JORNAL DO BRASIL
Giulio Sanmartini (*)
Nas últimas semanas alguns jornalistas de renome perderam seus empregos por motivos ligados à propaganda e ao merchandising. Agora, o Jornal do Brasil acaba de dispensar os trabalhos de seu colunista esportivo José Inácio Werneck.
Trata-se de um jornalista da antiga. Comecei a acompanhar seu trabalho no fim dos anos 1960, quando aparecia na Resenha Facit (TV Rio), ombreando com comentaristas da estirpe de João Saldanha, Sandro Moreyra, Nelson Rodrigues, Armando Nogueira. Depois tornei-me leitor assíduo de sua coluna semanal no, ainda grande, Jornal do Brasil. Num período ele começou a especializar-se em corridas de fundo, até que um dia desapareceu.
Passadas duas década de seu desaparecimento, durante a Copa do Mundo de 2002, para minha agradável surpresa vou encontrá-lo de novo com uma coluna no Jornal do Brasil. Pelo milagre da internet, ele morando em Bristol (EUA) e eu em Belluno (Itália), surgiu uma amizade sem conhecimento físico. Nesse ano e meio nos "falávamos", pelo menos, duas vezes por semana, repassava-lhe informações sobre o esporte na Itália e trocávamos comentários sobre o assunto. Voltei a ler José Inácio Werneck, todos os sábados no Jornal do Brasil e às quartas-feiras, na Gazeta Esportiva.
No sábado (13/12/2003), recebo de José Inácio a seguinte mensagem:
"A edição online do Jornal do Brasil está complicada. Hoje não consegui entrar na área do leitor, onde estão as colunas, embora já tenha tentado diversas vezes. Eles pedem seu e-mail, password, confirmaçccedil;ão de dados e, depois de você informar tudo, o processo começa num círculo vicioso. Calculo que o Jornal do Brasil deva estar perdendo um grande número de leitores na internet."
Heresia
Informei-lhe que aqui da Itália estava tendo o mesmo problema e não era a primeira vez. Consegui ler sua coluna somente no domingo, mas perdi as do sábado dos colunistas que escrevem diariamente, pois o arquivo ainda não estava atualizado.
No sábado seguinte ele escreveu em sua coluna, à guisa de nota, o seguinte:
"Como brasileiro há muitos anos no exterior, espanto-me com o número de patrícios espalhados pelo mundo. Usam internet como ponto de ligação, o que aumenta a responsabilidade das edições online nos jornais. Peço a seus responsáveis que não atulhem as mesmas de cookies, submarinos cibernéticos nas águas territoriais de nossa privacidade. Sou testemunha que outro dia era impossível acessar o JB, mesmo com o nível de restrições aos cookies em um tolerante low.
Pois é, por essa nota o jornal o dispensou alegando que estava afastando os anunciantes. Na alta Idade Média, onde imperou o obscurantismo, muitas vezes a procura da verdade foi considerada uma heresia. E os que pregavam a verdade eram condenados à fogueira. Ao que parece, alguns "donos" de jornal continuam até hoje nesse período.
(*) Jornalista, em Belluno, Itália