Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Débora Cronemberger

O POVO

"Erros de informação na capa", copyright O POVO, 4/11/01

"Uma conclusão precipitada gerou uma manchete errada na última quinta-feira, o que gerou problemas para algumas entidades de classe, sem falar no prejuízo para a credibilidade do jornal. A manchete principal do O POVO dizia: ?É lei: amanhã é feriado?. De fato, sexta-feira foi feriado, mas não por determinação legal. Inclusive, a informação correta estava claramente exposta nos textos da matéria e da chamada de capa.

O que houve foi um acordo feito entre o Governo do Ceará com a Federação do Comércio do Estado do Ceará (Fecomércio) e a Federação da Indústria do Estado do Ceará (Fiec). Declarando o dia de Finados um feriado, o Governo do Estado pretendeu se antecipar às medidas de racionamento de energia impostas pelo governo federal para a Região Nordeste. Dessa forma, seria possível evitar um dos feriados programados para a região nos dias 16 e 26 de novembro.

Esse foi o início da confusão que resultou na manchete errada: os feriados de 16 e 26 de novembro estão previstos em Medida Provisória, que tem força de lei. Se não consta na Medida Provisória do governo, o feriado do dia de Finados só poderia ser lei se ela fosse de âmbito estadual, o que não é o caso. ?Estranhei a manchete do O POVO. O que existe é um decreto estadual que antecipa uma ação prevista na Medida Provisória do governo federal. Se fosse lei estadual, precisaria ter sido aprovada pela Assembléia Legislativa?, afirmou o procurador geral do Estado, Raul Araújo Filho. O erro provocou situações delicadas. ?Uma manchete como essa é muito séria porque precisaríamos compensar o trabalhador com uma remuneração maior?, alertou Paulo Novaes, presidente da Super-Rede, associação que congrega supermercados do Ceará de pequeno e médio porte.

Mais polêmica na mesma edição

A capa de quinta-feira trouxe ainda outro erro grave de informação. No alto da página, a chamada dizia: ?Reitor da UFC admite cancelar o vestibular?. Assim como no caso do feriado, a informação correta estava no texto da matéria: diante da greve de docentes, o reitor admite a possibilidade de adiar o vestibular, não cancelar. Na quinta-feira pela manhã, recebi o protesto da estudante da UFC, Mônica Mourão: ?É um extremo desrespeito com o leitor fazê-lo ter uma informação na capa e outra matéria e, inclusive, nos leva a desconfiar até que ponto isso foi um mero engano e falta de atenção ou se o jornal está usando de má fé, colocando uma manchete que teria maior repercussão.’ Em seguida, recebi e-mail do coordenador de Comunicação Social da UFC, Ítalo Gurgel. ?Cancelar um vestibular é questão gravíssima e nada ampara esta hipótese na UFC. O título escorregou para a inverdade e o sensacionalismo.’

Foi de fato um erro, mas importante frisar para os leitores que não houve má fé. Creio ser consenso que nem todo erro pressupõe falha de caráter. O correto seria sido adotar o termo usado na matéria: reitor admite adiar vestibular.

Qualquer que seja o equívoco, ele sempre traz prejuízo para alguém. O efeito é agravado quando se trata de uma informação errada na capa de um jornal com tiragem de milhares de exemplares. Mas o que vai fazer a instituição superar o desgaste é admitir publicamente o erro e adotar mais rigor para que o mesmo erro não se repita. A retificação é que foi muito discreta: o alerta quanto aos dois erros foi publicado na seção ?Erramos? de sexta-feira.

A chefia de Redação do O POVO comentou os equívocos.

?A origem da confusão sobre o feriado foi o decreto estadual. Não justifica, mas houve várias interpretações fora do jornal quanto ao feriado, se seria lei ou não?, disse o diretor-executivo Carlos Ely. ?Talvez a gente tenha avançado na leitura sobre a questão da lei, porque se a Câmara de Gestão da Crise Energética concordar com as medidas do governo do Estado, o dia de Finados vai ser considerado lei em substituição à do dia 16 ou 26, tendo que ser paga remuneração em dobro para quem trabalhou esta sexta-feira. Mas foi erro de informação, não houve má fé em nenhum dos casos?, acrescentou o diretor-executivo Arlen Medina.

A tormenta da generalização

Há uma frase famosa do dramaturgo Nelson Rodrigues que diz que toda unanimidade é burra. Adaptando um pouquinho, acredito que chegamos a uma outra verdade: generalizações também não são sinal de muita inteligência.

A polêmica desta semana em torno da Folha 8 da Assembléia Legislativa (AL) vem provocando insinuações bizarras que poderiam ser facilmente esclarecidas: basta que o poder público trate da questão como ela deve ser tratada. Ou seja, como uma questão de interesse público, já que as verbas usadas para o pagamento da folha são públicas.

A lista é formada por prestadores de serviço, o que viabiliza a divulgação dos nomes, ao contrário do que afirma o presidente da AL, deputado Wellington Landim. Haveria problemas jurídicos se fossem servidores legalmente ingressos na carreira por concurso público. Além do mais, a recusa em esclarecer a fundo a questão lança uma suspeita (novamente generalizada, portanto, a princípio equivocada) de que todos da relação estão sendo pagos de forma irregular.

Na última semana, em um reflexo da briga política entre Governo do Estado e a AL, o governador Tasso Jereissati cobrou a divulgação da Folha 8 da AL, que serviria para atender a apadrinhamentos e pagamentos irregulares de salários. Nessa lista, constariam profissionais de várias áreas, inclusive jornalistas. Para o governador, a imprensa vem sendo omissa para esclarecer essa questão. De fato, há muito silêncio em parte da imprensa, mas o leitor do O POVO percebeu que o jornal vem tratando da polêmica, o que é fundamental em termos de credibilidade.

Esse assunto seria o assunto principal desta coluna, mas o foco mudou devido aos erros sérios de edição da quinta-feira. Não faltará oportunidade para uma nova abordagem, mas já fica aqui um questionamento: se não há nada irregular, tampouco há impedimento legal para a divulgação, por que a AL não esclarece de uma vez a questão? A quem interessa que as generalizações persistam?"

    
    
                     

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