Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Da nota-veneno ao bom jornalismo – II

MÍDIA & GOVERNO

Chico Bruno (*)

Na semana passada abordei como positiva matéria da revista Veja assinada pelo repórter Policarpo Junior, sobre os bastidores da campanha presidencial de Lula, pela maneira como foram conduzidas as investigações jornalísticas. Reservei-me o direito de não especular em relação ao impacto que a matéria causaria sobre o restante da imprensa. Fi-lo bem, pois a repercussão foi mínima, apesar do teor da reportagem.

Apenas a Folha de S.Paulo, assim mesmo alguns dias depois, tratou do assunto com mais profundidade, impelida talvez pelos discursos dos opositores de Lula no Senado ou, quem sabe, por ter tido acesso à transcrição das fitas citadas na reportagem da Veja relativas ao assassinato do prefeito petista de Santo André, destruídas por decisão judicial, que as considerou ilegais.

O restante da mídia tratou a denúncia da Veja superficialmente. Aliás, este é o tratamento que a maioria da imprensa vem dando a algumas questões inconvenientes ao governo de Lula da Silva e, por extensão, a assuntos ligados ao PT. Ainda na semana passada citei o fato de a colunista Mônica Bergamo ter informado aos leitores da Folha que um coquetel oferecido pela prefeita Marta Suplicy seria pago pelo Hotel Emiliano. Pois este assunto, que com certeza despertaria em outros tempos a curiosidade da imprensa, passou batido. Ninguém ousou solicitar esclarecimentos aos personagens da nota.

Novidade para o público

A Veja que está nas bancas traz suíte da reportagem "Paz, amor e guerra", com o título "O soldado solitário", na qual apenas o personagem Osvaldo Bargas tenta desmentir sua participação no que o repórter chama de "bunker". Esse mesmo personagem está na sessão Cartas da revista, tirando o corpo fora, assim como dois sindicalistas, um citado na matéria, defendendo-se, outro defendendo a entidade sindical que preside.

Como dos cinco personagens apenas um tentou desmentir os fatos expostos na matéria, fica claro que o repórter desvendou um segredo dos bastidores da campanha de Lula da Silva guardado a sete chaves. As declarações do presidente do PT, do ministro da Justiça e do líder do governo no Senado, que tentaram desqualificar a reportagem, não foram felizes, principalmente pelo fato de que o procurador Luiz Francisco e o senador Antônio Carlos Magalhães confirmaram algum tipo de envolvimento com o teor da matéria.

Ao publicar a suíte da reportagem, a Veja demonstra que ainda tem fôlego para tratar do assunto, deixando no ar a suspeita de que novos e palpitantes detalhes dos bastidores da campanha de Lula à presidência podem vir à tona.

Para publicitários e jornalistas que trabalham em campanhas eleitorais não se trata de novidade: estão habituados a lidar com as ações descritas na reportagem. Mas o é para a maioria da opinião pública brasileira.

(*) Jornalista

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