Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

D.C. e L.M.

FILHAS DA MÃE

"?Filhas? esbarra em público conservador", copyright Folha de S. Paulo, 12/10/01

"Fernanda Montenegro e um elenco com os maiores salários da teledramaturgia brasileira ainda não conseguiram dar a ?Filhas da Mãe? a audiência esperada.

Com a proposta de uma linguagem inovadora, em que atores falam diretamente para a câmera e o rap ajuda a contar a história, a novela das sete da Globo tem esbarrado, entre outros obstáculos, na dificuldade que o telespectador tem de aceitar mudanças.

O autor, Silvio de Abreu, e a direção da Globo sabem que não é fácil abandonar o consagrado melodrama. ?O Clone?, por exemplo, que usa a tradicional linguagem de folhetim, tem superado a expectativa da emissora, com média de 43 pontos nos oito primeiros capítulos.

?Televisão é hábito. Sempre que o telespectador vê algo inovador, precisa de um tempo para assimilar a nova linguagem?, diz Abreu.

?Filhas da Mãe?, nas quatro primeiras semanas, teve média de 30 pontos no Ibope, contra 16 do SBT, que traz a novela mexicana ?Carinha de Anjo?. A trama das sete da Globo chegou a ter a mesma audiência que ?Malhação?. ?Um Anjo Caiu do Céu?, a antecessora, teve, no primeiro mês, média de 34, contra 10 do SBT.

?Filhas da Mãe? enfrenta também o racionamento de energia, o baixo ibope da novela das seis, ?A Padroeira?, e o crescimento da audiência das tramas mexicanas infantis que o SBT exibe no horário. Mas a rejeição do público a algumas inovações que a novela traz, como a condução da narrativa e o rap, ficou clara depois de uma discussão de grupo feita com telespectadores pela Globo.

?Sempre foi difícil mudar a linguagem na TV. Hoje, da maneira como a concorrência é colocada, num mundo mais capitalista, fica ainda mais complicado. Mas é necessário que se arrisque, senão ainda estaríamos na era das novelas de Glória Magadan [cubana, autora das primeiras novelas brasileiras??, diz Mauro Alencar, doutorando em novela da Universidade de São Paulo.

Raul Cortez, o Arthur da trama, diz que ?é uma pena que o público se assuste com o novo?. Ele afirma que seu personagem em breve viverá um romance com Lulu, interpretada por Fernanda Montenegro. ?Isso já estava previsto. Mas acho que pode estar sendo antecipado em resposta a pedidos do telespectador?, diz.

Silvio de Abreu afirma que não pretende mudar o rumo da novela como resposta ao que foi dito no grupo de discussão. ?Pesquisas são interessantes, mas não substituem o ?feeling? do autor e do diretor. É nossa responsabilidade como criadores identificar os desejos e anseios do público e buscar atendê-los. Um grupo de discussão é capaz de levantar algumas indicações, mas não determina direções a serem tomadas.?

O autor acredita que a dificuldade da inovação seja superada no desenvolvimento da trama e que a audiência vai subir. ?A fórmula consagrada é a do melodrama. O humor necessariamente precisa trazer uma nova proposta e, via de regra, uma nova linguagem. Foi assim, por exemplo, com ?Guerra dos Sexos?, em 1983, e com ?Deus nos Acuda?, em 1992, que também foram recebidas com estranheza a princípio. Não tenho dúvidas [de que a audiência vai melhorar?. Já estou bem acostumado com isso?, afirma Abreu.

Com o que viu nas pesquisas, o autor acredita que o público nem sempre seja conservador. ?O que dizer do inusitado romance entre Ramona (Cláudia Raia) [transexual? e Leonardo (Alexandre Borges), que é encarado com a maior naturalidade pelas conservadoras donas-de-casa? Acho que estamos no caminho correto e não pretendo me desviar.?"

ALTAS HORAS

"Groisman faz 1 ano com reforço de globais", copyright Folha de S. Paulo, 13/10/01

"Glória Maria, Reynaldo Gianecchini, Caio Blat, Susana Werner… Muitos, muitos globais estarão nesta madrugada cantando parabéns a Serginho Groisman, que comemora um ano no ar com o programa ?Altas Horas?.

O formato de manter no palco por duas horas dois ou três atores, da Globo em quase 100% dos casos, e levar atrações musicais populares tem dado à atração uma média de 38% da audiência.

O resultado, razoável, não garante patrocínio ao programa, que enfrenta, além da crise no mercado publicitário, a dificuldade de chegar a entrar no ar quase às 2h. Por isso Groisman diz que irá começar uma peregrinação por agências de publicidade na tentativa de vender seu produto.

Em entrevista à Folha, o apresentador afirma que gostaria que o programa fosse ao ar mais cedo. Assim, poderia fazê-lo ao vivo, o que sempre quis desde que foi para a Globo. Ele fala também sobre o trunfo de usar convidados globais na tentativa de equilibrar o ideal com o que dá audiência.

Folha – Depois de um ano na Globo, como avalia a proposta que sempre demonstrou na carreira de fazer programas inovadores e equilibrar isso com a audiência?

Serginho Groisman – Se a gente não acreditar que é possível fazer uma TV com alguns princípios, é melhor nem fazer. Quando vim para a Globo, questionavam se eu iria mudar minha postura. Mas, quando saí da TV Cultura para o SBT, foi semelhante. Buscar esse equilíbrio é um desafio, porque a audiência está muito mais ligada a uma certa redundância de temas e atrações. O mais importante não é tanto quem trago ao programa, mas o que faço com eles. Na estrutura atual, os famosos estão sempre presentes, mas, se notarem com mais apuro, verão que eles dão algumas opiniões que, normalmente, não dariam.

Folha – Sempre que assisto ao seu programa há um ator da Globo como convidado. É uma regra?

Groisman – Neste primeiro ano, trazíamos dois ou três convidados que ficavam no palco durante todo o programa. Eles dão uma sustentação de audiência bacana. Então temos um percentual de atores da Globo muito grande. Mas a participação deles não é tão grande quanto a presença física. Acho que praticamente todo programa teve gente da Globo. Isso é uma facilidade, e o desafio é o que fazer com essas pessoas. Mas o programa vai mudar e os convidados devem ficar só durante um bloco.

Folha – É que fazer um programa com um ator novato da ?Malhação? e o KLB não parece muito a cara do Serginho Groisman…

Groisman – Na verdade, o programa tem uma estratégia muito clara. O primeiro bloco é grande, ocupa quase 50% do que vai ser o programa inteiro. É ligado ao filme que passa antes, que tem uma audiência forte. Então é bem popular, com atrações que mantenham as pessoas ligadas. Quando entra o intervalo, o programa muda, dou uma relaxada com essa coisa da audiência. O programa tem duas metades bem diferentes.

Folha – Você divide o programa naquilo que ?tem que fazer? e no que ?gosta de fazer??

Groisman – É, mas na parte que ?tenho que fazer? também há muito que eu posso fazer, de um jeito irônico… Mas é ruim ficar falando esse tipo de coisa. Isso é para ser percebido. Nunca poderia fazer um programa só com o que gosto. A TV deve ser transformadora, mas também dar satisfação ao público. Para muita gente com acesso à cultura, à educação, a TV deve ser transformadora. Para outros, dar lazer. A grande questão é conciliar o prazer com aquilo que você acha que pode mexer com a cabeça do telespectador."

    
    

                     

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