Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Débora Cronemberger

O POVO

"A falta de uma precisa apuração na Coluna Política, há cerca de duas semanas, gerou um comentário injusto. O jornalista Fábio Campos, que assina a coluna de terça-feira a domingo, analisou a ação judicial da Prefeitura de Fortaleza contra o Sindicato dos Médicos, que havia paralisado serviços alegando péssimos salários e condições de trabalho. Ao discorrer sobre o assunto, a coluna levantou suspeitas sobre a distribuição de processos judiciais: ?Na argumentação enviada ao juiz Martônio de Vasconcelos (é curioso como as coisas de interesse da Prefeitura costumam cair na 3? Vara da Fazenda Pública), o prefeito alega (…)

A coluna desconsiderou uma questão primordial: checar como é o processo de distribuição de processos às Varas da Fazenda Pública para embasar a insinuação sobre o excesso de ações junto a um determinado juiz. Na última quinta-feira, recebi a visita do juiz Sérgio Luiz Arruda Parente, que assumiu em fevereiro deste ano a coordenação dos trabalhos da Distribuição e dos Serviços de Protocolo e Expedição de Certidões. Incomodado com a insinuação do colunista, o juiz inicialmente tentou um contato com o próprio jornalista, para contra-argumentar. O contato com ele foi feito, mas a conversa não foi possível por uma série de desencontros.

?O comentário da coluna causou um desconforto muito grande. É nosso interesse tornar o processo de distribuição o mais transparente possível?, disse o juiz na conversa com a ombudsman, acrescentando que, para isso, seria fundamental a colaboração das universidades cearenses, para auditoria permanente do sistema informatizado que controla a recepção e distribuição dos papéis e processos. O juiz apresentou números que desmontam a insinuação da coluna sobre atual acúmulo de processos da Prefeitura na 3? Vara da Fazenda Pública. Do início do ano para cá, foram distribuídos 32 processos judiciais sobre a Prefeitura. Deste total, a 3? Vara da Fazenda Pública ficou com quatro processos. A 1? ficou com duas ações, a 2? com três, a 4? com quatro, a 5? com três, a 6? com 11. Por fim, a 7?, com cinco ações.

?Ele tem toda razão, meu comentário não refletiu o novo momento. Eu deveria ter deixado claro que me referia aos últimos anos, antes do juiz assumir essa coordenação?, reconheceu Fábio Campos. ?Seria interessante um levantamento estatístico de distribuição dos processos antes do juiz assumir essa função?, acrescentou.

O episódio provoca uma reflexão sobre o cuidado que todo colunista deve ter num espaço privilegiado do jornal que contempla opiniões pessoais, ao contrário do que ocorre com matérias editoriais. A liberdade de opinar não pode se sobrepor à premissa básica do jornalismo de apurar bem. Uma consulta do colunista ao responsável pela distribuição dos processos teria sido suficiente para evitar um comentário descabido.

Defender que as colunas sempre contemplem ?o outro lado?, em todas as circunstâncias, seria defender o engessamento desses textos. As colunas em geral oferecem textos analíticos sobre fatos. Por outro lado, embora seja uma questão subjetiva, é necessário ter bom senso para reconhecer os momentos em que é fundamental ouvir a outra parte num texto de coluna. O diretor-executivo da Redação, jornalista Arlen Medina, assina a Coluna Política às segundas-feiras e comenta: ?Há análise em que é necessário, em nome da precisão da informação, ouvir o outro lado. É também válido colocar qualquer contra-argumentação em uma coluna imediatamente posterior. Até para o colunista dizer, se for o caso, que não concorda com os argumentos apresentados?, avaliou.

?À medida em que se está expressando uma opinião, o colunista está baseado em contatos e pesquisas, em parâmetros éticos?, comenta Fábio, que toca no cerne da questão em seguida: ?O colunista precisa ter conhecimento de causa para fazer análise?. Isso remete novamente à importância da apuração precisa, o que significa checar informações o máximo possível, para emitir qualquer comentário. E, desta forma, evitar situações como a que atingiu o juiz Sérgio Arruda.

Todo cuidado na apuração é pouco, mais ainda quando se trata de pesquisas com uma série de números. Na edição de terça-feira, O POVO publicou pesquisa do Instituto Datafolha sobre a popularidade de governadores e prefeitos em nove capitais e 10 Estados. O governador Tasso Jereissati (PSDB) obteve 54% de avaliação ?bom/ótimo?. O prefeito Juraci Magalhães (PMDB) teve 32% de avaliação ?bom/ótimo?. O primeiro problema do jornal foi publicar um quadro sem o devido apuro na revisão na lista dos governadores. Estavam trocados os índices ?bom/ótimo? com ?ruim/péssimo?. A matéria dizia, por exemplo, da aprovação de 54% obtida por Tasso Jereissati (que era o índice correto do Datafolha), mas no quadro lia-se o contrário. O governador cearense aparecia com 54% de avaliação ?ruim/péssimo? e 12% de ?bom/ótimo?.

Na quarta-feira, o segundo erro: o quadro, devidamente corrigido, foi republicado em matéria de repercussão. Só que ao leitor não foi dada qualquer explicação de que a republicação ocorreu por erro anterior, o que gerou uma situação confusa. Quem leu a edição de terça e a de quarta, viu duas relações diferentes de números sobre os governadores. A falha na edição do quadro só foi publicada na seção ?Erramos? na quinta-feira.

O diretor-executivo da Redação, Arlen Medina, admitiu que o atraso em reconhecer a falha foi lamentável. ?Isso tudo, de fato, pode passar para o leitor a idéia de que não somos capazes de admitir nossos próprios erros. Alertei o Núcleo de Conjuntura sobre este caso e recomendei que todos os dados relativos a pesquisa sejam checados com maior rigor?, concluiu."

    
    
                     

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