Tuesday, 19 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Daniel Castro, Laura Mattos, Marcelo Migliaccio, Pedro Alexandre Sanches


CASO ABRAVANEL

"Caso Silvio Santos vira arma na batalha da audiência", copyright Folha de São Paulo, 3/09/01


"O sequestro de Silvio Santos foi a principal arma na disputa de audiência de ontem entre o ?Fantástico?, da Globo, e o programa ?Domingo Legal?, do SBT.

Durante o tempo em que esteve no ar, das 15h30 às 21h, Gugu ganhou da Globo de 25 a 19 pontos de média (segundo dados preliminares do Ibope na Grande SP).

Nem o jogo entre Corinthians e América-MG, com oito gols (4×4), salvou a Globo. Na partida, das 16h às 18h, a emissora teve 20 pontos contra 21 do SBT (segundo o Ibope, pode haver diferença de um ponto a mais ou a menos).

A estratégia de Gugu foi aproveitar o sequestro no fim do programa, das 20h às 21h, pegando a última meia hora do ?Domingão? e a primeira do ?Fantástico?. Mas, antes mesmo de a reportagem sobre Silvio Santos ir ao ar, o ?Domingo Legal? teve picos de 30 pontos contra 15 do ?Domingão?. Nessa hora, o SBT entrevistava o sertanejo Renner, que atropelou e matou um casal. Gugu ganhou de 28 a 17 de Faustão, que optou por ignorar o caso.

O ?Domingo Legal? levou ao palco a médica Silvana Nigro, que foi à casa de Silvio Santos na hora do sequestro, Antonio Sebastião Pinto, pai do sequestrador Fernando Dutra Pinto, e Elaine Cardoso, uma de suas ex-namoradas. Sebastião Pinto afirmou que só aceitou participar do programa a pedido de Silvio Santos. ?Devo esse favor a ele, que salvou a vida de meu filho?, disse, emocionado.

Além de entrevistá-los, Gugu mostrou, com atores, uma reconstituição da fuga de Dutra Pinto. Foi montado na área externa do estúdio uma réplica da parede do flat por onde Dutra Pinto desceu nove andares. Usando peruca loira, um dublê imitou a descida.

O programa do SBT também saiu em defesa de Geraldo Alckmin (PSDB), que esteve na casa de Silvio Santos para ajudar nas negociações. Foram exibidas mais de 20 entrevistas de pessoas defendendo a atitude do governador e nenhuma contrária a sua decisão. O ministro da Saúde, José Serra (PSDB), também deu entrevista dizendo que, ?se fosse Alckmin teria a feito a mesma coisa?. Gugu agradeceu ao governador.

Deixar o caso de Silvio Santos para o fim revela que o principal alvo do SBT agora é o ?Fantástico?, já que considera ganha a batalha contra Faustão. A idéia é também entregar a audiência alta para o ?Show do Milhão?.

O sequestro entrou em pauta na Globo no início do ?Fantástico?. Entre 20h40 e 21h, o programa exibiu sua ?reportagem de capa?, restrita a um resumo do caso. Cid Moreira anunciou reportagem sobre a vida anterior de Fernando Dutra Pinto, com depoimentos de pessoas que o conheceram em Itapevi, inclusive uma ex-namorada 10 anos mais velha que ele. Conseguiu os boletins escolares de Dutra Pinto, que não registravam notas vermelhas.

O ?Fantástico? contou que a família de Silvio Santos viajou e repetiu trechos de entrevistas feitas durante a semana com o governador Geraldo Alckmin e o pai do sequestrador. Transcreveu partes da única entrevista do apresentador, à rádio Jovem Pan, na quinta-feira de manhã, e entrevistou um capitão da Polícia Militar que participou da negociação para a rendição do sequestrador.

O ?Cidade Alerta? (Record) também mostrou ontem entrevista com a médica, com policiais que estiveram no local e uma reportagem sobre o cativeiro onde ficou Patrícia Abravanel, filha de Silvio Santos."

 

"Apresentador recusa 70 entrevistas", copyright Folha de São Paulo, 3/09/01

"Silvio Santos recusou mais de 70 pedidos de entrevista para falar sobre seu sequestro, incluindo atrações do SBT, da Globo, BBC (Inglaterra), CNN (EUA) e até o ?Hola, Susana!?, uma espécie de programa da Hebe na Argentina. O apresentador foi procurado por vários jornais internacionais, entre eles, ?The New York Times?.

Os jornalistas Pedro Bial e Glória Maria, do ?Fantástico?, também tentaram marcar uma entrevista com Silvio Santos, que recusou a proposta. O ?Domingo Legal? (SBT) tentou negociar a gravação de um depoimento de Silvio Santos sobre as horas que passou com Fernando Dutra Pinto, mas a gravação não foi feita.

O ?Domingão do Faustão? (Globo), segundo a Folha apurou, não solicitou entrevista com o apresentador, já que a direção do programa avaliou que seria melhor não explorar o caso.

Além de tentar entrevistar Silvio Santos, atrações de TV, como ?Domingo Legal?, ?TV Fama? (Rede TV!), ?Cidade Alerta? (Record) e ?Programa do Ratinho? (SBT), solicitaram a participação do governador Geraldo Alckmin, que recusou os pedidos."

 

"Mais uma demonstração de amadorismo", copyright Jornal do Brasil, 31/08/01

"Em março de 1994, o cardeal-arcebispo de Fortaleza, dom Aloísio Lorscheider, foi feito refém por presos amotinados num presídio no Ceará. Na época, o governador Ciro Gomes interferiu no processo de negociação e determinou ao comandante da polícia que atendesse todas as exigências dos rebelados. O grupo exigiu e obteve metralhadoras, coletes à prova de balas, botas militares e até um carro-forte. Policiais despiram coletes e botas, cedidos aos bandidos. A estratégia deu relativamente certo – o cardeal sobreviveu – mas por pura sorte. Dezenove marginais conseguiram escapar da perseguição policial.

Todos os manuais de gerenciamento de crises adotados pelas mais diversas forças policiais do mundo apontam quais são as exigências que jamais devem ser atendidas, entre elas se incluem o fornecimento de armas e de bebidas alcoólicas. Os manuais também frisam que uma situação estática jamais deve tornar-se móvel, ou seja, não devem ser fornecidos aos criminosos meios de transporte.

No Rio, em junho do ano passado, o governador Anthony Garotinho interferiu diretamente num assalto a ônibus no Jardim Botânico. Fez ligações telefônicas ao coronel que negociava com o assaltante do ônibus, decidindo o destino da crise, que resultou em mortes de um refém, a bala, e, por asfixia, do próprio assaltante.

Ontem, em cadeia nacional de televisão, acompanhamos mais uma demonstração de amadorismo por parte de autoridades de Segurança. Dessa vez, em São Paulo. Em certo momento, o comandante da Polícia Militar, coronel Rui Cesar, o secretário de Segurança Pública, Waldir Petreluzzi, e o próprio governador, Geraldo Alckmin, estavam no local da crise, negociando o fim do seqüestro do apresentador Silvio Santos.

Em qualquer polícia do mundo, o negociador é um policial com talento específico, habilitado para tal atividade por meio de cursos de formação que podem durar mais de 30 dias. Importante: este policial deve pertencer hierarquicamente a um escalão intermediário. Não deve ter poder de mando sobre os demais policiais, justamente para que não seja pressionado pelo seqüestrador a cumprir exigências, perdendo a capacidade de ganhar tempo e também de barganhar decisões.

A presença de qualquer autoridade governamental no cenário da crise é extremamente perigosa e prejudicial ao processo de negociação. Por que motivo o seqüestrador vai perder tempo negociando com um policial se a maior autoridade do estado está ali, a poucos metros de distância? A técnica de negociação visa justamente ganhar tempo para cansar o seqüestrador ou para se preparar uma ação armada. Para se ganhar esse tempo, o negociador alega que vai levar as exigências às autoridades.

No Brasil, infelizmente, considerações políticas se sobrepõem às considerações técnicas. Isso ocorre em parte pelo desejo do político de aparecer bem para seus eleitores. Ocorre também pelo fato de as autoridades, sabendo que investem tão pouco na qualificação dos profissionais de Segurança Pública, não confiarem em seus próprios subordinados, avocando para si a coordenação dessas crises. Os reféns têm contado mais com a própria sorte do que com a competência das autoridades."

    
    
                     

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