O POVO
"Quem perde é o leitor, ou seja, o cidadão", copyright O Povo, 21/10/01
"Na edição da última quinta-feira, o jornal O Povo trouxe matéria sobre uma série de mudanças na estrutura da Prefeitura de Fortaleza. Entre as várias alterações anunciadas estava o desmembramento das Secretarias Municipais do Desenvolvimento Social (SMDS) e a Territorial (SMDT). A primeira, para dar origem novamente às secretarias da Educação e do Desenvolvimento do Ser Humano e a da Saúde. A segunda secretaria deu origem às Secretarias da Infra-Estrutura e a do Meio-Ambiente. As mudanças são uma espécie de reedição de uma estrutura que a administração municipal apresentava há quatro anos.
A matéria foi publicada, mas o leitor do O Povo correu sérios riscos de não ter tido acesso a essas informações. Não por falta de agilidade ou competência do jornal, mas por um episódio que exige reflexão para que não se repita mais. O editor-executivo do Núcleo de Conjuntura do O Povo, Rodrigo de Almeida, explicou a situação em artigo ainda na quinta-feira. A Prefeitura convocou a imprensa para entrevista para explicar as mudanças e, numa decisão separatista, ignorou a existência do O Povo. Talvez incomodada pelo fato do jornal ter antecipado, na quarta-feira, as mudanças na estrutura e algumas conseqüências políticas, como o desgaste na relação entre o prefeito Juraci Magalhães e a vice-prefeita Isabel Lopes. Desgaste, aliás, negado por ambos, mas confirmado por interlocutores próximos.
A publicação do material sobre as mudanças na Prefeitura só foi possível graças a uma apuração posterior à entrevista coletiva. Os assuntos mais importantes foram apresentados no jornal e o leitor não ficou a ver navios. Mesmo assim, houve prejuízo para o leitor. Alguns assuntos só foram tratados pelo próprio prefeito na entrevista organizada pela Prefeitura, como o aumento do investimento na Educação. A Prefeitura se comprometeu a investir R$ 840 anuais por aluno da rede municipal.
Controle de informação de interesse público?
Se o grosso do material foi apurado e publicado, ainda que num contexto absolutamente desfavorável, talvez algumas pessoas possam considerar desnecessário um comentário aqui sobre o que poderia ter acontecido, mas não aconteceu: a ausência de cobertura sobre um fato importante. Mas sim, é importante tratar disso porque o episódio demonstra um risco para a disseminação de informações que interessam a todos os cidadãos.
Uma coisa é o jornal perder a cobertura de algum assunto importante por problemas próprios de organização e estrutura. Outra bem diferente é ser conscientemente excluído do que foi chamado de entrevista coletiva. Ficou patente que o uso desse termo foi totalmente inadequado nesse caso, pois ?entrevista coletiva? pressupõe a presença (ou pelo menos o convite) de todos os veículos de comunicação para o repasse de informações importantes, de interesse social.
Claro que divergências entre imprensa e governos sempre existirão, é natural que seja assim. Discordância sobre prioridades, decisões administrativas e destaque dado na mídia é algo previsível, com erros e acertos de todos os lados envolvidos. O que não pode acontecer é que o bom senso nas relações desapareça. Como um governo reagiria se um veículo de comunicação participasse de uma coletiva e decidisse não publicar nada por discordar das decisões tomadas? Concordando ou não, criticando ou não, o veículo tem a obrigação de repassar informações que vão afetar a vida de milhares de pessoas. Da mesma forma, o governo tem obrigação de repassar informações para todos os veículos, de forma que o maior número possível de cidadãos tenha acesso a dados fundamentais. Perder isso de vista, para ambos os lados, seria falta de compromisso público.
Má impressão
O assinante José Pires Costa reclamou, na última segunda-feira, da má qualidade da impressão do jornal, que em sua opinião, tem sido um problema corriqueiro. ?Adoro ler O Povo, é a primeira coisa que faço pela manhã. A razão poderia até ser minha idade – tenho 84 anos. Mas fiz operação e consigo ler tudo sem problemas. Será que só eu tenho dificuldade para ler páginas do O Povo?’, perguntou. Não, seu José, não é só o senhor. Na última sexta-feira, recebi correspondência do leitor Hider Rola, da Parquelândia. Ele enviou uma página da edição de 11 de outubro, também com uma péssima impressão. ?Foi impossível ler tudo o que estava nessa página?, comentou, com razão. Na semana passada, reclamei várias vezes em comentários internos da dificuldade de leitura de várias páginas do jornal. Meus exemplares também apresentaram diversos problemas dessa natureza. O problema pode até ser restrito a poucos exemplares em relação ao total de jornais distribuídos, mas para quem recebe um desses poucos exemplares com má impressão, esse argumento não serve como consolo.
Faltou gente
Cruzamento da avenida Senador Virgílio Távora com a rua Ana Bilhar, terça-feira de manhã. Uma tentativa de assalto à agência do banco Sudameris provocou pânico para quem passava no local, uma das principais vias de Fortaleza. A matéria publicada no O Povo repassou informações corretas e necessárias: o grupo de assaltantes estava num carro roubado, muitos tiros disparados pelo grupo atingiram o carro-forte, nenhuma quantia foi roubada. Na cobertura, só faltou gente: depoimento de pessoas que estavam por perto, a pé ou de carro, e presenciaram a ação. Como conseguiram se proteger do tiroteio? Tinha muita criança na área? Alguém já tinha passado por uma situação semelhante anteriormente? Ainda que esteja correta, matéria policial sem uma visão mais humana fica parecida com boletim de ocorrência."