H. S.
Um site sobre o jornalista Adelmo Genro filho, ex-professor do Curso de Jornalismo da UFSC, já pode acessado em <www.adelmo.com.br>. Adelmo Genro Filho foi professor de março de 1983 a fevereiro de 1988, quando faleceu prematuramente, aos 36 anos. Autor de O segredo da pirâmide – Para uma teoria marxista do jornalismo (Editora Tchê! Porto Alegre, 1987), Adelmo Genro Filho foi um dos mais brilhantes intelectuais de sua geração, com extensa obra sobre filosofia, política e jornalismo. Jornalista formado pela Universidade Federal de Santa Maria, atuou na imprensa regional, foi vereador do então MDB na mesma cidade e durante quatro anos ministrou aulas no Curso de Jornalismo da UFSC, criando a disciplina Teoria do Jornalismo.
Em 1979, discursando na Câmara de Vereadores sobre fatos ocorridos em Florianópolis, quando durante uma manifestação popular de protesto contra o general João Figueiredo esse acenou para a multidão com gestos obscenos, Adelmo Genro Filho disse que o militar não tinha condições mentais de exercer a Presidência da República. De imediato foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional.
O interesse de Adelmo Genro Filho em produzir uma Teoria do Jornalismo com bases marxistas começou já em seu tempo de estudante na UFSM. Em 27 de julho de 1975, por exemplo, o jornal Diário de Notícias, de Porto Alegre, divulgou seu texto “O jornalismo e a crise da objetividade burguesa”, em que discutia a “questão da objetividade da informação”. Neste estudo, o autor analisou as formas de captação da objetividade dos fatos pelos jornalistas. O problema é: se os fatos são objetivos, essa objetividade seria válida para toda a sociedade, uma sociedade formada por classes sociais? A sua resposta foi que, para os jornalistas, profissionais da difusão de informação para a sociedade, duas formas de objetividade são possíveis: aqueles que “totalizam os fatos a partir de uma sociedade supostamente imutável, e assim colaboram com a imobilidade social”, e aqueles que “entendem e captam os acontecimentos dentro de uma concepção dinâmica da sociedade, organizada numa perspectiva histórica”.
Em outro texto, “Questões sobre jornalismo e ideologia”, publicado no jornal A Razão, de Santa Maria, em 22 de outubro de 1977, Adelmo Genro filho articulou as categorias “singular”, “particular” e “universal”, que viriam a ser fundamentais para o futuro O segredo da pirâmide. Para ele, a lógica do jornalismo é uma relação entre sua forma (constituída pela categoria do “singular”, ou fatos singulares, “a matéria-prima do jornalismo”, e seu conteúdo (significados e relações destes fatos com as conjunturas). Diz ele: “Qualquer fenômeno singular não existe isoladamente, sem um conteúdo de particularidade e universalidade que precisa ser exposto, para que possa ser compreendido e ampliado seu significado aparente”.
Crítico dos teóricos
O segredo da pirâmide – Para uma teoria marxista do jornalismo é uma análise rigorosa das principais escolas de pensamento que tratam dos estudos de jornalismo. Da Sociologia Funcionalista à Escola de Frankfurt, passando pela Teoria dos Sistemas, o jornalismo como prática ideológica e manipulatória e as categorias hegelianas “singular”, “particular” e “universal”, Adelmo Genro Filho chega à tese de que o jornalismo é uma forma de conhecimento fundamentada em fatos singulares. Estudando o esquema gráfico da notícia ele percebe que na estrutura convencional os fatos são relatados seguindo uma ordem de importância decrescente.
Mas este esquema, no seu entendimento, deve ser invertido, já que o jornalismo é determinado pela singularidade dos fatos. “Nesse sentido, a notícia caminha não do mais importante para o menos importante (…), mas do singular para o particular, do cume para a base. O segredo da pirâmide é que ela está invertida, quando deveria estar como as pirâmides seculares do velho Egito: em pé, assentada sobre sua base secular”, defendeu. Na teoria proposta, no topo da pirâmide está localizado o núcleo singular da notícia, e desse derivam as outras informações, e portanto o conhecimento, no sentido de particularidades e universalidade.
Este livro de Adelmo Genro Filho incentivou vários pesquisadores e originou o estudo e a formação de uma teoria específica para o jornalismo – uma preocupação constante em sua breve vida como intelectual marxista. Adelmo Genro Filho era um crítico ferrenho dos “teóricos” que, como escreveu no prefácio desta obra, “não têm feito muito no sentido de lançar uma ponte com mão dupla entre a teoria e a prática. Em geral, as teorizações acadêmicas oscilam entre a obviedade dos manuais, que tratam apenas operativamente das técnicas, e as críticas puramente ideológicas do jornalismo como instrumento de dominação”.