Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Das abstrações do risco Brasil

MEGABANCOS

Afonso Caramano (*)

O risco Brasil cresceu porque Luiz Inácio Lula da Silva lidera as pesquisas eleitorais ou porque Lula lidera as pesquisas eleitorais o risco Brasil cresceu?

Retórica, blábláblá e desmentidos permeiam os noticiários; analistas econômicos explicam suas teorias em claro economês, fazem previsões de curto prazo e lançam suas fichas para o futuro. O candidato do PT tenta se desvencilhar de mais essa pecha que lhe imputam, declarando que é absurdo vincular os resultados das próximas eleições à instabilidade do mercado financeiro, e que o Brasil não deve fazer esse jogo, pois tem moeda estável e política econômica definida. É um discurso mais light e seguro, segundo os jornais. Mas o mercado tem vida própria, e a mídia muitas vezes ecoa a sua voz: a intensidade, é claro, depende das conveniências e de seus próprios interesses.

Nesse fogo cruzado de informações, o leitor, espectador-eleitor fica à deriva num mar de abstrações analíticas. Embora diretores de instituições bancárias e financeiras tenham desmentido os relatórios de suas matrizes, afinal, conhecem melhor a realidade econômica e potencialidade de nosso país, os diagnósticos, para ser preciso, de quatro instituições multinacionais soam quase como verdades irrefutáveis em nosso espírito provinciano e patrimonialista, e nas orelhas de uma multidão acostumada apenas aos noticiários da TV. Eles são estrangeiros e sabem o que dizem ? pensaria o cidadão comum.

Algo muito mais concreto

Imaginar, talvez, uma conspiração seria exagero. Mas já conhecemos esse filme e o nível das campanhas presidenciais, ademais qualquer semelhança com os nossos vizinhos Argentina e Venezuela não é mera coincidência. Cada um que tire a sua conclusão. Somente carecemos de mais e melhores informações, uma vez que notícias como a do jornal O Globo sobre a reunião do Banco Mundial e o FMI, e o alerta dado ao Brasil sobre nosso endividamento externo e os conseqüentes riscos, não causam nenhum debate sério. E passariam quase despercebidas não fosse o excelente artigo do Sr. Gilson Caroni Filho (O Globo e o FMI ? "A notícia que não estava lá") [ver remissão abaixo].

Corremos o perigo de seguirmos os mesmos passos da Argentina? Para quem são maiores os riscos? Para os investidores estrangeiros ou para nós, pobres brasileiros? Afinal de contas, onde diabos está a verdade dos fatos? Estaria nos prognósticos das instituições financeiras multinacionais, conhecedoras desses relatórios do Bird e do FMI, ou tudo não passa de um conluio para desestabilizar a liderança do PT nas pesquisas eleitorais?

Ou ainda, admitindo-se uma terceira hipótese: o risco Brasil cresceu realmente devido à política econômica adotada na era Fernandista, e admitir isso seria assumir a culpa e jogar no lixo de vez as possibilidades do candidato governista. Daí, impingir ao adversário os riscos de uma desestabilização seria mais um recurso velado (do governo) no pleito eleitoral.

Nessa história toda, quem realmente corre o chamado risco Brasil? Não seriam os brasileiros no seu dia-a-dia de trabalho mal-remunerado, de injustiças, de violências e corrupção? Por aqui risco significa algo muito mais concreto que uma abstração avaliatória para megainvestidores.

(*) Funcionário público municipal, Jaú, SP