TVE RIO
"TVE Rio supera a crise no orçamento e prepara novos programas", copyright Valor Econômico, 20/02/02
"Com uma verba apertada de R$ 13 milhões por ano e a responsabilidade de fazer um canal cultural e educativo, a TVE Rio, hoje conhecida como Rede Brasil, fechou o ano no azul, depois de seis no vermelho, e prepara novidades para a programação.
Fernando Barbosa Lima, presidente da TVE Rio há um ano, conta ainda com algo em torno de R$ 10 milhões oriundos dos patrocinadores. ?Dá para fazer um bom trabalho, mas ainda assim morri de inveja quando o Jorge da Cunha Lima (da TV Cultura) declarou que sua verba é de R$ 70 milhões?, diz, rindo. ?Mas uma inveja saudável, claro.? A verba anual da TVE vem do governo federal, diferentemente da TV Cultura, que a recebe do governo do Estado de São Paulo.
Segundo Barbosa Lima, fechar 2001 ?no lucro? foi uma conseqüência das mudanças de hábito dentro da emissora. ?Deixamos de ser uma organização pública para ser uma organização social?, explica. Não que a Rede Brasil não seja mais pública, mas a administração de Barbosa Lima se preocupou em aproximar a TV do público em detrimento dos interesses governamentais e, menos ainda, da ditadura do Ibope. Além disso, procurou investir em programas de qualidade, como o divertido ?A Turma do Pererê?, adaptação da obra de Ziraldo feita por Sônia Garcia.
O resultado disso aparece numa pesquisa de opinião encomendada pelo próprio canal à Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj): a Rede Brasil é o terceiro canal mais visto pelas classes A, B e C no Rio. Para um canal público, que normalmente tem audiência bem menor que os comerciais, é um resultado para lá de positivo.
Sobre os procedimentos internos, Barbosa Lima conta que o diferencial está na forma como ele se relaciona com seus mil funcionários. ?Aqui dentro não tem essa de ?presidente?, todos me chamam de Fernando, inclusive os boys?, comenta. No fim do ano, ele foi homenageado pelos funcionários com uma placa de agradecimento. Sua relação com a TVE é antiga. Há 15 anos o jornalista e produtor dirigiu o canal. Na época, foi responsável pela criação de 35 programas, alguns no ar até hoje, como o ?Sem Censura?.
A programação que ele criou no ano passado permanece igual este ano. Mas o presidente da Rede Brasil já adianta algumas novidades – que dependem basicamente de uma verba a mais que a existente para sair do papel. Uma delas é a série ?Macunaíma?. Uma adaptação feita também por Sônia Garcia para o universo infantil. Serão 12 capítulos de 26 minutos que custarão R$ 923 mil à emissora. ?Uma mixaria perto do que se gasta na televisão comercial?, comenta Barbosa Lima. O elenco ainda não foi definido.
Outra aposta do canal é o ?Festival Universitário da Canção?, uma nova tentativa de retomar os festivais de música na TV e de, ao mesmo tempo, aproximar os universitários de todo o país. ?Não vai ter aquele clima nostálgico porque vamos mostrar o que está sendo feito atualmente?, diz, evitando comparações com os antigos festivais. ?Se os universitários estão fazendo axé e pagode, é isso que vai aparecer.?
O ?Festival Universitário da Canção? deve ter sua finalíssima em setembro. ?Vamos fazer propagandas em todas as nossas afiliadas e nas universidades.? O programa será dirigido pelo produtor cultural Adonis Karan.
Por fim, uma novidade de conteúdo jornalístico. Barbosa Lima pretende criar um programa no qual jornalistas de Brasília entrevistarão personalidades brasilienses. Chamado ?Encontro com a Imprensa?, a mesa-redonda política é uma forma de aproximar a Rede Brasil dos telespectadores do Planalto Central.
?Gostaria de me aproximar mais de São Paulo também?, diz. Mas desde que criou a Rede Brasil e passou a ser mais seletivo com o que vinha da TV Cultura – que também exibe poucos programas da TVE – o canal carioca ficou ainda mais distante do canal público paulistano. A alegação de Barbosa Lima é a de que a Cultura é muito voltada para a cidade de São Paulo. ?De qualquer forma, chegamos em São Paulo via TVA, Directv, Sky, parabólicas e agora estamos negociando com a Net?, conta.
O canal, que tem como slogan a frase ?Penso, logo assisto?, quer mostrar que ainda é possível fazer boa televisão. ?Afinal, isto aqui não é um bazar, não vendemos produtos.? Palavra do presidente."
NO. EM CRISE
"Lição para não esquecer", copyright Comunique-se (www.comunique-se.com.br), 25/02/02
"A recepcionista do no. teve que ir ao médico semana passada. Chegando lá, dá o cartão da Saúde Bradesco para passar na máquina. Recusado. Tentam de novo. Recusado mais uma vez. Contacta-se o plano de saúde e vem a explicação: desde de dezembro a empresa não pagava a apólice. A moça, humilhada e furiosa, vai para o trabalho e conta o caso para todo mundo. Os jornalistas vão tomar satisfações com o chefe interino da redação. Calmamente, confirma: o plano não é pago há dois meses e desde a segunda pós-carnaval estava suspenso, embora nada tenha sido comunicado aos funcionários.
Escandalizado/a? Eu não. Para explicar o porquê não tenho que dar um rápido corte espaço/temporal.
Janeiro de 1990, pouco depois que Fernando Collor ter garfado a poupança da gente. Justo num momento desses, a direção do Jornal do Brasil teve a coragem de propor o corte de 25% dos salários dos empregados com o argumento de que estaria em dificuldades financeiras. A resposta foi algo raro: a mobilização conjunta de trabalhadores de uma empresa de comunicação contra um ataque patronal.
(Parênteses aqui. Nesta época, vivi um dos momentos inesquecíveis da minha vida: vi João Saldanha participar de sua última assembléia. ?Recebo 11 cruzeiros pela republicação de minha coluna em quase 50 jornais do país. E agora ainda querem tirar 25% de meu salário?! Nem a folha de Maricá teria coragem de me propor um negócio desses!?, disse, numa voz ainda firme, apesar de ter que ser apoiar na mesa para se manter de pé (quatro meses depois, iria morrer na Itália, durante a Copa). Foi ovacionado pelas cerca de 100 pessoas presentes na assembléia realizada no bandejão do 7? andar. ?Esse João é f…!?, exclamou um gráfico para um funcionário administrativo que estava do lado, enquanto aplaudia. É, ele era. Fecha parênteses)
Naqueles dias, a redação era comandada pelo hoje ex-sócio minoritário do no. (o ex-sócio majoritário, como se sabe, é um dos filhos do dono do JB naquele tempo e irmão de um dos sócios atuais). Na época, como hoje, ele demonstrou claramente de que lado estava – apoiou o corte – e seu método: mandou uma senhora (que depois comandou a redação de O Dia) defender a proposta no meio da redação. Menos de um ano depois, ele se retirava da empresa.
Essa é uma lição importante, que muitas pessoas aprenderam há 12 anos no JB (tendo João como mestre), e outras devem aprender agora com o caso no.: a lealdade destas pessoas – e de outras como elas – não está com seus colegas de profissão. Está com o patronato. Elas não são confiáveis, digam o que disserem. Farão tudo o que os patrões disserem para fazer, inclusive pôr a vida de outras pessoas em risco (imagine se alguém sofre um acidente e só descobre que está sem plano de saúde na hora de ser atendida?). Para todos os efeitos, essas pessoas são patrões e, parafraseando Lúcio Flávio Villar Lírio, ?trabalhador é trabalhador; patrão é patrão?. E é bom nunca se esquecer disso.
Picadinho
De mudança – No dia 28, termina o contrato de aluguel do no. com a ABL. Já está certo que haverá mudança, só não se sabe bem ainda para onde. É possível que se consiga uma prorrogação do contrato na base do amor, mas dificilmente mais do que uma ou duas semanas.
Teste duro – O clima na redação do site está horroroso, como não poderia deixar de ser. O humor das pessoas oscila do desalento à raiva e todo mundo está apelando para todas as reservas de profissionalismo e civilidade para não sair briga.
Malandragem – A Globo.com recusa-se a pagar aos seus jornalistas o que foi acertado entre o sindicato de São Paulo da categoria e os patrões. Alega que não é empresa jornalística. Bem, o que é então? Os italianos da Telecom Italia até devem ter uma definição, mas acho que não seria publicável…"