Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

De olho nas caras mineiras

ENCONTRO IMPORTANTE

Humberto Crivellari (*)

Vivo em um estado da Federação duplamente azarado: perto demais do famoso “eixo Rio-São Paulo” e, portanto debaixo da sombra dele, e longe demais dos focos da atenção da imprensa e de tudo mais que pudesse vir a trazer notoriedade e lucros.

Quando a gente cisma em aparecer, vai pro Rio ou pra Brasília, e chamam o Brasil de “República do Pão de Queijo” (vide Itamar Franco). Nosso povo famoso virou tudo carioca: Juscelino (esse de carioca virou candango. Aliás, foi ele quem inventou o candango), Ziraldo, João Bosco, Fernando Sabino, Otto Lara Rezende, Paulo Mendes Campos, Ari Barroso, Carlos Drummond de Andrade etc. Não tivemos sequer a sorte de o Diogo Mainardi, por exemplo, ter nascido em Santo Dumont!

Pois é, não sei se o OI observa também jornalismo de província. “Às veis” o OI só enxerga jornais e revistas de São Paulo e do Rio. Mas vou tentar.

Existe uma cidade em Minas, chamada Coronel Fabriciano, que tem uma rua chamada Coronel Silvino Pereira, que tem uma meia dúzia de agencias bancárias: Itaú, Real, Unibanco, Brasil e etc. Pois bem, um dia, o colunista social local lascou esta: “A rua Coronel Silvino Pereira, a Wall Street de Coronel Fabriciano…”

Quero falar de uma revista de Belo Horizonte: chama-se Encontro Importante.
Poderia chamar-se Caras Mineiras. Se vierem a procurar-me, para acordo,
poderei ceder, de graça, o trocadilho. Não se trata de coisa que
demande tempo para discutir. Vou citar algumas jóias, reportagens de
capa:

“A Oscar Freire é aqui.” Como não consta dos mapas da cidade de BH a tal Rua Oscar Freire (presumo que seja uma rua), vem a explicação: Bairro de Lourdes, em BH, entra na rota das grifes internacionais sofisticadas. E uma foto na capa da revista mostra uma moça que “exibe seu modelo Dolce & Gabbana comprado por 5 mil reais em loja no Bairro de Lourdes”. A moça tem cara de ser muito inteligente e culta.

Depois diz a capa sobre a embaixatriz Lúcia Flecha: “Arrumei meu primeiro emprego na vida”. Deve ser conseqüência já do programa Meu Primeiro Emprego do governo Lula.

Sob o título de “Política” vem “Os primeiros dias dos mineiros no ministério”. E na página indicada, a 90, sob a manchete “Primeiro escalão”, lê-se: “Os ministros de Minas no governo, Nilmário Miranda, Anderson Adauto e Walfrido dos Mares Guia, já sentem o peso das cobranças logo no início do mandato”. Na ultima página, o senhor Carlos Lindenberg ensina que “Em Minas, o jogo é jogado”.

Pois é, não sei de o OI observa também jornalismo de província. “Às veis” o OI só enxerga jornais e revistas de São Paulo e do Rio. E acho que deve continuar assim.

(*) Neurologista, Belo Horizonte