CENSURA OU CONTROLE?
Num país de população heterogênea, como os EUA, regulamentar a mídia ao agrado de todos não é fácil. A Comissão Federal de Comunicação (FCC), ao mesmo tempo em que é pressionada para restringir o sexo na mídia, vem sendo repreendida por prática de censura. Jeremy Pelofsky (Reuters, 30/1/02) informa que a cantora Sarah Jones está processando a comissão porque esta classificou como indecente uma de suas músicas, o que, segundo a artista, fere seu direito de livre expressão. A FCC chegou a propor que uma rádio fosse multada em US$ 7 mil por tocar a canção, que teria "referências sexuais ofensivas claras e patentes". Jones argumenta que a idéia de sua música é justamente o contrário. "Escrevi Your revolution como uma resposta às músicas das grandes rádios, que muitas vezes tratam mulheres como objetos sexuais ou brinquedos."
Nos EUA é proibida a transmissão de programação obscena ou indecente, e a FCC define como "fala indecente" a que descreve o ato ou os órgãos sexuais de forma ofensiva, "de acordo com os padrões contemporâneos do público".
Segundo Brooks Boliek [The Hollywood Reporter, 7/2/02], grupos conservadores e cristãos fizeram reclamação contra o seriado de ficção Boston Public, da Fox, alegando desrespeito às leis de indecência. Ambientada numa escola pública, a série conta histórias como a da aluna que complementa a mesada trabalhando como stripper ou da candidata a presidente de classe que faz sexo oral com o concorrente para obter apoio. "’Boston Public lida de forma dramática e responsável com fatos verdadeiros ? muitas vezes delicados ? que se apresentam aos nossos filhos diariamente nas escolas", retrucou a Fox.
INTERNET
O professor de Harvard Clark Gilbert realizou pesquisa sobre a reação dos jornais ao fenômeno da internet. Em entrevista a Sean Silverthorne [HBS Working Knowledge, 28/1/02], ele diz que a ameaça da mídia eletrônica é peculiar, porque raramente empresas estabelecidas se preocupam com tecnologias que podem destruí-las. Gilbert exemplifica com a IBM, que, não percebendo o potencial dos computadores pessoais, optou por concentrar-se em grandes servidores empresariais, e em alguns anos perdeu o domínio do mercado de informática. A esses processos emergentes, que mudam a estrutura de um setor econômico, o professor dá o nome de "tecnologia de ruptura".
Gilbert cita o New York Times e o Washington Post como empresas que conseguiram com sucesso montar um serviço de informação na rede. O principal fator para o êxito foi separar a estrutura do jornal impresso da que produz o sítio. Segundo o professor, manter uma equipe única é um equívoco, porque o sítio tende a ser administrado como se fosse um jornal. "A ruptura (tecnológica) cria novos mercados e novos consumidores", diz. "A indústria que surge em torno desses novos elementos eventualmente ataca o mercado estabelecido, mas, muitas vezes na tentativa de se antecipar, as empresas se esquecem do mercado emergente." Os sítios que foram criados separados de seus respectivos jornais tiveram penetração no mercado 60% maior do que os mantidos juntos.