MÍDIA & EXÉRCITO
Sob pressão das empresas de comunicação descontentes com as restrições do Pentágono impostas a jornalistas que cobrem o conflito no Afeganistão, o Departamento de Defesa promete ajudar a imprensa americana. Victoria Clarke, secretária-assistente de relações públicas da Defesa, em 6 de dezembro pediu desculpas em carta aos chefes das sucursais em Washington.
"Os últimos dias revelaram uma deficiência preocupante no nosso preparo em receber organizações noticiosas que cobrem as operações militares dos EUA no Afeganistão", dizia a carta. Desde os primeiros dias da guerra, de acordo com Jim Rutenberg [The New York Times, 10/12/01], os jornalistas reclamam da escassez de informações a que o Pentágono os submeteu. À exceção do pool de repórteres escolhidos pelo Pentágono para permanecer numa base americana no Afeganistão, todos os outros jornalistas estão por conta própria, à mercê das adversidades locais.
A carta não veio de presente. As reclamações da imprensa americana atingiram seu ápice quando repórteres que estavam no front de uma base em Kandahar foram confinados num depósito enquanto americanos mortos e feridos por uma bomba dos próprios EUA eram atendidos por paramédicos. Os jornalistas foram proibidos de entrevistar e tirar fotografias.
Mais tarde, militares reconheceram que os repórteres deveriam ter tido mais acesso, mesmo que limitado. Victoria lamentou o tratamento e disse, na carta, que o Pentágono tomaria medidas para assistir a mídia no Afeganistão. Executivos das empresas de comunicação elogiaram a atitude da secretária-assistente, mas não sabem o quanto isso realmente mudará o tratamento que a imprensa tem recebido nesta guerra.
BAIXAS DE GUERRA
Quantos civis já morreram desde 7 de outubro, quando os EUA deram início à "guerra contra o terrorismo" no Afeganistão? As emissoras americanas não estão contando, porque jornalistas e voluntários que prestam socorro têm acesso limitado à área. Segundo relatório da Fair (Fairness & Accuracy in Reporting), em 12 de dezembro, muitos veículos americanos não parecem se esforçar muito.
Os telejornais da noite das três principais emissoras de TV aberta americanas são imprecisos. O ABC World News Tonight leva o assunto mais a sério que o CBS Evening News ou o NBC Nightly News, que regularmente debatem as baixas de civis.
Pode levar um tempo até que se saiba o número exato de perdas. Em estimativa conservadora, para Médicos Sem Fronteiras o número de baixas civis chega a centenas, e cresce a cada dia. Um professor da Universidade de New Hampshire estima 3 500 perdas civis.
Para alguns colunistas, os afegãos não se importam em ser mortos por bombas dos EUA. "No final, muitos desses ?cidadãos? afegãos rezavam por outra dose de B-52 para se libertarem no Talibã, seja morrendo ou não", escreveu Thomas Friedman no New York Times.