Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Democracia frágil

GUATEMALA

O jornalista guatemalteco David Herrera feriu-se ao saltar de sua caminhonete para fugir de seqüestradores na cidade da Guatemala. Ele saía de seu escritório quando foi abordado por homens bem vestidos, com corte de cabelo militar, que o obrigaram a entrar no veículo. Sob ameaça de rifle, viu o carro ser revistado enquanto rodava. O bando perguntava onde estava "o material" e fazia ameaças de morte. Provavelmente referia-se a fitas que o repórter havia gravado no dia anterior.

Herrera, que é correspondente internacional, vinha ajudando Gerry Hadden, da Rádio Pública Nacional (NPR), americana, a conseguir entrevistas com oposicionistas ao governo. Havia acabado de produzir para a rádio reportagem sobre a exumação de corpos em valas comuns remanescentes da guerra civil no país. Recentemente escrevera artigo para o Boston Globe sobre o fracasso da implementação dos acordos de paz que acabaram com o confronto em 1996, após 36 anos. A versão oficial dos fatos nega que o assalto tenha relação com política. Segundo o governo, os bandidos queriam roubar o veículo.

Marion Lloyd [The Boston Globe, 19/4/02] conta que observadores de direitos humanos denunciam que ataques a jornalistas têm se tornado freqüentes desde que o presidente Alfonso Portillo, de direita, assumiu o poder, em 2000, sendo obrigado a conviver com a liberdade de imprensa. "Agora que o país teve alguns anos de paz, os jornalistas se tornaram mais inquisidores e tocam em mais tabus", analisa Marylene Smeets, coordenadora para as Américas do Comitê de Proteção aos Jornalistas, sediado em Nova York.

ZIMBÁBUE

Geoff Nyarota, editor-chefe do único jornal independente do Zimbábue, The Daily News, foi detido pela polícia sob acusação de ter publicado falsas informações sobre fraude nas eleições presidenciais de março.

O diário denunciou em 10/4 que teria fitas nas quais se ouve um funcionário do governo afirmando que o total de votos do pleito foi acrescido em 700 mil para o presidente Robert Mugabe, garantindo sua reeleição com o total oficial de 2,9 milhões.

O líder oposicionista Morgan Tsvangirai, que supostamente teria vencido não fosse pela fraude ? o resultado foi de 56% a 42% para Mugabe ?, alega ter evidências irrefutáveis da adulteração. Observadores independentes concordam. As irregularidades ficaram tão evidentes os Estados Unidos condenaram o processo eleitoral e a Commonwealth suspendeu o país por um ano.

Mugabe, de 78 anos, é presidente desde 1980, quando liderou o Zimbábue na independência do Reino Unido. Nunca enfrentou oposição forte até anos recentes, quando a economia entrou em colapso e a violência política aumentou.

Nyarota foi enquadrado em lei que proíbe o abuso de "privilégios jornalísticos" e publicação de informações falsas. Segundo Angus Shaw, da AP [15/4/02], a regra faz parte do Ato de Acesso à Informação que o presidente instituiu poucos dias após a eleição. Em março, o Daily News foi ameaçado por ter publicado a notícia de que a comunidade internacional exigia nova votação. Em junho de 2000, uma granada foi arremessada em seu hall de entrada; em dezembro, Mugabe declarou o diário inimigo de Estado, e no dia seguinte suas impressoras foram destruídas por explosivos de uso militar.