. "Tivemos um rompimento cultural que vem desde a ditadura, e até agora tanto a geração anterior como a nossa não conseguiu se livrar". Faltaria, na opinião dele, mais leitura e mais bibliotecas nas cidades.
Maria das Graças vê outra falha dos jornalistas nas pautas culturais. "A maioria vai até o evento sem informações sobre o assunto, não se preparam antes para a entrevista", diz. "Uma vez fazíamos uma exposição de uma artista famosa e o jornalista me perguntou onde estava ela. A artista morreu há anos".
Os dois profissionais afirmam que já tentaram de todas as maneiras contato com as redações, e não há mais como se aproximar dos jornalistas. "Dou o telefone particular e até de casa para que eles liguem, mando as informações, além de avisar com antecedência", diz Kelvis.
Responsabilidade esquecida
Para Maria das Graças, a área de cultura é a que deve ser mais trabalhada nos meios de comunicação, ainda que o relacionamento seja muito difícil. "Há outros assuntos que são prioridade para eles, então temos que estar sempre pedindo para conseguir matérias", conta. "Mas sabemos que é com a divulgação que as pessoas participam, muita gente se queixa de não ter sabido que este ou aquele evento aconteceu na cidade".
Os parcos recursos financeiros para a divulgação das atividades das secretarias também prejudicam o trabalho na comunidade. Com poucos investimentos para os projetos da pasta, não sobra dinheiro para anúncios nos veículos.
Kelvis e Maria das Graças concordam em que os eventos e os projetos culturais têm mudado significativamente o comportamento dos jovens, minimizando a marginalidade e a violência. Para eles, o caráter social da cultura poderia ser destacado pelos jornalistas. "A gente sente diferenças nos bairros onde existe a inserção da juventude nos projetos culturais: a violência diminui sensivelmente", diz a produtora. Em Santa Bárbara D?Oeste, a secretaria está promovendo um festival anual de cultura, envolvendo, segundo Kelvis, todos os alunos das escolas públicas. "Percebemos que os que mais participam são os que têm menor nota na escola, ou seja, os alunos que também estão mais propensos à marginalidade e à violência", falou.
A Secretaria de Cultura de Limeira desenvolve no momento um projeto de descentralização da cultura. Salas de aula com várias oficinas vêm sendo criadas em bairros periféricos. "Descobrimos coisas nos bairros que nem mesmo os moradores conheciam", comenta Maria das Graças. Segundo ela, a falta de informação impede que as pessoas participem dos projetos.
Para os dois profissionais, a divulgação dos eventos culturais estimularia novos interessados e ajudaria a reduzir a violência urbana. A responsabilidade da mídia diante da sociedade está prevista no Código de Ética do jornalista, cujo Artigo 6? trata da natureza social e de serviço público da profissão, também disposta no Art. 221 da Constituição.
(*) Estudante de Jornalismo