Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Cynara Menezes

CASA DOS ARTISTAS

"Vizinho comediante atrapalha gravação de ?Gran Hermano?", copyright Folha de S. Paulo, 14/11/01

"Silvio Santos sabia o que fazia quando comprou a casa ao lado da sua para de lá transmitir seu ?reality show?. Na Espanha, o comediante Leo Bassi levou os produtores de ?Gran Hermano? (o ?Big Brother? de lá) à loucura ao alugar uma propriedade vizinha com o único intuito de bagunçar a veiculação do programa.

Para começar, Bassi, com a ajuda de potentes alto-falantes, colocava música clássica e lia trechos de ?1984?, de George Orwell (o criador do ?Big Brother?), em volume tal que ?vazava? na transmissão, interferindo nos diálogos entre os participantes.

Não satisfeito, montou um andaime de nove metros de altura para fazer imagens piratas da piscina do vizinho televisivo. Os produtores faziam o que podiam: tentaram pôr uma lona cobrindo o quintal; com uma mangueira, lançaram jatos d?água contra o comediante e sua equipe; e, apesar do calor, proibiram os participantes de usar a piscina.

Um dos últimos concursantes a sair da casa acabou não podendo ser entrevistado como de costume, porque o humorista acionou uma sirene da Marinha soviética que tornou praticamente impossível se escutar outra coisa na transmissão. Bassi acabou preso.

Mas a pirataria do comediante foi só um dos percalços enfrentados pela Telecinco na exibição do primeiro ?Gran Hermano? (acaba de terminar o segundo). O programa espanhol causou tanta polêmica do lado de fora que acabou rendendo um livro homônimo que também se tornaria sucesso, de autoria dos jornalistas Rebeca Quintáns e Andrés Sánchez.

No livro ?Gran Hermano – El Precio de la Dignidad? (Ardi), sob o pretexto de criticar um programa feito para explorar a intimidade alheia, os autores relatam os bastidores da produção, cuja segunda edição chegou a quase 50% da audiência da TV aberta -cerca de 7,7 milhões de telespectadores em um país com aproximadamente 40 milhões de habitantes.

Quintáns e Sánchez falam, por exemplo, da espionagem sem trégua promovida pela revista sensacionalista ?Interviú?, que teve acesso aos questionários sigilosos distribuídos aos candidatos na fase de seleção, com perguntas do tipo: ?Quando, como e com quem perdeu a virgindade??.

A revista também causaria polêmica extramuros ao revelar que duas das participantes eram ex-prostitutas. Uma das moças já havia sido eliminada; a outra acabou se decidindo -ou sendo coagida, não fica claro- a deixar a casa. A revista vai revelando que nem tudo, ao contrário do que dizem os produtores, é espontâneo, mas combinado com a direção.

Alguns acontecimentos não programados resultaram hilários: um simpatizante (pacífico) do grupo terrorista ETA conseguiu pular os muros da casa e, com uma bandeira em mãos, dizer palavras de ordem. A transmissão saiu do ar até que o rapaz fosse retirado da casa.

GRAN HERMANO – EL PRECIO DE LA DIGNIDAD. De: Rebeca Quintáns e Andrés Sánchez. Editora: Ardi. US$ 10,28 (cerca de R$ 26). Onde encomendar: www.elmundolibro.com."

"?Casa? é fenômeno no Ibope e na Justiça", copyright Folha de S. Paulo, 14/11/01

"?Casa dos Artistas?, a versão brasileira de ?Big Brother? criada pelo SBT, voltou a surpreender: depois de derrotar o ?Fantástico? por dois domingos, o programa começa a assustar a Globo durante a semana. Anteontem, empatou por dois minutos com ?O Clone?, da Globo, com 35 pontos.

Desse período, a novela estava no intervalo por 45 segundos e, na m&eaeacute;dia geral, venceu o SBT por 45 a 20. ?Casa dos Artistas?, na média, também não derrotou ?O Clone?. Teve 28 contra 39. Mas o ?reality show? está conseguindo o que Silvio Santos queria: tornar questionável a liderança absoluta dos programas da concorrente.

Animado, o empresário lançou anteontem ao mercado propostas de anúncios em intervalos do programa (que por enquanto é exibido sem cortes). Serão cobrados R$ 85.148 por cada comercial de 30 segundos, o que torna o programa o mais caro do SBT, ao lado do ?Show do Milhão?.

Além da batalha entre os departamentos de produção e comercial das duas emissoras, outra disputa será acirrada: a dos tribunais. Tudo começou porque a Globo comprou os direitos de produção de ?Big Brother? e programou a exibição do ?reality show? para 2002. Silvio Santos, que chegou a negociar com a Endemol, detentora dos direitos da atração, desistiu e resolveu fazer sua versão sem fechar o acordo com a empresa holandesa.

A Globo já sofreu três derrotas na tentativa de tirar o programa do ar pela Justiça e pode desistir da idéia, segundo Simone Lahorgue, principal advogada da emissora no caso. ?Queremos ver o teor do voto dos desembargadores para avaliar se vale recorrer.?

O mérito do processo, no entanto, que é decidir se ?Casa dos Artistas? é plágio ou não de ?Big Brother?, ainda não foi julgado.

A ação deve demorar anos e, segundo especialistas, será polêmica e representará um divisor de águas na discussão sobre direito autoral no Brasil.

A Globo tentará provar que os detalhes da produção de ?Casa dos Artistas? são semelhantes ao do ?reality show? holandês e que Silvio Santos agiu de má-fé, já que teria tido acesso ao ?know-how? da produção do programa.

A tese do SBT é, em outras palavras, a de que na TV ?nada se cria, tudo se copia?. Filmar pessoas em uma casa foi idéia da Endemol, mas isso, na argumentação de Silvio Santos, não impede outras TVs de fazer o mesmo. Assim, o ?reality show? teria virado um gênero, como novela e ?talk show?.

A Globo diz que ?Big Brother? é mais que uma idéia: ?É um desenho artístico ou produto pronto?.

Segundo Marcos Alberto Bitelli, advogado especializado em direito autoral, a lei brasileira pode dar sustentação às duas argumentações. ?A Globo teria que provar o plágio por partes do programa: cenário, roteiro, posicionamento de câmeras. Mas, como não há roteiro, fica ainda mais difícil. Será uma questão polêmica e a decisão pode criar uma jurisprudência.?

Mais processo

Silvio Santos foi condenado anteontem a pagar indenização por danos morais e materiais ao compositor Archimedes Messina, 69, que criou o jingle ?Silvio Santos Vem Aí?, em 65. Foi decidido na 18? Vara Cível de SP que o apresentador deve pagar o equivalente a 50 salários mínimos por danos materiais. Os danos morais serão calculados posteriormente.

Messina, que também criou o famoso jingle do café Seleto, diz que nunca imaginou que a marchinha ficaria tão famosa."