Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Daniele Madureira

REVISTAS CULTURAIS

“Abril conquista Bravo! e Cult edita Jovem Pan”, copyright Meio & Mensagem (www.mmonline.com.br), 9/1/04

“O mercado de revistas culturais acaba de ganhar um reforço de peso. A revista Bravo!, lançada pela Editora D’Ávila em outubro de 1997, passa ao portifólio da Editora Abril, que assina a edição de março. A D’Ávila, por sua vez, encerra suas atividades: além da Bravo!, o seu único título era a Jovem Pan, cujo destino deve ser a Editora Bregantini, responsável pela Cult.

O fundador da D’Ávila, Luiz Felipe D’Ávila, já havia migrado há mais de um ano para a Abril, onde comanda a Unidade de Negócios Estilo, em que estão as femininas Claudia e Nova. Questionado a respeito das mudanças, D’Ávila afirmou que os detalhes ainda estão sendo fechados e que não gostaria de se pronunciar sobre a negociação por enquanto. Na Abril, a unidade que irá abrigar a Bravo! não está definida e a revista ficará, neste primeiro momento, sob a tutela de Laurentino Gomes, diretor secretário editorial.

No nicho de publicações periódicas voltadas à cultura, a Bravo! tem poucas concorrentes. A que está mais bem colocada, prestes a completar sete anos nas bancas, é a Cult, distribuída pela Fernando Chinaglia. Segundo a Editora Bregantini, a revista (que não é auditada) tem tiragem de 30 mil exemplares, sendo 8 mil assinantes e venda em banca entre 15 mil e 18 mil. Na Bravo!, de acordo com dados de setembro do Instituto Verificador de Circulação (IVC), a tiragem está em 27,7 mil e a circulação em 16,4 mil.

Uma novata na área de cultura, que chega com disposição para render filhotes editoriais, é a Possível, bimestral lançada pela Leitura e Arte em maio de 2003. Assim como a Bravo! e a Cult, a Possível também desfruta da Lei Rouanet. Segundo o gerente comercial e de marketing da revista, Ricardo Battistini, são quatro cotas anuais de patrocínio, cada uma no valor de R$ 50 mil. O primeiro número auditado pelo IVC, de agosto-setembro, apresentou circulação de 1,5 mil (venda avulsa) e tiragem de 10 mil exemplares.”

 

“O corpo no centro das discussões”, copyright O Estado de S. Paulo, 11/1/04

“A revista Gesto, do Centro Coreográfico do Rio, chega à sua terceira edição e a novidade é que a partir desse número a publicação será bilíngüe, português/inglês. Há um fato curioso que envolve a revista: até hoje, mesmo sendo uma das primeiras medidas anunciadas por César Maia ao assumir a prefeitura do Rio, a inauguração do Centro Coreográfico já foi adiada por pelo menos seis vezes desde 2001. Há promessas de que a abertura será neste ano.

Gesto é uma publicação bem cuidada, possui uma diagramação leve e pluralidade de assuntos, mesmo com uma só temática. O tema corpo, presente nos números anteriores, firma-se nesta edição em entrevistas, ensaios e resenhas que abordam diferentes pontos de vista, como o corpo relacionado à religiosidade, ou às performances, à filosofia, à literatura. Ainda há um belo ensaio fotográfico de Miguel Rio Branco para lembrar a academia de boxe Santa Rosa.

O jornalista Gustavo de Oliveira, no texto In Corpore Santo, estabelece um diálogo entre o corpo e a religiosidade, mais detalhadamente o candomblé, pelo aspecto da antropologia. Oliveira analisa a gestualidade e danças presentes nos rituais, observa como todos os movimentos são exaustivamente ensaiados. Não há espaço para o improviso. O corpo é de extrema importância para essa religião, ?o receptáculo do orixá, o local privilegiado onde as esferas do sagrado e do profano se entrelaçam?.

Em uma entrevista com a ensaísta RoseLee Goldberg, autora do clássico livro Performance Art, o corpo passa a ser analisado pela perspectiva das performances. RoseLee usa o Futurismo, movimento liderado por Marinetti, como o ponto de partida para a história dessa expressão artística no século 20, que influencia até hoje coreógrafos e intérpretes, como por exemplo na França Xavier Le Roy, Allain Buffard, Jerôme Bell, que elaboram uma sofisticada e radical leitura dessa arte performática.

Para ela, historicamente, a Nova York do pós-guerra tornou-se o ?quartel general da vanguarda?, com os artistas promovendo happenings, eventos e performances ?sem obrigação de agradar ou desagradar a qualquer um?. Essa efervescência toma um novo impulso nos anos 70: ?Havia muito pouco para realmente se ‘ver’ nas galerias ou museus dos anos 1970, a performance era a única forma tangível, capaz de oferecer um ponto de convergência para que as pessoas se reunissem e vissem alguma coisa.? E aponta para o futuro a fusão de disciplinas e linguagens.

A expressividade dos gestos do cotidiano é o assunto de Charles Feitosa, doutor em filosofia pela Universidade de Freiburg na Alemanha, tendo como ponto de partida o livro Gesten, de Vilém Flusser. Já o professor de Teoria da Literatura da Uerj, Gustavo Bernardo, estuda as representações do corpo feminino na literatura.

Um pouco da história da dança brasileira é resgatado com um belo perfil da intrépida Graciela Figueiroa. A uruguaia influenciou e até irritou muitos críticos com sua dança de vanguarda à frente do Grupo Coringa. Um grupo que chamava a atenção pela variedade ? altos, baixos, gordos e magros, um trabalho aberto a todos aqueles que quisessem dançar. Não havia uma técnica rígida, e sim uma técnica que respeitava cada corpo.

Na revista ainda há espaço para a resenha do livro Nietzsche e Deleuze ? Que Pode o Corpo, (Relume Dumará, 290 págs., R$ 32), de Daniel Lins, e Adeus ao Corpo (Papirus, 240 págs., R$ 38), de David Le Breton. Informações sobre a Gesto na Secretaria Municipal das Culturas (tel. 0–21 2265-9960).”

 

ALÔ ALÔ MARCIANO

“Que planeta?”, copyright Folha de S. Paulo, 10/1/04

“BRASÍLIA ? Um marciano aterrissou no Brasil ontem com a missão de avisar que seu governo, invocando o princípio da reciprocidade, enviará jipinhos e sondas para cá. Desejando saber com quem lidava, decidiu se inteirar do noticiário da semana. De cara, viu que vivemos no melhor dos mundos. Duas reuniões ministeriais para anunciar que agora vai. C-Bond vendido com ágio, risco-país no chão. O BC mete a mão no mercado de câmbio e o dólar não estoura. E o brasileiro demonstra ao mundo sua altivez. O governo surfou, apoiado na noção de que o povão adora ver americano tocar piano, numa decisão de instância inferior e virou tema de entrevista coletiva do Colin Powell. Com direito a telefonema! Haja coragem dessa bugrada, pensou o marciano. O fato de o jornal ?The New York Times?, o mais importante do mundo, ter citado que Powell colocou o Brasil ao lado de Coréia do Norte e Sudão como países que ?atormentam? os EUA é motivo de orgulho. Qualquer outra leitura disso é coisa de gente colonizada. Mas aí o quadro ficou turvo. Ele não entendeu bem a história de uma migração de fortunas para fundos cambiais, que há dois anos seria alvo da estridência da combativa bancada petista. Nem captou o que o governo quer das agências reguladoras. Enquanto isso, partidos e ministros prometem até a Segunda Vinda para ficar com um cargo. E, sob ameaça de um conflito armado, uma capital de Estado passou a semana sitiada. Confuso, o marciano voltou para casa incógnito. Achou prudente esperar um pouco para ver em que planeta exatamente está pisando.

* O secretário de Imprensa da Presidência, Ricardo Kotscho, liga para contestar a afirmação, feita neste espaço na quarta-feira, de que ?tem por hábito destratar jornalistas?. Afirma que os incidentes que colecionou ao longo de 2003 foram apenas entrechoques normais e que busca apenas ?civilizar? o contato entre imprensa e presidente. Opinião, assim como conceitos de civilidade, varia.”

 

TINTIM

“Tintim, herói há 75 anos”, copyright Jornal do Brasil, 10/1/04

“Herói de várias gerações, o personagem de quadrinhos Tintim faz 75 anos hoje. As comemorações espalham-se sobretudo no mundo francófono. Além de estampar uma série com 50 mil cópias da nova moeda de 10 euros, na Bélgica, país de Hergé, seu criador, o jornal La Libre Belgique dedicou suas cinco primeiras páginas ao evento. E a editora Moulinsart et Casterman publicará a última aventura do repórter mais conhecido do mundo, não concluída por Hergé antes de sua morte, em 1983.

Na França ? que adotou o personagem como seu, o que chateia um bocado aos belgas ? , o jornal Le Figaro reservou uma página especial para o assunto. O Le Monde também comenta o aniversário e apresenta uma resenha do novo livro.

Até hoje, em todo o mundo, foram vendidos mais de 192 milhões de livros, em 55 língua, desses, 116 milhões em francês.

Nada disso poderia ser previsto 75 anos atrás, em 10 de janeiro de 1929, quando o primeiro episódio, Tintim na terra dos sovietes, foi lançado no suplemento infantil do jornal católico Le Vingtiéme Siècle (O Século Vinte). Logo, logo, as tirinhas já estavam famosas.

O fã clube cresceu e ficou enorme. Diz a lenda que, na França, o General Charles de Gaulle, teria comentado: ?Meu único rival internacional é o Tintim?. Recentemente, a Assembléia Nacional francesa levantou um debate sobre a afiliação política do personagem.

A vida de Tintim e seus companheiros de aventuras foi controversa. Hergé, cujo verdadeiro nome era Georges Remi, continuou publicando durante a ocupação alemã na Bélgica, na Segunda Guerra Mundial, o que gerou protestos e acusações de colaboracionismo. Também há polêmica sobre estereótipos e brincadeiras racistas, especialmente no livro Tintim no Congo.

Mesmo após a morte de Hergé o aventureiro continuou gerando críticas. Desta vez por conta de sua exploração comercial. Os fãs, principalmente na Bélgica, diziam que o controle muito forte restringia o contato e o conhecimento do público.

Já houve planos de o personagem se tornar um filme de Steven Spielberg, no qual cogitava-se o nome de Tom Hanks para o papel de Capitão Haddock. Mas tais planos estão em discussão há anos. E agora, espera-se um museu, mas que não deve ser aberto antes de 2007.

A editora Moulinsart et Casterman publicará sua última aventura, a incompleta Tintim e a Arte-Alfa. O título foi escolhido por Hergé, que deixou desenhos (até o quadrinho 42), anotações e esboços sobre a mesa de trabalho em Bruxelas.

No último quadro desenhado por ele, o repórter anda, com uma arma apontada para suas costas, em direção a uma funesta consagração. O herói dos quadrinhos seria transformado em estátua depois de banhado em bronze derretido.

O mago maléfico que lhe reserva este destino ri da situação e fala: ?Fique feliz, seu cadáver estará em um museu. E ninguém terá dúvidas de que esta obra constitui o último legado deste pequeno Tintim?.

Os quadros seguintes foram traçados pelo autor, mas foram deixados em branco. E assim continuarão nesta edição comemorativa.

Em 1986, um livro em edição de luxo foi publicado com a história, mas ele se separava entre parte completa e croquis. Já agora, a obra é apresentada continuamente, tem o mesmo formato (e preço) dos livros anteriores.

A Arte Alfa é uma paródia à pop art, na qual todas as obras têm forma de letras do alfabeto, e mostra um desejo que Hergé tinha de abordar um mundo bem diferente do que Tintim a arte contemporânea. Daí a intriga se desenvolver a partir do roubo de uma peça de museu.”