LIFE DE VOLTA
“?Life? voltará como suplemento de jornal”, copyright O Estado de S. Paulo / The New York Times, 18/05/03
“Provando mais uma vez que a revista Life é difícil de matar, a Time Inc. confirmou que vai ressuscitar a publicação, célebre por seu fotojornalismo, como suplemento dominical do jornal.
A Life nasceu em 1936, como semanário, e teve vida longa até seu formato e abordagem serem derrotados pela televisão e pela crise no setor. Fechou em 1972, foi relançada como revista mensal em 1978, virou semanal durante a primeira Guerra do Golfo e foi extinta de novo em 2000. Desde então, têm sido publicadas edições especiais esporádicas, para manter o nome vivo.
A nova Life vai concorrer com as revistas Parade, de propriedade da Advance Publications, e USA Weekend, da Gannet Co. Um protótipo inclui elementos da Time e da People, duas revistas semanais da companhia, emoldurados pela exuberante fotografia da Life. A revista terá papel mais grosso, para valorizar as fotos.
?Fizemos pesquisas na indústria dos jornais para saber quais são as necessidades?, disse Andrew Blau, gerente-geral do Time Magazine Group, que publica a Life. ?Ela deve ser algo pelo qual as pessoas esperarão nos fins de semana.?
A Time Inc. procura parcerias com jornais em parte porque, sem eles, o novo produto não terá distribuição. A Parade, que existe desde 1941, chega a 36 milhões de casas por meio de 330 jornais dominicais. A USA Weekend tem circulação de 23,7 milhões de exemplares, encartados em 598 jornais da Gannet e outras companhias.”
OS ELEMENTOS DO JORNALISMO
“Jornalismo conduz auto-exame da sociedade americana”, copyright Folha de S. Paulo, 18/05/03
“O jornalismo americano, principal referência para o brasileiro há pelo menos 50 anos, atravessa um de seus períodos históricos de maior perda de credibilidade.
O processo crescente de absorção de veículos de comunicação a grandes oligopólios empresariais com interesses múltiplos e por vezes conflitantes, a erosão das tradicionais barreiras que separam redações de departamentos comerciais (sobretudo no setor de revistas), a por vezes exagerada transformação da notícia em espetáculo, o engajamento ostensivo a políticas do governo dos Estados Unidos após os atentados de 11 de setembro e a ocorrência de graves erros de informação, como o recente escândalo que envolve o mais prestigioso diário do país (?The New York Times?), são apenas alguns exemplos dessas dificuldades.
Como é típico da cultura coletiva dos Estados Unidos, esses temas não passam batido na própria mídia.
Ao contrário de outras sociedades, a americana nunca deixa de se examinar nos piores momentos, mesmo quando as consequências da discussão possam ser potencialmente prejudiciais a seus promotores.
?Os Elementos do Jornalismo -?O que os Jornalistas Devem Saber e o Público Exigir?, livro de Bill Kovach e Tom Rosenstiel que acaba de ser lançado no Brasil, demonstra a veracidade das afirmações do parágrafo anterior.
Trata-se do resumo de uma exaustiva jornada de seminários, entrevistas e reuniões que envolveram cerca de 3.000 pessoas, inclusive 300 jornalistas, a partir de 1997, sob a coordenação desses dois estudiosos dos veículos de comunicação.
Também é característico do modo de pensar e agir da maioria dos americanos uma certa ingenuidade, a excessiva crença em conclusões deduzidas de pesquisa quantitativa e um otimismo quase inocente (com frequência religioso) em relação à prevalência do ?bem? sobre o ?mal?, na perspectiva maniqueísta que sempre foi importante no país e que se tornou absolutamente hegemônica desde 11 de setembro de 2001.
Essas deficiências de análise, tão comuns em estudos acadêmicos produzidos nos EUA, são visíveis no trabalho de Kovach e Rosenstiel, que também cedem à recorrente tentação local de explicitar um receituário, o qual, se seguido pelos profissionais do jornalismo e reivindicado por seu público, poderá salvar a profissão e a indústria da comunicação dos demônios que as afligem.
Tais simplificações de forma não anulam, no entanto, a relevância da maioria das constatações e mesmo dos conselhos que Kovach e Rosenstiel alinhavam ao longo das quase 300 páginas de seu livro.
Trata-se de um material de grande utilidade que, analisado com perspectiva mais crítica e intelectualmente mais sofisticada do que seus bem-intencionados autores são capazes de oferecer, pode de fato ajudar bastante a compreender a origem das dificuldades do jornalismo contemporâneo e a conceber soluções para elas.
Dada a influência que o jornalismo americano exerce sobre o brasileiro, a leitura desse ?Os Elementos do Jornalismo? é ainda mais recomendável aqui, inclusive devido ao excelente prefácio à edição nacional, redigido por Fernando Rodrigues, repórter especial e colunista da Folha, e à ótima tradução de Wladir Dupont. Carlos Eduardo Lins da Silva é diretor-adjunto de Redação do jornal ?Valor Econômico?.
Os Elementos do Jornalismo Autores: Bill Kovach e Tom Rosenstiel Editora: Geração Editorial Quanto: R$ 29 (302 págs.)”