REALITY SHOWS
"Ministério Público investiga ?Hipertensão?", copyright Folha de S. Paulo, 30/04/02
"O Ministério Público Estadual de São Paulo instaura nesta semana inquérito civil público para investigar o ?reality show? ?Hipertensão?, da TV Globo. A investigação atende a representação apresentada no último dia 23 por Leonardo Fogaça Pantaleão, 30.
Para Pantaleão, que é advogado, o programa fere a dignidade humana ao fazer seus participantes comerem insetos vivos, deitarem em covas com 300 ratos e rastejarem em labirintos de esgoto. ?A utilização dessas práticas pode incutir nos indivíduos o desprezo pela espécie humana, fazendo com que não se tenha mais exato discernimento sobre a relevância do homem no seio social e na manutenção do estado democrático de direito?, escreveu o advogado.
O caso está com a Promotoria da Cidadania da Capital, que após instaurar o inquérito irá ouvir a Globo e o advogado. Se os argumentos da emissora não forem convincentes, a promotoria poderá encaminhar ao Poder Judiciário uma ação civil pública. Se perder na Justiça, acredita Pantaleão, a Globo não poderá mais exibir esse tipo de atração repugnante. A proibição poderá ser estendida a outras emissoras de TV, como a Rede TV!, que também tem explorado o filão ?TV nojeira?.
Inspirado em ?Fear Factor?, sucesso na TV dos EUA, ?Hipertensão? vai ao ar só até o dia 12, mas esse tipo de prova deve continuar. Ainda não notificada, a Globo não comentou o assunto.
OUTRO CANAL
Normalidade 1
Como tem ocorrido nos domingos em que há GPs de Fórmula 1, a Globo liderou no Ibope anteontem a partir das 14h. Alavancado pelo futebol (32 pontos a 18 no ?Domingo Legal?, do SBT), o ?Domingão do Faustão?, que teve no palco um leão manso, venceu o programa de Gugu Liberato por 30 a 25 _a maior diferença dos últimos anos.
Normalidade 2
O ?Fantástico? também superou o SBT, por 33 a 27 pontos. E o ?Hipertensão? liderou por 26 a 22. Silvio Santos encerrou ?Casa dos Artistas 2? mais cedo, às 21h57, porque tinha que viajar para os EUA. O ?reality show? do SBT voltou a perder no Ibope, por 29 pontos a 33 da Globo, segundo dados preliminares.
Fica
Assediada pela Band, Fabiana Saba renovou contrato na última sexta, por mais dois anos, com a Rede TV!, onde apresenta o ?Interligado Games?, que supera o ?Descontrole? (Band) no Ibope.
Tabela
Giovanna Antonelli teve que baixar seu cachê para participar de evento na feira UDesejo, em São Paulo, na última sexta. Queria R$ 20 mil, mas topou por R$ 15 mil. Também convidado, Murilo Benício não deu o desconto e abriu mão da ?graninha extra?.
Oscar
O canal IFC, do Instituto Sundance, exibe hoje na TV paga dos EUA o filme ?Central Station?. Que vem a ser ?Central do Brasil?."
***
"Eliminada de ?Popstars?, do SBT, está em ?Fama?", copyright Folha de S. Paulo, 2/5/02
"A ?overdose? de ?reality shows? já causou o segundo caso de uma mesma pessoa escalada para dois programas. A caloura Ana Luiza, de ?Fama?, da TV Globo, também está em ?Popstars?, do SBT.
Cantora profissional há três anos, a paulista de 19 anos já foi eliminada, no início de abril, do programa do SBT. Ela conseguiu ficar entre as 500 garotas pré-selecionadas, mas não passou no ?filtro? seguinte. Sua saída deverá ocorrer no episódio que irá ao ar no dia 12. Foi eliminada em provas de canto e dança.
A Folha apurou que o SBT estuda alguma forma de explorar o fato de a Globo aproveitar uma eliminada de sua atração.
A Globo não sabia que Ana Luiza participa de ?Popstars?, mas releva o assunto. Luiz Gleiser, diretor-geral de ?Fama?, diz que a seleção dos 12 competidores foi ?simples e transparente?, feita por 20 especialistas. Dos candidatos, exigiu apenas idades entre 18 e 30 anos e que não tivessem contrato em vigência com gravadoras.
O primeiro caso de duplo aproveitamento em ?reality show? foi o de Fábio Nascimento, vencedor da edição de estréia de ?Hipertensão?. Ele participou de versão de ?Amor a Bordo?, também da Globo, que não foi ao ar.
OUTRO CANAL
Tango 1
O apresentador João Kléber viu reportagem na Globo sobre um programa da TV argentina que dá ao vencedor um emprego e resolveu copiar a idéia no ?Canal Aberto?, da Rede TV!.
Tango 2
A versão brasileira do ?Show do Milhão? dos desempregados já está em produção. Os candidatos responderão a perguntas de conhecimentos gerais e específicas do cargo disputado. O vencedor será escolhido pelo público, por telefone. Os empregos deverão ser oferecidos por empresas de recrutamento.
Tatuagem
Tathiana Mancini, ex-apresentadora do extinto ?Erótica?, da MTV, é a primeira contratada ?famosa? da All TV, canal de TV exclusivo para internet que passa a gerar programação 24 horas ao vivo no próximo dia 6. Ela terá dois programas.
Promoção
Já no ar, apenas com slides, nas operadoras DirecTV, TVA e associadas da Neo TV, o canal Bandsports, que só estréia oficialmente no final do mês, faz hoje sua primeira transmissão. Às 22h, exibe a final da Copa de 70, no México, entre Brasil e Itália.
Formato
A Record vai mudar o ?Note Anote?, que não vem dando boa audiência. O programa passará a ter mais fofocas."
***
"Reality shows? encalham com anunciantes", copyright Folha de S. Paulo, 3/5/02
"Depois de movimentar cerca de R$ 100 milhões no primeiro trimestre, os ?reality shows? passam por um momento de crise.
A menos de duas semanas de sua estréia, marcada para 14 de maio, a segunda edição de ?Big Brother Brasil? tinha até ontem de manhã apenas um patrocinador, a Bombril, segundo o site da superintendência comercial da TV Globo. A emissora corre contra o tempo para vender as outras três cotas nacionais de patrocínio, cada uma por R$ 4,5 milhões.
?Fama? entrou no ar no último sábado, e nenhuma de suas quatro cotas nacionais de patrocínio havia sido vendida até terça. No programa de estréia, não houve intervalos. As cotas, com 107 inserções na Globo (durante o programa e nos intervalos do horário nobre) e ações na Globo.com, custam R$ 2,1 milhões cada uma.
Pior situação é a de ?Hipertensão?, que neste domingo terá seu quarto e penúltimo episódio exibido. Ninguém comprou suas cotas (são duas, por R$ 750 mil cada uma). Para tentar recuperar o prejuízo, a emissora tenta atrair os anunciantes com uma edição (a última) com personalidades.
A um mês da estréia de sua terceira edição, o plano comercial de ?Casa dos Artistas? ainda não chegou ao mercado publicitário. Especula-se no mercado que dificilmente a emissora irá colocar suas cotas à venda pelo preço da segunda versão do programa, por R$ 11,2 milhões.
OUTRO CANAL
Ladeira
Depois de perder 3,8% de seus assinantes em 2001, a Globo Cabo (maior conglomerado de operadoras do país, com a marca Net) voltou a cair em 2002. A empresa, que passa por crise financeira, registrou no primeiro trimestre deste ano um total de 1,398 milhão de assinantes pagantes, contra 1,428 milhão em 31 de dezembro de 2001. Explica a empresa que a queda se deveu, em parte, a uma política mais austera com inadimplentes.
Rampa
A Globo Cabo, no entanto, comemora aumentos no número de assinantes com pacotes populares e na venda de ?pay-per-view? de eventos esportivos. Além disso, ela vendeu 12 mil pacotes de ?pay-per-view? de ?Big Brother Brasil?.
Azedou
Jorge Kajuru voltou a dar problemas à direção da Rede TV!. Ele se recusa a apresentar um programa, o ?Kajuru Repórter Cidadão?, com ênfase quase exclusivamente em noticiário policial, como o ?Cidade Alerta?, da Record. Quer um noticiário mais amplo ou está fora. A estréia, que seria segunda-feira, será adiada.
Bordel
Com o título de ?Hilda Huracán?, a minissérie ?Hilda Furacão?, da TV Globo, estrelada por Ana Paula Arósio em 1998, estréia no próximo dia 7 na rede hispânica Telemundo, dos EUA."
"As novas novelas", copyright Trópico (www.uol.com.br/tropico), 2/05/02
"Uma das características mais intrigantes a respeito dos ?reality shows? tipo ?Big Brother? e ?Casa dos Artistas? é a sua capacidade de ?fidelizar? o espectador, criar expectativas sobre o desenrolar dos acontecimentos e produzir paixões, gostos e desgostos. Em outras palavras, de reproduzir o suspense e as torcidas que se verificam em outros formatos ficcionais, como as novelas.
Mas, ao contrário da novela, onde tudo se estrutura num universo ficcional, com heróis e vilões bem definidos, o heroísmo ou a vilania sendo formulados em função de uma história, a partir da intenção do autor e do controle que ele exerce sobre os seus personagens, nos ?reality shows? as simpatias e antipatias do público se dão em um registro mais fluido, mas não menos eficiente.
Para além das óbvias manipulações de seleção, produção e edição dos programas, o que permanece como questão é como tanto os participantes dos programas quanto a audiência atribuem significados que se aproximam dos ficcionais ao desenrolar da chamada ?vida real?.
Por que diabos nos solidarizamos com os que aparecem como mais frágeis ou mais verdadeiros ou mais desfavorecidos e implicamos com os mais ardilosos, os mais manipuladores?
No caso dos ?reality shows?, ao contrário do que acontece nos formatos mais tradicionais da ficção televisiva, a ?torcida? para punir os maus e premiar os bons acontece em um terreno de quase pura especulação fantasmagórica, a partir de uma espécie de pacto ficcional entre programa e audiência.
Na primeira ?Casa dos Artistas?, do SBT, pela características de seus participantes, quase todos já revestidos de uma personalidade pública, foi flagrante a criação de ?personagens? e o esboço de um roteiro durante a exibição do programa.
Atores, músicos e modelos sem palco e sem público que eram, eles foram capazes de inventar e rapidamente adaptar suas ?personas? para personagens -o brutamontes na vida real assumiu o papel de vilão, a moça frágil passou o tempo todo chorando, o rapaz alfabetizado, de família rica e poderosa, bem nutrido e bem educado rapidamente pegou a vaga de mocinho e, uma vez, iniciado o namoro com a moça bonita, mas marcada por um passado pobre e dramático, evoluiu para o papel de príncipe encantado, aquele que não apenas faria a mocinha feliz, mas que teria o poder de redimi-la da pobreza e da infelicidade.
E a audiência se comportou como se estivesse diante de uma história encenada, avaliando as performances, premiando aqueles que a conduziriam para um final feliz e punindo aqueles que o perturbariam.
O ?Big Brother?, da Globo, foi uma experiência diferente, mas onde se verificou a mesma, se não maior, adesão ao pacto ficcional firmado entre programa e audiência.
A produção partiu de tipos que se pretendiam representativos da audiência -desde que, naturalmente, preenchessem o quesito básico de serem apresentáveis na televisão, com todos os dentes muito brancos, é claro.
Com aqueles tipos aparentemente desconexos, a tarefa do público era avaliar e avalizar a criação de um ambiente ficcional que fizesse algum sentido. Não foi à toa, por exemplo, que a primeira tentativa de formar um casal, truque evidentemente inspirado pelo programa do SBT, foi rechaçada pela maneira açodada e artificial que surgiu aos olhos do público.
Já o segundo casal, emblematicamente formado por um estrangeiro com sotaque e uma mulher negra, parecia conservar algum princípio de verossimilhança forte o suficiente para ser preservado até quase o final.
Disfarçado em escolhas morais, o processo de eliminação de participantes era também um processo de escolha de personagens e de uma história -significativamente, os primeiros eliminados eram as personalidades mais apagadas ou mais explosivas, aquelas que por excesso de passividade ou de atividade inviabilizariam os outros personagens.
Os lugares do bom e do mau foram ocupados alternadamente entre os participantes, e essa alternância obedeceu a uma lógica curiosa: o mal foi detectado naqueles com maior poder verbal e com comportamento estratégico mais evidente, ou seja, aqueles que poderiam interferir mais ativamente na história, dobrá-la a seus desejos e caprichos e reduzir o espaço de interferência da audiência.
O verbo ?jogar?, usado para as posturas e atitudes mais estratégicas, tinha um enorme peso pejorativo, o que parece curioso quando lembramos que o único propósito do programa é uma competição por dinheiro.
E o herói que emergiu no final não era exatamente aquele com cuja personalidade as pessoas mais se ?identificavam?, como para usar outro verbo que assumiu significados muito particulares no programa.
O vencedor, portanto, o herói dessa contenda de bem e mal absolutamente rasa, foi aquele que melhor variou ao sabor das flutuações ficcionais: apresentou-se como ?pobre? quando isso parecia ter alguma importância e, uma vez que a homogeneidade de classe e hábitos foi estabelecida como princípio daquele ambiente, retificou seu status social; parecia ser um sujeito lhano, mas mostrava as garras quando necessário; foi o protagonista da primeira tentativa de formar um casal, mas renunciou assim que percebeu a ineficiência do recurso naquele momento; agüentou tantas e sucessivas indicações para a eliminação que não poderia ser de fato eliminado, pois assim desapareceria um dos principais elementos daquela história.
Foi, em suma, o personagem mais bem sucedido dessa trama desconexa – e foi por isso que a audiência não poderia prescindir dele, sob pena de desfazer o tecido da ficção.
A pergunta que se impõe, a partir dos ?reality shows, é a que lugar ficarão relegados os formatos mais tradicionais de ficção, como as novelas, depois dessa experiência. Curiosamente, o sucesso de ?O Clone? já parece estar respondendo: com seu total desprezo pela verossimilhança temporal, pela inconsistência maluca de seus personagens e a trama que se repete em círculos sem levar a lugar nenhum, está chegando a um lugar muito mais próximo dos ?reality shows? do que se poderia imaginar."