Monday, 18 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Deonísio da Silva

ELEIÇÕES 2002

"Santo Antônio militar e político", copyright Jornal do Brasil, 12/09/02

"Santo Antônio precedeu os políticos biônicos de Ernesto Geisel. Com a diferença de que o general-presidente instituiu os senadores sem outro voto que não o dele, em abril de 1977. E Dom José I limitou-se a promover a vereador o santo, também tenente-coronel e almirante, em novembro de 1754, atendendo a pedidos.

Entre outros documentos que atestam a vida militar póstuma do religioso há um recibo passado no Rio de Janeiro, em 15 de junho de 1846: ?Recebi do ilustre tenente-coronel Manoel José Alves da Fonseca, tesoureiro e pagador chefe das tropas desta capital, a quantia de 80 mil réis, importância relativa ao mês de maio último; do glorioso Santo Antônio, como tenente-coronel do Exército?. Era soldo e não pensão, como esclareceu em curioso despacho José Antônio Saraiva quando ministro da Guerra.

O general Geisel foi um dos mais poderosos mandatários do ciclo pós-64. Mas sua complexa atuação desconcertará por muito tempo a inteligência dos pesquisadores. Fechou o Congresso, mas aboliu a censura à imprensa. Liberou a imprensa, mas proibiu muitos livros. Geisel e Dom José delegavam poderes. Talvez o general delegasse menos. O certo, seja rei ou ditador, é que o poderoso não pode saber de tudo o que se passa em seu reino ou Fazenda Modelo, na síntese e metáfora do cantor e compositor Chico Buarque de Holanda, que deu este título a um romance que publicou em 1975, o segundo do reinado de Ernesto Geisel, que durou de 1974 a 1978 e de quem o jornal Versus despediu-se com uma foto de capa em que aparecia sua conhecida carranca legendada pela frase já vai tarde.

Como é que Geisel fez o que fez? A pergunta é a mesma se examinarmos qualquer governo no varejo. No atacado as contradições não são tantas. Com efeito, no reinado de Dom José I, o todo-poderoso e anticlerical Sebastião José, Marquês de Pombal, que queria um Estado leigo, certamente haveria de discordar dos termos da Carta Régia que mandava pagar numerários de vereador a Santo Antônio, que exercia o mandato biônico na Câmara de Igarassu, em Pernambuco, segundo o delicioso livro de José Carlos Macedo Soares, Santo Antonio de Lisboa, militar no Brasil.

Dom José I, Pombal e Geisel não são populares no Brasil, mas Santo Antônio é. Tornou-se casamenteiro depois que uma desesperada solteirona, cansada de implorar um noivo, atirou a imagem pela janela, acertando um transeunte com quem depois se casou. Sem querer, o religioso tornou-se militar, almirante e vereador. E sem querer deve estar presidindo a alianças, casamentos e jeitinhos que nossas elites já pensam em arranjar para depois de outubro, no caso de os similares ordenados antes das eleições não surtirem os efeitos esperados."

 

"Relatório de 07 a 13/09", copyright Site oficial da coligação Lula Presidente (www.lula.org.br), 16/09/02

"Os quatro jornais na segunda semana de setembro 07/09 – 13/09

Durante os dias 07/09 e 13/09, os quatro jornais dedicaram 517 matérias à cobertura dos três principais candidatos. Lula teve 184 (35.59%); Ciro teve 157 (30.36%); seguido de Serra, 112 (21.66%).

Do total de matérias de cada candidato, Serra teve maior porcentagem de matérias positivas 60%, seguido de Lula 49%, depois Ciro com 18%.

Ainda sobre a totalidade de matérias de cada candidato, Ciro teve a maior porcentagem de negativas 64%, seguido de Lula 39% e depois Serra com 29%.

Por jornal, a situação foi a seguinte:

Folha

A Folha dedicou 156 matérias à cobertura dos três candidatos. Lula teve maior número de matérias 62 (39.74%), seguido de Ciro 53 (33.97%) e por último, Serra com 29 (18.59%).

Do total de matérias para cada candidato, Serra teve 59% de matérias positivas, seguido de Lula 45% e por fim Ciro com 25%.

Do Universo de matérias de cada candidato, Ciro teve 64% de negativas, seguido de Lula 52% e depois Serra 41%.

Estado

O Estado dedicou 135 matérias à cobertura dos três candidatos. Ciro teve maior número de matérias 45 (33.3%), seguido de Lula 44 (32.6%) e depois Serra com 30 (22.2%).

Das matérias dedicadas a cada candidato, Serra teve a maior porcentagem de matérias positivas 67%, seguido de Lula 48% e depois Ciro com 18%.

Da totalidade de matérias para cada candidato, Ciro teve a maior porcentagem de negativas 66%, seguido de Lula 47% e por fim Serra 20%.

Globo

O Globo dedicou 122 matérias à cobertura dos três candidatos. Lula teve maior número de matérias 44 (34.4%), seguido de Ciro 36 (29.5%) e depois Serra com 29 (23.7%).

Do total de matérias para cada candidato, Serra teve maior porcentagem de positivas 59%, seguido de Lula 55% e depois Ciro que teve 6%.

Das matérias dedicadas a cada candidato, Ciro teve maior porcentagem de negativas 66%, seguido de Serra 31% e depois Lula com 19%.

JB

O JB dedicou 104 matérias à cobertura dos três candidatos, com equilíbrio maior na exposição dos candidatos. Lula teve maior número de matérias 36 (34.6%), seguido de Serra 24 (23%) e depois Ciro 23 (22.1%). Sobre a quantidade de matérias de cada candidato, Serra teve maior porcentagem de positivas 54%, seguido de Lula 53% e depois Ciro com 22%.

Do total de matérias dedicadas a cada candidato, Ciro teve maior porcentagem de negativas 56%, seguido de Lula 28% e depois Serra 25%.

Comentários

No conjunto dos quatro jornais, durante a segunda semana de setembro, ocorreu o seguinte:

Lula continuou sendo o candidato com maior número de matérias no Globo, Folha e JB. No Estado, Ciro teve uma matéria a mais do que Lula. Com relação à última semana não houve mudanças na cobertura que os quatros jornais vêm dando das três candidaturas. Serra continuou com a candidatura com o maior número de matérias positivas e Ciro, com a candidatura com o maior número de matérias negativas."

 

"Cartas à Folha", copyright Site oficial da coligação Lula Presidente (www.lula.org.br), 11/09/02

"?São Paulo, 6 de setembro de 2002

Ao Diretor de Redação da Folha de S.Paulo, Ilmo. Sr. Otavio Frias Filho,

cc.: Bernardo Ajzenberg, Ombudsman; Painel do Leitor

Prezado Senhor,

Volto à tarefa não agradável, mas necessária, de ter que apontar omissões importantes no noticiário da Folha sobre a campanha eleitoral da Coligação Lula Presidente. Limito-me apenas às últimas edições:

1 – Na edição do dia 5, a Folha não noticiou que Lula recebeu em Brasília o apoio formal de 51 reitores. Todos os outros jornais de referência nacional deram essa informação.

2 – Na mesma edição, a manchete da página 1 do caderno Eleições, ?Pesquisa já mostra Serra com 21 e Ciro com 20?, contém informações que contrariam os dados publicados e omissões. Primeiro, omite que a pesquisa é ?por telefone?; segundo, omite a novidade principal da pesquisa, a alta de Lula, de 35% para 39%; finalmente, difunde a idéia de que Serra subiu (transmitida pelo advérbio de tempo ?já?), que não corresponde aos fatos. Nessa pesquisa, Serra completou quatro apurações consecutivas estagnado no mesmo patamar de 21%.

3- Ainda nessa edição, a Folha não noticiou a entrega por Marisa (esposa de Lula), dos primeiros cinqüenta exemplares do programa de governo de Lula em Braille, para portadores de deficiência visual. Os exemplares foram entregues em solenidade que homenageou a professora Dorina Gouvêa Nowill, criadora, com outras pessoas, da Fundação para o Livro do Cego. Outros jornais de grande circulação julgaram o fato importante e o noticiaram. A razão não deve ter sido falta de espaço, porque a Folha deu a foto da visita de Marisa à fundação, mas com uma estranha legenda, que omite o principal: a entrega inédita do Programa de Governo em Braille.

4- Na edição de hoje, dia 6, a Folha não noticiou o jantar de Lula com 150 empresários na casa de Ivo Rosset. O fato foi considerado importante e noticiado com riqueza de detalhes por jornal concorrente.

5- Ainda na edição de hoje, a manchete da página 1 do caderno Eleições, ?Lula e Serra sobem em ranking…?, não corresponde aos fatos. Como a própria matéria mostra, apenas Lula e Garotinho subiram. Serra ficou nos 21% do rastreamento anterior. Certamente, não é isso que leitor espera de um jornal importante como a Folha.

Atenciosamente,

Carlos Tibúrcio

Chefe de redação da Campanha Lula Presidente

***

Ao Diretor Editorial da Folha de S.Paulo, Ilmo. Sr Otávio Frias Filho

cc.: Painel do Leitor e Ombudsman

São Paulo, 11 de setembro de 2002

Prezado senhor,

Voltamos à tarefa desagradável, mas necessária, de ter que apontar omissões da Folha na cobertura da campanha do PT. Limito-me às duas últimas edições:

1- Na terça-feira, dia 10, a Folha não noticiou o gigantesco comício de Lula em Salvador, Bahia, em que, segundo o jornal concorrente O Estado de S.Paulo, havia 150 mil pessoas. A multidão já se encontrava no local desde 20h30, três horas antes do horário de fechamento da edição. A Folha tinha um repórter no local. Por isso, estranhamos bastante a omissão;

2- Na edição de hoje, dia 11, a Folha noticiou que no comício de ontem, em Caruaru, ?havia 1.200 militantes do MST?, como se só houvesse esses militantes. Além deles, segundo estimativa da Contag, registrada pelo jornal concorrente O Estado de S. Paulo, havia 20 mil pessoas. Nesse comício, Lula lançou seu programa de governo para agricultura e reforma agrária, que o jornal também deixou de mencionar. Da mesma forma, a Folha nada disse do comício ainda maior, realizado à noite em Recife, em que havia cerca de 70 mil pessoas, segundo jornais concorrentes. É como se nada disso tivesse acontecido.

Aproveito para lembrar que nossa carta anterior, listando omissões igualmente graves, não foi publicada.

Atenciosamente,

Bernardo Kucinski (Comitê Lula Presidente)"