BALANÇO DA POSSE
“As gafes da posse”, copyright Jornal do Brasil, 5/1/03
“O seu nome é Severino, ele não tem outro de pia. Mas isso ainda diz pouco: há muitos na freguesia.? Então, ele passou a ser o Severino que falou mais do que devia. Como, porém, ?o passado não abre a sua porta e não pode entender a nossa pena?, o deputado federal Severino Cavalcanti, primeiro-secretário da Câmara, fez o signatário lembrar versos de João Cabral de Melo Neto e de Cecília Meireles, os dois em obras antológicas, inesquecíveis pela beleza, mestres na arte de não evitar as ligações perigosas que os escritores mantêm com a sociedade onde vivem e em cujos temas e problemas se inspiram. Cecília era carioca. João Cabral, pernambucano. Suas obras são superiores às de muitos que já ganharam o Prêmio Nobel de Literatura. Escreveram, porém, em português, um dialeto da Galáxia Gutenberg, e por isso correm o risco de serem esquecidos pelos próprios brasileiros, quando não por leitores que semelham os emblemáticos personagens que criaram.
A palavra, de tantas funções, é para os que escrevem e falam profissionalmente a ferramenta de trabalho. Se falamos ou escrevemos demais, perdemos a concisão, nos tornamos prolixos ou como dizem os sábios do povo, em metáfora perfeita, enchemos lingüiça. O excesso atrapalha. A economia é a norma básica da elegância, e até por razões de saúde, há os que precisam fazer regime para perder peso. Mas como perder o excesso de palavras?
Um outro tipo de regime impõe o silêncio em tempos e espaços específicos. O último que amordaçou o Brasil vigorou no período pós-64. A bem da verdade, a partir do pós-68, com a instituição do Ato Institucional Número Cinco. Esquecendo-se de que a memória não é depósito, mas brota constantemente, muitos democratas de hoje não se importaram muito com aqueles silêncios impostos e até aquela que deveria ser a Casa do escritor brasileiro elegeu um dos signatários do Ato nefando para conviver com censurados. Refiro-me ao general Aurélio de Lira Tavares, membro da junta militar que incrustou três novos ocupantes na Presidência da República, fazendo que imprensa e livros ostentem a discrepância histórica. Afinal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o 36? ou o 39? presidente?
Comparada à gafe política que foi a junta militar e à gafe literária que cometeram os ímpios que elegeram um dos seus membros para a Academia Brasileira de Letras, saiu- nos baratinha a gafe do parlamentar no gesto desjeitoso que fez pouco mais do que atrapalhar os ritos da cerimônia por cujo zelo ele era um dos principais responsáveis. Mas o que dizer mais do excesso severino?
Algo semelhante à resposta daquele padre conservador a quem perguntaram sua opinião sobre o sexo antes do casamento. Nada contra, se não atrasasse a cerimônia.
O silêncio é de ouro. Essa frase já estava na boca de muitos povos quando o cineasta René Clair a utilizou no título de um filme, Le silence est d?or, cujo tema é o cinema antigo, quando o som não era ainda utilizado. A aquisição da linguagem é etapa decisiva do desenvolvimento humano. Porém, tendo aprendido a falar, o homem precisa aprender também a calar, daí a razão da sabedoria dessa frase, presente em muitas outras línguas, algumas das quais acrescentam que a palavra é de prata. Saber calar e cultivar a discrição são recomendações tão antigas que já estão presentes também em famoso livro da Bíblia, o Eclesiastes. No Brasil, a variante popular é ?em boca fechada não entra mosca?, outra síntese que lembra, aliás, uma das funções da imprensa quando a sociedade brasileira era bem mais ágrafa do que hoje. Até fins do século XIX, as casas-grandes tidas por cultas determinavam que, à hora das refeições, alguns escravos, vestidos de branco e vermelho, postados ao lado das mesas, sacudissem varas em cujas extremidades estavam amarrados pedaços de jornais, para espantar as moscas.
Houve outras gafes. O dragão da independência não caiu do cavalo, foi o cavalo quem derrubou a si mesmo e ao cavaleiro. E o prazer solitário da leitura, talvez de mais gosto do que o de escrever, lembrou-me Camões: ?Correndo algum cavalo vai sem dono,/ e noutra parte o dono sem cavalo?. Algum animal foi volúvel? Não. A vontade de todos eles estava perfeitamente dominada por exímios cavaleiros, entretanto despreparados para um tempo em que não temos mais as pompas de Dom João VI e a realeza agora é democrática, estando acessível ao povo, mantido a uma distância segura nos tempos reinóis. E quem empacou foi o Rolls-Royce presidencial. ?Cai a soberba inglesa de seu trono, que dois ou três já fora vão do valo? e ?fazendo da vida ao fim breve intervalo? empurram o melhor carro do mundo para que ele torne a pegar, mas no tranco. Talvez como o Brasil vai pegar agora.
Gafe é palavra de origem controversa. Pode ter vindo do neerlandês gaffel, forquilha, ou do árabe gafea, contraída, enroscada. Quando os marinheiros novatos não manejavam bem a vara com um gancho na ponta, utilizada para atracar os barcos, eram gozados pelos veteranos.
Ao cometer a gafe, a pessoa se encurva, retorce as mãos, vira os olhos, mexe as orelhas ou faz enfim algo quase desesperado para disfarçar o indevido que acabou de obrar. Mas é sempre tarde para consertar as gafes havidas. Melhor esquecê-las. A grandiosidade daquele momento inesquecível, próprio das nações civilizadas que, ao criarem as normas, ensejaram as gafes, faz por merecer que sejam esquecidas. Lembramos apenas para não repeti-las, pois algumas foram assustadoras e felizmente tudo terminou bem. O presidente que saía recebeu o que entrava com toda a civilidade e a grandeza que o momento exigia. As maiores gafes foram praticadas por aqueles seus antecessores que não passaram a faixa presidencial que haviam recebido. Fernando Henrique Cardoso recebeu-a duas vezes e, cumprindo a Constituição, passou-a ao eleito. Parece pouco, mas para o Brasil é digno de registro tal normalidade. Então, a maior gafe que poderia haver, não houve. (Escritor)”
“Posse de Lula rende boa audiência à TV”, copyright O Estado de S. Paulo, 30/01/03
“A transmissão da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tomou a programação de todas as emissoras anteontem, apesar de ser um feriado, alcançou boa audiência. A Globo, que foi a líder no horário, obteve média de 22 pontos de ibope em sua transmissão, que foi das 14h21 às 18h22. O SBT, no mesmo horário, registrou 4 pontos de audiência, a Record ficou com 3 pontos, e Band, Rede TV! e Cultura alcançaram 1. O pico de audiência foi durante a entrega da faixa presidencial a Lula, às 17h05, em que a Globo registrou 26 pontos de audiência.”
“Assessorias de comunicação soltam fogos com a posse de Lula”, copyright CidadeBiz (www.cidadebiz.com.br), 2/01/03
“A indústria de relações públicas saltou fogos esta semana, com a posse de Luís Lula da Silva. O novo governo é a principal fonte de otimismo para o setor. ?O PT será o nosso carro chefe em 2003?, afirma João Rodarte, presidente da CDN, maior empresa da área, e da Abracom (Associação Brasileira das Agências de Comunicação). Mas o partido não é o único motivo de ânimo para as agências de comunicação. O saldo positivo de 2002, quando o setor bateu pela primeira vez a marca de R$ 100 milhões, é razão de sobra para festejar. Principalmente porque se espera mais este ano.
?O governo petista será importante por duas razões: primeiro, pelo perfil do partido, que se vale bastante das ferramentas de comunicação, e, segundo, pelas mudanças que fará, o que demandará mais comunicação?, diz Rodarte. Não só Rodarte, mas diversos executivos da área aguardam ansiosos o governo Luís Lula da Silva. ?Nós vamos crescer com a economia e os novos rumos do país?, endossa Agostinho Gaspar, da G&A Associados, segunda maior assessoria do país, de acordo com o ranking 2001 divulgado em outubro passado pela Gazeta Mercantil.
A líder, a CDN, projeta ter crescido 23% em 2002, de um faturamento bruto de R$ 16 milhões para outro de R$ 19,68 milhões. Apesar de ter atendido um número significativo de contas da esfera política no ano passado, o vice-presidente de operações da empresa, Andrew Greenles, descarta relacionar o bom desempenho da companhia a essa clientela. ?A CDN se baseia no atendimento à iniciativa privada?, afirma. Em 2002, a agência atendeu a conta do PSDB, o partido nacional, do senador eleito Romeu Tuma, da Prefeitura de Vitória e do governador eleito do Espírito Santo, Paulo Arthung. Entre os clientes privados fixos, estão marcas como McDonald?s, Telefônica, Algar, Globopar, Laboratório Pfizer, Odebrecht e J.P. Morgan. A CDN atende também a ANP, Agência Nacional de Petróleo.
Na terceira posição, vem a InPress, com receita líquida de R$ 11,7 milhões, seguida pela FSB Comunicações, com R$ 9,8 milhões, e pela Máquina de Notícias, com R$ 6,9 milhões. As três, afirma Rodarte, cresceram no ano passado. O executivo, que mantém diálogo com donos das agências afiliadas à Abracom, conta que o rumo das conversas é sempre positivo. ?O mercado não foi abalado em 2002?, diz. S2 Comunicações e Edelman, respectivamente com receita líquida de R$ 4,4 milhões e R$ 3,8 milhões, aparecem no quinto e sexto lugares.
A G&A é a grande ressalva nessa maré otimista. Diferente da CDN, a empresa de Gaspar esperava repetir em 2002 o resultado do ano anterior, de R$ 01,7 milhões. O que, para o executivo, é uma vitória. Gaspar faz seus cálculos e estima que, apesar do ano favorável para muitos, o mercado perdeu em dólar. A queda não é tão feia quanto a da publicidade. ?O mercado publicitário está caindo 10%, mas ele pode, porque tem colchão protetor?, diz Gaspar. A G&A teve o freio puxado após 15 anos crescendo entre 15% e 20%. O ritmo, acredita Gaspar, deve ser retomado em 2003. Entre seus principais clientes, estão A. T. Kearney, DirecTV Tetra Pak e Nortel, além de executivos à procura de treinamento para reciclar e ganhar desenvoltura nas relações públicas.
Das maiores, apenas a G&A e a Edelman, esta com 80% do capital na mão de acionistas americanos, ficaram de fora da Abracom. Gaspar explica que não entrou porque já se envolveu com diversas outras entidades setoriais. Mas Rodarte aposta que logo, logo, ele adere à entidade. A associação reúne 70 assessorias de imprensa. Hoje, no país, existem cerca de 1.000 assessorias, a maioria absoluta concentrada no eixo Rio-São Paulo – são 600 em São Paulo e 100 no Rio de Janeiro.
Discordâncias quanto ao desempenho do mercado à parte, as opiniões de Rodarte e Gaspar se intersectam em diversos pontos: quanto à profissionalização do setor, à mudança para melhor na visão que o empresariado tem do trabalho de relações públicas, ao aumento da presença estrangeira no setor e ao governo Lula. Concorda com eles Andrew Greenles, vice-presidente de operações da CDN. A escolha de Luiz Gushiken para a Secom, a Secretaria de Comunicação Social do governo, anima Greenles. ?Sua indicação comprova a tese de que o PT considera a comunicação uma &aaacute;rea estratégica?, diz.”