Monday, 30 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Democratização das comunicações

FÓRUM DE JORNALISMO

A concentração dos meios de comunicação nas mãos de alguns grupos econômicos, políticos e religiosos é uma ameaça concreta à liberdade de expressão e ao direito de todo cidadão de ser informado. Essa distorção no sistema de comunicação de massas no Brasil será agravada com a entrada do capital estrangeiro no setor, já que o poder aquisitivo e de produção de conteúdos dos grandes conglomerados multinacionais é muitas vezes superior ao das empresas nacionais.

Além disso, a influência estrangeira na comunicação já tem sido extremamente nefasta aos interesses brasileiros, seja na imposição de valores e estilos de vida e de consumo, seja na destruição das mais diferentes raízes culturais e da criatividade inspirada na nacionalidade. A concentração e a desnacionalização contrariam os princípios assegurados nos artigos 220 a 224 da Constituição Federal de 1988, que tratam especificamente da comunicação social e de seus objetivos.

A Declaração Universal dos Direitos do Homem assegura a todo cidadão o direito de ser informado, mas, na sociedade brasileira atual esse direito democrático tem sido esquecido pelas elites dominantes, que controlam as comunicações e as informações de acordo com seus interesses pessoais e políticos; eles impedem a livre manifestação de opiniões, especialmente dos trabalhadores do campo e da cidade, dos grupos e partidos que se opõem às políticas e ao pensamento neoliberal.

O que está em jogo não é só a democratização das comunicações, mas sim a democratização da sociedade, porque é ela que precisa da pluralidade da informação para promover o seu próprio desenvolvimento com total respeito à diversidade cultural e de pensamento.

A exclusão praticada pela mídia a importantes segmentos sociais é totalmente condenável ? e o jornalismo não deve compactuar com a ditadura do pensamento único e muito menos com os métodos de distorção praticados por importantes veículos da imprensa comercial. É preciso garantir o espaço na mídia e o tratamento correto e preciso aos movimentos sociais mais legítimos do País.

Uma das formas de redução do espaço democrático nas comunicações de massas tem sido o círculo vicioso da audiência-lucro-anunciante, que nivela a programação por baixo, estabelece padrões de consumo popular e elimina a diversificação e a possibilidade criativa de atendimento de outros segmentos da sociedade. Essa lógica empresarial empobrece violentamente a qualidade da informação transmitida para o povo brasileiro.

O compromisso do jornalismo é com a cidadania e com os interesses gerais e públicos da sociedade, especialmente na defesa dos setores marginalizados, excluídos e sem espaço no sistema de comunicação. A defesa da liberdade de informação e da cidadania está acima dos interesses comerciais do mercado.

O jornalismo trabalha com a contextualização, a racionalidade e a relação-associação dos fatos, com o entendimento dos fenômenos políticos, econômicos, sociais e culturais. É condenável o sensacionalismo e a exploração emocional dos fatos apenas com o objetivo de lucro ou a medição de audiência.

Todo profissional, todo espaço e todo veículo de jornalismo devem adotar o máximo de transparência com seus leitores, ouvintes ou telespectadores, e inclusive revelar os métodos e processos utilizados na elaboração das notícias, de forma a desmistificar o trabalho jornalístico perante a sociedade. Em nome da transparência jornalística, os profissionais e as empresas devem informar, sempre que possível, suas posições sobre os fatos, inclusive para evitar uma pseudo isenção ou falsa imparcialidade.

É preciso combater as censuras políticas e econômicas que atuam disfarçadas nos meios de comunicação, e a autocensura, muitas vezes estimulada desde os cursos de jornalismo e largamente praticada dentro das empresas jornalísticas. Da mesma forma, é preciso combater a censura do Estado, que é bem mais sutil atualmente, pois funciona na forma de cooptação econômica e na esteira da crise social e do desemprego.

É preciso fortalecer a imprensa comunitária e alternativa, os veículos de comunicação dos movimentos sociais, dos sindicatos, das associações de classe, dos estudantes de todos os níveis, das organizações não governamentais, dos partidos políticos e de todos os segmentos organizados da sociedade.

É preciso defender a legalização das rádios e TVs comunitárias, das rádios e TVs universitárias, e não aceitar que esses veículos se transformem em redes comerciais influenciadas pelo lucro.

Os cursos de jornalismo têm um papel importante na democratização dos meios de comunicação, desde que reforcem a formação do senso crítico e o compromisso social do jornalista, estimulem a descoberta e a participação nos meios alternativos, fortaleçam a luta contra o "coronelismo" eletrônico e a oligopolização da mídia e defendam o acesso de todos ? sem exclusão ? ao sistema de comunicação de massas.

Nesse sentido, os cursos de jornalismo devem buscar o diálogo com os setores marginalizados e com os movimentos populares, inclusive para que professores e estudantes conheçam melhor a realidade brasileira, especialmente os sentimentos e as aspirações daqueles que não têm acesso à universidade.

É preciso defender e participar da reorganização do Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações e lutar pela instalação do Conselho de Comunicação Social previsto na Constituição de 1988 ? com a mais ampla representação da sociedade.