Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

David Shaw

ASPAS

THE NEW YORK TIMES

"?Eu sou o New York Times, o New York Times sou eu?", copyright O Estado de S. Paulo / Los Angeles Times, 15/07/01

"Ele foi, durante muito tempo, a dama grisalha dos jornais americanos, conservador no seu jornalismo a ponto de se recusar a chamar os homossexuais de ?gays? até dois anos após a morte de Rock Hudson em conseqüência da aids, e não usou a forma de tratamento Ms. – que não identifica o estado civil da mulher – a não ser 14 anos após o lançamento de uma revista com o nome Ms.

The New York Times ainda se mantém fiel a muitas de suas tradições: não pública uma coluna de horóscopo, nem histórias em quadrinhos, e nem uma seção de consultas sentimentais, e continua a identificar terroristas e assassinos escrevendo o seu nome precedido da forma de tratamento ?Sr.?

O Times tornou-se mais brilhante e vivaz nos últimos anos, porém a verdadeira revolução que está ocorrendo no jornal mais influente dos Estados Unidos não envolve o seu conteúdo ou a aparência, tanto quanto o seu alcance e sua posição financeira – e, portanto, o seu futuro.

Durante mais de um século o Times tinha um alcance e exercia um impacto que iam muito além da Nova York metropolitana. Agora sua antiga ambição de se tornar um jornal verdadeiramente nacional – de atrair grande número de leitores e anunciantes por todo o território americano – está se concretizando rapidamente.

Os últimos anos transformaram o perfil financeiro do Times dramaticamente, dando-lhe uma preponderância esmagadora de anunciantes nacionais, pela primeira vez. Analistas afirmam que em vista disso o Times está em condições de superar a desaceleração econômica que está induzindo a maior parte da indústria de jornais a operar de um modo que garanta a sua sobrevivência.

Embora continue profundamente arraigado em Nova York, o Times atrai um público leitor que é definido mais pela demografia do que pela geografia, exercendo poder de apelo sobre os cidadãos instruídos e abastados dos Estados Unidos inteiros. Baseando-se em entrevistas individuais, de alcance profundo, com assinantes selecionados, o Times tenta criar o tipo de comunidade nacional de interesses e atitudes que se imaginava que só a Internet poderia tornar possível.

Os leitores mais leais do jornal têm o equivalente ao ?vício de ler The New York Times… quase uma sensação de loucura… quando não conseguem obtê-lo,? de acordo com a pesquisa do jornal. O Times consegue atrair anunciantes dispostos a pagar preços mais altos para atingir o público desejável.

Ainda em 1996, os anunciantes nacionais, inclusive companhias de transportes aéreos, fabricantes de computadores, instituições financeiras e companhias automobilísticas, representavam apenas 31% da renda obtida pelo jornal com anúncios. No ano passado os anunciantes nacionais foram responsáveis por 82% de sua renda produzida por anúncios – porcentagem de quatro a cinco vezes superior à média dos diários metropolitanos.

O Times conseguiu atrair esses anunciantes lucrativos em grande parte porque sua circulação nacional aumentou significativamente. Embora o jornal tenha perdido a circulação de 85.000 exemplares nos seus 30 mercados locais, de condados, até a década de 90, nos últimos 15 anos ele conseguiu atrair 175.000 novos leitores fora de seus mercados locais.

Pelo fato de ser publicado na capital financeira, cultural e de mídia dos Estados Unidos, The New York Times está em posição de unir, de certa forma, um público nacional de elites – e de funcionar como megafone sofisticado para os formadores de opinião do Leste naquelas áreas.

A facilidade cada vez maior de obter o jornal em todo o país também contribui para sua influência, já considerável, sobre outros veículos de informação.

Historicamente, os jornais diários metropolitanos têm atraído a maioria esmagadora dos leitores e anunciantes de sua área imediata. Como o Times, a maioria deles também perdeu circulação local nos últimos anos, em conseqüência da mudança dos moradores da zona urbana, do aumento da população de imigrantes que não falam inglês e da competição cada vez maior pelo tempo e dinheiro do leitor.

Entretanto, desde há muito tempo The New York Times depende muito menos de sua base local do que os demais jornais: atualmente ele atinge apenas 9% das residências no seu mercado local, em comparação com, digamos, o índice de penetração de 45% do Washington Post. Mas o Times está aprendendo a identificar e recrutar leitores em outras áreas de grande densidade demográfica que têm maiores probabilidades de desenvolver uma lealdade duradoura.

Como sucede com virtualmente todos os demais jornais, The New York Times sofreu com a queda dos anúncios e dos lucros durante a atual redução da atividade econômica. A renda obtida pelo Times com a venda de espaço baixou 11,6% nos primeiros cinco meses do ano. No ano passado, sua matriz, New York Times Co., anunciou planos de reduzir sua força de trabalho que opera em horário integral na proporção de 8% a 9%, por meio de aquisição do controle de sociedades, e eliminação de vagas.

Embora os anúncios sejam responsáveis por 75% da receita do jornal, Kevin Gruneich, analista sênior da Bear, Stearns & Co., afirmou que sua rica mistura de leitores e anunciantes dá ao Times ?uma posição particularmente positiva na indústria de jornais.? Gruneich disse que, embora espere que a indústria de jornais como um todo obtenha lucros menores este ano, ele acredita que os lucros do Times ?permanecerão estáveis, na pior das hipóteses, ou até aumentarão, em virtude de sua estratégia nacional.?

O principal veículo desse seu sucesso é a edição nacional do jornal, lançada em 1980 – à qual, irônicamente, os principais executivos da área comercial do Times se opuseram, durante muito tempo, por verem nisso um desvio não-lucrativo da missão principal do jornal em Nova York.

Na verdade, a edição poderia não ter prosperado, se não fosse a perseverança de um editor de nível médio e a criatividade de um executivo da área comercial sem experiência anterior em jornal.

A edição nacional, que só pode ser obtida fora do mercado de Nova York, contém todas as notícias da edição de Nova York, com exceção de uma versão reduzida de sua cobertura local, de esportes, e de estilo de vida. Nos últimos seis anos, as entregas da edição nacional em residências ampliou-se de 30 cidades para 200 cidades. Sua circulação diária é de 447.343 exemplares – mais de 40% da circulação total do jornal. Os executivos esperam acrescentar mais 250.000 exemplares a essa circulação, na próxima década.

O crescimento da edição nacional suscita uma dúvida intrigante: como uma porcentagem cada vez maior dos leitores e da receita provém de fora de Nova York, seria o caso de o New York Times deixar de ser o Times de Nova York?

Ele se tornará um jornal nacional, como os principais diários da Europa Ocidental – jornais que cobrem e servem o país inteiro, só permanecendo dedicados nominalmente às cidades onde foram fundados?

Os principais editores e executivos do Times afirmam que seu jornal jamais negligenciará Nova York.

?Sempre nos consideramos um jornal nacional-internacional… agora nossa estratégia comercial nacional está começando a chegar aonde sempre estiveram nossas cabeças?, declarou o publisher Arthur Sulzberger Jr. ?Mas este jornal está alicerçado nesta cidade?.

O Times acrescentou três páginas à sua seção Metro (metrópole) desde 1986.

Também ampliou o quadro de pessoal dessa seção de 76 repórteres em 1991 para 99 hoje.

O New York Times ainda dedica uma porcentagem menor do seu quadro geral de funcionários e de seu espaço às notícias locais do que os demais diários metropolitanos. The Washington Post, com um total de 685 pessoas, incluindo repórteres e editorialistas (em comparação, o quadro de pessoal do New York Times é formado por 1.032 pessoas) conta com 106 repórteres; o Los Angeles Times, com um quadro de 1.086 funcionários, conta com 175 repórteres locais.

Mas está evidente que o New York Times passou a dar maior prioridade ao notíciário local do que dava antes.

A cobertura local do Times, como seu público leitor local, concentra grande parte de sua atenção em Manhattan, onde o Times vende mais da metade dos seus jornais de Nova York e ultrapassa, de longe, os seus concorrentes tablóides – o Daily News e o New York Post. O Times está em 3.? lugar, em circulação, nos quatro bairros da periferia da cidade, mas também publica reportagens sobre esses bairros com maior freqüência do que antes.

Alguns críticos alegam que o Times tem, como alvo, um nicho demográfico tão exclusivo, que nunca serviu, realmente, o leitor médio de Nova York. Os editores do Times admitem que seu jornal, com sucursais em 11 cidades dos Estados Unidos e em 25 países, tem um compromisso com os noticiários nacional e internacional que o impede de oferecer a cobertura detalhada do notíciário local que os tablóides oferecem.

?Não podemos vencê-los em termos de quantidade,? disse Joseph Lelyveld, diretor-executivo do jornal desde 1994, que manifestou, em maio, a intenção de se aposentar em setembro, ?mas decidimos que podemos vencê-los em termos de qualidade, e podemos concentrar nossas forças nas reportagens grandes e competivas.?

A melhora da cobertura local do Times começou no fim da década de 80, em virtude de duas circunstâncias:

– O Newsday, tablóide com sede na área suburbana de Long Island, começou a publicar uma edição de Nova York, e espalhou-se a impressão de que ele estava fazendo uma cobertura da cidade melhor do que a do Times.

– Lelyveld e Max Frankel, que o precedeu como editor executivo, acreditavam que a equipe de reportagem local havia sido fortemente reduzida em número e qualidade e não podia fornecer pessoal para várias seções de novas matérias especiais. Na seção Metro sempre houve algumas estrelas, mas a função de repórter da seção Metro no Times era tradicionalmente considerada como degrau para receber tarefas nacionais e internacionais mais importantes, ou como um lugar para descansar e esperar a aposentadoria.

Lelyveld queria mudar isso e ele o fez contratando 31 repórteres locais de outros jornais de Nova York desde 1995 – repórteres que pareciam ter prazer em cobrir o noticiário local a longo prazo. O Times contratou também jornalistas de fora de Nova York, inclusive vários ex-correspondentes internacionais que então trabalhavam na reportagem local.

?Eles foram convencidos de que chefiar a sucursal de Queens ou de Brooklyn era realmente uma grande coisa no momento?… disse Lelyveld. ?Nós lhes pedíamos que cobrissem essas áreas como se fossem um país estrangeiro.?

Embora muitas pessoas achem que o Times está melhor do que nunca, tanto na área local quanto geral, alguns críticos afirmam que o jornal está cobrindo toda a área de Nova York como se fosse um país estrangeiro.

?A cobertura local deles não têm uma margem de vantagem ?, disse Anthony Marro, editor de Newsday, ?porque eles escrevem sobre Nova York para as pessoas de fora… Fazem a cobertura das escolas públicas para pessoas cujos filhos não freqüentam escolas públicas e falam da habitação pública para pessoas que não costumam morar em conjuntos habitacionais e falam sobre transportes para pessoas que não usam o metrô?.

Segundo Marro, isso acontece porque o Times atinge um nicho demográfico muito fino.

O problema não é que o jornal esteja destinado a um nicho demográfico especial. Na realidade, este nicho é o que fornece a motivação para essa edição nacional.

?Achamos – disse Frankel – que, em toda a parte, as elites querem o New York Times?.

Para identificar estas elites, o Times entrevistou desde 1996 milhares de assinantes durante 45 minutos a uma hora, pedindo a cada um deles que ?tente definir nosso leitor leal?, disse Scott Heekin-Canedy, vice-presidente de circulação. ?Logo depois de conseguirmos uma definição básica, desenvolvemos um perfil de pessoas com as mesmas idéias… pesoas que poderíamos tomar como o alvo a atingir, pessoas com os mesmos valores e atitudes dos nossos leitores leais, mas que ainda não tinham o hábito de ler o jornal?.

Para realizar esta pesquisa, o Times contratou Boony Gilbert, especialista em lealdade a marcas comerciais , que conta entre seus clientes a American Express, a aspirina da Bayer e o suco de laranja Tropicana.

?A maioria das pessoas lê um jornal para coisas muito funcionais… coisas que as afetam pessoalmente?, disse Gilbert. ?Mas nós descobrimos que os leitores mais leais do New York Times estão interessados em teorias abstratas, em chegar ao fundo das coisas, em ter surpresas… Elas têm o que nós decidimos chamar de ?curiosi-dade vigilante em relação ao mundo?.

Os leitores do Times ?estão muito mais comprometidos com o jornal, são muito mais apaixonados por ele do que os leitores de outros jornais, ou mesmo do que os usuários de outros produtos que eu pesquisei?, disse Gilbert. ?É uma espécie de co-dependência : ?Eu sou o New York Times. O New York Times sou eu?.

O Times sempre pôde aumentar sua circulação, apesar de elevar seus preços significativamente. Desde 1990, o custo de uma assinatura da edição nacional entregue em domicílio aumentou mais do que o dobro, para US$10,25 por semana, e, nas bancas, deu um salto de 33%, para US$ 1 nos dias de semana, e aumentou quase 60%, para US$4,75, nos domingos. Estes aumentos foram muito importantes para o balanço do jornal: a circulação fornece cerca de 25% da receita do Times, em comparação com cerca de 17% na indústria de publicaçõeses periódicas em geral.

O Times usa seu alto preço como um atrativo para os anunciantes. A campanha é esta: ?Produto de qualidade superior, preço superior?.

A edição nacional não foi inicialmente ?uma grandiosa estratégia para invadir o resto do país?, disse Sulzberger. Foi simplesmente uma resposta preocupada para a crise de energia de fins da década de 1970, quando as linhas aéreas foram obrigadas a cancelar os vôos noturnos que levavam o jornal para todo o país.

A nova tecnologia por satélite fez com que os jornais pudessem ser impressos em instalações distantes, facilitando a distribuição e dando ao jornal horários de fechamento mais tardios.

Nessa mesma época, muitas outras organizações – jornais, revistas noticiosas e redes de televisão – reagiam ao declínio de sua audiência reduzindo a cobertura nacional e internacional e dando mais detaque às notícias locais e a fatos ligados a personalidades conhecidas.

O Times não divulgou, nem mesmo internamente, uma declaração de lucros e perdas relativa à edição nacional, porque a alocação de receita e despesas seria muito arbitrária para ser significativa, como disse John O?Brien, diretor financeiro da New York Times Co. ?Mas, se se fizer uma análise razoável e específica da edição nacional, ela se revelaria tremendamente lucrativa?."

 

COLÔMBIA

"Jornalismo é profissão de risco na Colômbia", copyright The New York Times / O Estado de S. Paulo, 13/07/01

"Oscar Vásquez tinha avisado seu irmão, diretor de notícias de uma emissora de rádio da cidade de Florencia, no violento sul da Colômbia, para que moderasse suas reportagens. Mas José Dubiel Vásquez continuou disseminando informações a respeito da corrupção local, do conflito entre rebeldes e paramilitares e sobre outros temas delicados.

Na sexta-feira passada, Vásquez pagou o preço final por seu trabalho, disseram seus colegas e parentes. Enquanto ele voltava para casa dirigindo seu carro, em companhia de um colega jornalista, depois de transmitir o noticiário matinal, um pistoleiro se aproximou do veículo e disparou três vezes contra sua cabeça. Vásquez morreu imediatamente, tornando-se o segundo diretor de notícias da emissora Voz da Floresta, pertencente à Rádio Caracol, assassinado a tiros desde dezembro.

Vásquez é o sexto jornalista colombiano assassinado este ano. Há dois dias, outro jornalista foi morto a tiros, sendo o quarto profissional de imprensa assassinado no espaço de 12 dias, segundo o Comitê para a Proteção de Jornalistas, de Nova York. Durante todo o ano de 2000, sete jornalistas foram mortos, incluindo pelo menos três em represália por seu trabalho, assinalou o comitê.

?Eu costumava dizer-lhe para não denunciar tantas coisas?, afirmou Oscar Vásquez. ?Este lugar não dá nenhum valor à vida. Mas ele costumava dizer que isso é jornalismo, que é preciso criticar, denunciar os criminosos e a crise. Ele não prestou nenhuma atenção aos meus conselhos.?

Há muito tempo, a Colômbia é um dos países mais perigosos do mundo para o exercício do jornalismo. No final da década de 80, durante o reinado do terror implantado pelos chefões da droga, os jornalistas eram freqüentemente mortos e um importante jornal sofreu atentado a bomba, chocando o país e o exterior.

Atualmente, a matança de jornalistas chama menos a atenção, merecendo geralmente pequenas notas publicadas em páginas internas dos jornais. Mas o comitê informou que, com 34 assassinatos de jornalistas na última década, a Colômbia é, de longe, o país mais perigoso da América Latina para os profissionais da imprensa. Em âmbito mundial, só a Rússia e a Argélia registraram mais assassinatos de jornalistas."

    
    
                     

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