Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Deonísio da Silva

LÍNGUA VIVA

“O bêbado e a balzaquiana”, copyright Jornal do Brasil, 8/12/03

“?Eu bebo, sim, estou vivendo,/ tem gente que não bebe,/ está morrendo.? O latim bibere prevaleceu sobre potare, que tem o mesmo significado. Nossa língua adotou com exclusividade o verbo beber. Quando produziu um sinônimo, trouxe tomian, tomar, de uma antiga forma saxônica, que inicialmente designava ato de pegar, utilizar, usurpar. Potare foi abandonado, mas o radical continuou em potável.

O sambinha continua com um terrível erro de lógica: ?tem gente que já tá com o pé na cova/ não bebeu e isso prova/ que a bebida não faz mal?. Com efeito, é insensata a relação entre morrer e se abster de bebida. Todos morrem, os que bebem e os que não bebem. O excesso de bebida – alcoólica, naturalmente – resulta numa doença terrível, a cirrose, palavra vinda do francês cirrhose, vocábulo criado em 1805 pelo médico francês René Laënnec (1781-1826), a partir dos compostos gregos kirro, amarelo, e o sufixo ose, provavelmente radicado também no grego nose, doença. O doutor, comparando um fígado sadio com o de um alcoólatra, registrou a cor amarela das granulações no do bebum.

O famoso humorista gaúcho Aparício Torelly, que adotou o título nobiliárquico de Barão de Itararé, para fazer blague em cima de uma batalha que não houve, na localidade que lhe inspirou o baronato, descobriu o inverso, sem fazer pesquisa nenhuma: ?o fígado faz muito mal à bebida?.

Outra palavra abandonada foi equus, que cedeu a caballus, cavalo. Mas o radical permaneceu em equitação, o exercício, a técnica ou a arte de andar a cavalo. E, claro, transformou-se num esporte em que homem e animal devem ter entendimento que raia a perfeição. Paradoxalmente, cavalo veio a designar o bruto, a pessoa sem modos, rude. Uma injustiça ao animal, o que, aliás, ocorre também com o burro, invocado para ofender o estúpido, o que não tem inteligência. Ah, se os ofendidos tivessem ao menos um pouco da sabedoria do burro!

O escritor João Guimarães Rosa deixou patente sua admiração por bois, cavalos e burros, especialmente pelo pequeno animal que ele celebrizou no conto O burrinho pedrês. Na história, ameaçado de morte, um bêbado chamado Badu, montado no animal, chega são e salvo ao outro lado de um rio cheio. Oito vaqueiros morrem, mas Francolim também é salvo de modo insólito: agarra-se ao rabo de Sete-de-Ouros, o burrinho pedrês.

Também a palavra morte, radicada no latim em mors, prevaleceu sobre letum, que predominava no latim clássico para indicar o falecimento. No português, letum permaneceu na raiz de palavras como letal, letífico, letífero. E falecer veio a consolidar-se como sinônimo de morrer, quando originalmente indicava faltar e também enganar, do latim fallescere. Está ainda hoje presente em expressões como ?se algum dia eu vier a faltar?, em que ?faltar? é eufemismo para morrer.

Já defunto, outra designação para morto, veio do latim defunctus, cujo significado é pronto. Também é um eufemismo. Foi criado pela Igreja, sempre cerimoniosa com os atos decisivos de nossa existência – nascimento, casamento, morte etc. Defunctus formou-se a partir de defungi, cumprir, acabar, terminar.

Também campus e pavor venceram ager e formido. Ager, o campo cultivado, cujo genitivo é agris, está embutido em agrário, agrimensor, agricultura. Está na ordem do dia – aliás, há mais de quatro séculos – a ?reforma agrária? que, como as palavras indicam, consiste em reformar, isto é, corrigir, retificar a posse agrária, a propriedade da terra.

Como se vê, faz séculos que as palavras viajam e fazem mudanças de significado. A balzaquiana tinha apenas 30 anos no século 19! Atualmente, com a mesma idade das célebres personagens de Balzac, a mulher é mocinha ainda.

A balzaquiana de hoje tem pelo menos 50 anos. O bêbado, qualquer idade.”

 

PESQUISA EM JORNALISMO

“Pesquisadores criam a SBPJor”, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 5/12/03

“A fim de estimular a qualidade das pesquisas em jornalismo e promover a melhoria neste campo, um grupo de pesquisadores criou a Sociedade Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo. A entidade chega para funcionar como espaço para a apresentação de trabalhos e para a formação de redes nacionais de pesquisas específicas. Já são 100 associados.

?Percebemos um aumento tanto em número quanto em qualidade nas pesquisas realizadas nesta área. Já estava na hora de estabelecermos uma relação mais permanente entre estes pesquisadores?, disse Elias Machado, professor da Universidade Federal da Bahia e presidente da SBPJor. Os encontros entre pesquisadores acontece desde o início dos anos 90, mas foi durante um evento realizado na Universidade de Brasília, no último final de semana, que a SBPJor foi criada.

A Sociedade traz em seu site dados do Censo mostrando que em 1993, não havia grupos de jornalismo registrados. Já em 2002, há o registro de 15 deles. O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) revela que hoje há 47 grupos de pesquisa.

Machado explicou que, como o campo de Comunicação é amplo, a Sociedade criará condições para que especialistas de cada campo se reúnam, estimulando o debate naquela área. ?Isso não significa que não possa haver interatividade entre as outras áreas?.

Para que a SBPJor tenha êxito em sua atuação, Machado e a atual diretoria criaram uma lista de objetivos prioritários. São eles:

A institucionalização da Sociedade

Além da necessidade de registrar a entidade, o atual site será reestruturado. ?Teremos um domínio próprio para dinamizar o conteúdo?, explica o professor. Hoje, o site da SBPJor está abrigado na página da Universidade Federal de Santa Catarina.

Divulgação dos trabalhos fora do país

Até novembro de 2004, será lançada a revista Brazilian Journalism Review. A publicação, que será distribuída em centros de pesquisa internacionais, trará artigos, em inglês, sobre as pesquisas que estão sendo realizadas no Brasil. ?A produção no país é semelhante aos dos centros internacionais. Mas estas pesquisas são pouco conhecidas lá fora por causa da dificuldade da língua. Por isso, vamos fazer uma revista em inglês?.

Banco de dados atualizado

O novo site da SBPJor trará um banco de dados com as pesquisas que já foram ou que estão sendo realizadas. O objetivo, segundo o professor, é dar aos pesquisadores acesso às teses e dissertações às quais, sem este banco de dados, eles não teriam acesso.

Redes de pesquisa específica

?Como o Brasil é um país muito grande, onde há desníveis na qualidade de trabalhos e há universidades muito novas, os pesquisadores poderão participar de redes de pesquisa?. Machado explica que a Sociedade quer incentivar a criação dessas redes de trabalhos específicos, tanto para estimular o estudo em determinadas áreas quanto para colaborar com o financiamento. ?Dificilmente novos pesquisadores conseguem financiamentos. E sabemos que sem financiamento não se faz pesquisa?.

Pesquisa aplicada

Machado enfatiza que nos últimos 70 anos a pesquisa se voltou muito mais para a teoria. ?O jornalismo é prática aplicada, só teoria não basta. Queremos estimular as universidades a desenvolverem unidades de pesquisa aplicada?.

A diretoria

Presidente: Prof. Dr. Elias Machado ( Universidade Federal da Bahia)

Vice-presidente: Prof. Dr. Luiz Gonzaga Motta (Universidade de Brasília)

Diretor Administrativo: Prof. Dr. Victor Gentili (Universidade Federal do Espírito Santo)

Diretor Científico: Prof. Dr. Eduardo Meditsch ( Universidade Federal de Santa Catarina)

Diretora Editorial: Prof. Dra. Dione Moura Universidade de Brasília)

Conselho Científico: Alfredo Vizeu (UFPE), Beatriz Becker (UFRJ), José Marques de Mello (USP/UMESP), Marcos Palácios (UFBA), Sonia Serra (UFBA), Zélia Leal Adghirni (UnB).

Conselho Administrativo: Cláudia Lago (USP); Francisco José Karam (UFSC); José Luiz Proença (USP).

A SBPJor está aberta a novos associados. Professores, profissionais e alunos de qualquer área, desde que se dediquem a pesquisas em jornalismo, poderão se associar através do e-mail machadoe@ufba.br. Sua sede será na Universidade de Brasília.”

 

INTERNET

“Impasse adia decisão sobre controle da internet”, copyright O Estado de S. Paulo, 9/12/03

“Com uma agenda que inclui temas ambiciosos, como o controle da internet e o acesso dos países pobres às novas tecnologias, começa amanhã, em Genebra, a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação. O encontro pretende ser o início de uma nova era das negociações internacionais no setor, conduzida pela Organização das Nações Unidas (ONU), e terá a presença de 65 presidentes e mais de 15 mil delegados de vários países.

Brasil e China apresentaram uma proposta para que o controle da internet passe para as mãos de um organismo internacional, provavelmente criado pela ONU. Hoje, uma ONG com sede nos Estados Unidos, a Internet Corporation for Assigned Names and Numbers (Icann), é quem controla a logística da rede mundial. O que preocupa alguns países é que os servidores dessa ONG estão ligados ao Departamento de Comércio americano.

No entanto, a Casa Branca, segundo muitos delegados, não quer nem ouvir a proposta de uma eventual democratização da web e ameaçou bloquear o acordo se esse ponto for mantido. Diante do impasse, ficou estabelecido que a ONU criará um grupo de trabalho para avaliar a questão até outra cúpula, marcada para 2005, na Tunísia, que encerrará o processo iniciado em Genebra.

A ambição do acordo final de 2005, porém, depende do texto que será produzido na Suíça nos próximos dias. Por isso, no encontro que começa amanhã busca-se um acordo final sobre os temas. Os organizadores do evento garantem que 90% do texto, que será assinado na sexta-feira por chefes de Estado, já está fechado. Mas a verdade é que os pontos fundamentais ainda não foram resolvidos. Em reuniões preliminares os termos do acordo foram atenuados para que os países chegassem a um consenso mínimo, para afastar o risco de um fracasso.

Ceticismo – Nos últimos meses, a ministra Marília Sardenberg, do Itamaraty, liderou discussões para definir a posição brasileira na cúpula. Dois pontos se sobressaíram: defesa do software livre e controle da internet. Não houve consenso absoluto mesmo aqui no País.

?É nítido que não vai se chegar a um consenso na cúpula. Pode-se chegar a uma declaração superficial, mas o que não dá é outra que só serviria aos interesses do Primeiro Mundo?, afirmou o presidente do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação, Sergio Amadeu da Silveira, que fez parte do grupo de discussões.

Para Silveira, a rede de computadores deveria ser controlada por algum órgão vinculado à ONU. Mas isso seria feito por meio de um poder tripartite, constituído por governos, empresas privadas e representantes da sociedade civil.

Já o presidente do conselho da Rede de Informação do Terceiro Setor, Silvio Meira, é cético em relação à possibilidade de o Brasil exercer alguma liderança no encontro de Genebra. ?A posição do governo brasileiro é completamente desarticulada. Não houve, aqui, discussão sobre esses temas.?

Recursos – Meira alegou que a própria governança interna da internet, feita pela fundação paulista de amparo à pesquisa, a Fapesp, em São Paulo, não é transparente na aplicação de seus recursos. ?O que foi feito com o dinheiro dos direitos de domínios no Brasil??, cobrou. Cada empresa que monta um site tem de pagar uma tarifa à Fapesp para ter um endereço na rede.

?O Brasil não se preparou para a cúpula nos últimos três anos, chegamos em cima da hora e queremos colocar um item nessa agenda?, criticou Meira. ?Não vai funcionar.?”

 

“Participação de governos pode prejudicar web, diz entidade”, copyright O Estado de S. Paulo, 9/12/03

“Uma maior participação dos governos na gestão da internet, como defendem Brasil, China e África do Sul, poderá ter um efeito negativo para o desenvolvimento da rede. Pelo menos é isso o que afirma Paul Twomey, presidente da Icann, entidade responsável por administrar a rede mundial de computadores. Twomey, que está em Genebra para a Cúpula Mundial da Sociedade da Informação, deu a entender que a posição adotada pelo Brasil é mais ideológica que técnica.

A Icann, com sede na Califórnia, é a entidade que controla todas as operações de transmissão de dados da internet. Para muitos governos, tanto poder nas mãos de uma só empresa, localizada nos Estados Unidos, pode ser uma ameaça. ?Não somos o governo da internet?, rebateu. ?Somos uma entidade que conta com parceiras entre governos e o setor privado. Se esse equilíbrio for desfeito, o crescimento da internet pode ser desacelerado e os 750 milhões de usuários podem ter problemas no futuro.?

O executivo afirmou que a Icann pode ser considerada uma entidade internacional, já que tem funcionários de vários países e a sede fica nos EUA ?só por motivos históricos?. Para Twomey, o processo decisório é transparente, ao contrário do que argumentam países em desenvolvimento.

?Temos até mesmo um brasileiro, Ivan Campos, no comitê executivo.?

Sobre a relação com os EUA, Twomey garantiu que a Icann não é uma entidade ?contratada pela Casa Branca? e não recebe verbas do Estado. ?Temos uma parceria, como temos com vários governos. Washington jamais interferiu em nossas operações.? Mas, questionado pelo Estado sobre o motivo pelo qual os e-mails de iraquianos foram desativados durante a guerra, Twomey não soube responder.”

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“País fica em 39.? lugar em ranking”, copyright O Estado de S. Paulo, 9/12/03

“O Brasil ocupa a 39.? posição num ranking de 102 países que mede o quanto eles estão preparados para os benefícios da tecnologia da informação. A classificação, feita pelo Fórum Econômico Mundial, aponta que de 1999 a 2002 o crescimento do número de internautas no Brasil chegou a 309%, um dos mais expressivos entre países em desenvolvimento. A posição do País só não é melhor porque o ranking inclui a avaliação do sistema de impostos, item em que o Brasil ficou em penúltimo lugar.

A classificação é baseada em três aspectos: o ambiente macroeconômico para o desenvolvimento das tecnologias, o grau de preparação do governo, empresas e cidadãos para se beneficiarem das novas tecnologias e o uso efetivo desses novos instrumentos no país avaliado. O levantamento mostra que as diferenças entre países ricos e pobres no que se refere à tecnologia está diminuindo. A liderança do ranking coube, pela terceira vez, aos Estados Unidos, seguidos de Cingapura, Finlândia, Suécia e Dinamarca.”