IMPRENSA NEGRA
Os jornais para negros dos EUA estão na fase mais difícil de sua história. A falta de adaptação às novas características da população afro-descendente parece ser o principal problema a ser resolvido, o que indica que há salvação para essas publicações que tiveram importância histórica na luta pelos direitos civis na primeira metade do século 20. Há cerca de 35 milhões de negros nos EUA com ganhos de US$ 602 bilhões por ano. Pesquisa da Universidade do Noroeste revela que o leitores desse grupo étnico gastam mais tempo lendo anúncios nos jornais que os brancos.
"Esses jornais abordam a comunidade negra como se ainda fosse segregada e não encontraram caminho para lidar com um público que vive nos dois mundos", analisa Joel Dreyfuss, redator da Bloomberg Markets, que complementa: "A maioria é de pequenos jornais subfinanciados, cujos donos são famílias que não souberam cuidar bem deles e manter o ritmo". Segundo Chicago Tribune [4/8/02], muitos leitores negros se voltaram para a imprensa comum, o que fez as tiragens do periódicos específicos cair. O Chicago Defender, por exemplo, tinha circulação de 160 mil exemplares nos anos 30 e hoje tem apenas 17 mil. É difícil ter quadro preciso da situação financeira dos jornais para negros, pois são companhias tão pequenas que não são monitoradas por economistas.
John Oliver Junior, presidente da Associação Nacional de Editoras de Jornal, entidade que reúne este tipo de publicação, acha que os associados estão se virando bem, embora não tenha dados para demonstrar isso. Outros analistas vêem claros sinais de dificuldades. "Não consigo me lembrar de período mais difícil do que este para as empresas do que o que vimos experimentando desde janeiro de 2001", reclama Dorothy Leavell, presidente da Amalgamated Publishers, companhia que vende anúncios em publicações afro-americanas.
Ainda assim, há exemplos de editores determinados que deram a volta por cima. Robert Bogle assumiu a Philadelphia Tribune, em 1989, em situação muito difícil. Renegociou dívidas e cortou gastos. Hoje, Tribune é um jornal com desenho atraente que trabalha com margem de lucro entre 10% e 20%.
Outro sinal pouco animador para a imprensa afro-americana é a decadência da Associação Nacional de Jornalistas Negros, que tem 27 anos. No encontro de 2002 da entidade, que aconteceu em Milwaukee, estiveram presentes 2 mil filiados, 25% a menos do que no ano anterior. Em um ano, o grupo perdeu 300 sócios. A reunião também não contou com palestrantes famosos, como ocorrera no passado ? Thabo Mbeki, presidente da África do Sul e ativista antiapartheid, já discursou em evento anterior, por exemplo.
Para piorar, algumas das oficinas mais concorridas eram as ligadas à mudança de profissão. Segundo o New York Times [5/8/02], palestras sobre como virar roteirista de Hollywood ou trabalhar com marketing tiveram mais popularidade que as sobre o aperfeiçoamento do exercício do jornalismo.
NAMORO NA TV
Artigo de James Poniewozik, da Time [12/8/02], chama atenção para o baixo nível dos programas de namoro e casais que invadiram a TV americana. Depois do pioneiro Blind Date vieram Change of the Heart, Elimidate, The 5th Wheel, RendezView, Shipmates, EX-treme Dating, Dating Story, Taildaters, Dismissed, entre outros. Como define o articulista, parece que houve uma "metástase" do problema, que agora afeta também as redes mais respeitáveis.
Em 2000, a NBC achou que Chains of Love (que ganhou a versão brasileira Acorrentados, na TV Globo) estava aquém de seu padrão de qualidade. Atualmente, porém, tem em sua grade Meet the Parents, em que papai e mamãe submetem o pretendente de sua filha a um detetor de mentiras, enquanto este os interroga sobre sua vida sexual. A ABC está para lançar The Dating Experience, em que casais, no intuito de se aproximarem, enfrentam desafios como passar uma noite na prisão de Alcatraz. Na NBC, o programa de namoro se chamará Love Shack. Um homem e uma mulher entram em uma casa e recebem dois pares de pretendentes, tendo que escolher com quem querem ficar e eliminando os outros. Na semana seguinte, um novo par entra na casa e recebe mais dois homens e duas mulheres, dos quais dois serão escolhidos e dois eliminados. O jogo continua deste modo por seis semanas, até que o público escolhe um casal para ficar com o imóvel.
Em geral, os "dating shows", como são chamados esses programas, se dividem em dois tipos. Na TV a cabo e nas emissoras menores há aqueles mais libertinos que unem pessoas que não se conhecem. As grandes emissoras preferem programas que se baseiam em relações mais comuns e têm como premissa os velhos papéis de homem e mulher. Em The Bachelor, da ABC, por exemplo, o homem pode escolher parceira em meio a seu harém de 25 mulheres.
Se essas atrações são uma de besteira e expõem os participantes ao ridículo, por que as pessoas se candidatam? "Ganhei três dias na Califórnia com tudo pago e mais US$ 500 para gastar", explica Justin Allen, participante de um deles.