MÍDIA & MERCADO
Luciano Martins Costa (*)
A citação, pela CNN, semana passada, do processo de reestruturação do Grupo Estado de S.Paulo, é mais uma indicação de que se renova no cenário internacional de negócios o interesse por oportunidades na mídia brasileira. Alguns analistas consideram que a possível estabilização do dólar em torno de 3 reais, ao mesmo tempo em que aponta o fechamento de uma janela de oportunidades, pelo maior poder de fogo que o dólar inflado oferece ao investidor internacional, também sinaliza um caminho mais estável para investimentos de longo prazo. Nesse cenário, o vetusto Estadão é tido como a jóia da coroa, por sua credibilidade que nem mesmo um escabroso assassinato conseguiu abalar, e pela consolidação de operações da Agência Estado voltadas ao público corporativo, de alta cotação entre investidores.
De fato, em nenhum momento, nos últimos três anos, decaiu o interesse por negócios envolvendo títulos ou empresas brasileiras de comunicação. O que tem havido é um cuidado extremado, o que diferencia investimentos de oportunidade ? como os que caracterizaram a explosão de "negócios" online entre 1999 e 2001 ? e os verdadeiros empreendimentos.
No caso da mídia, o que se tem visto é a busca de participação em empresas brasileiras como negócios subsidiários ao interesse central dos investidores ? seja no caso do grande armador que necessita se ancorar na mídia em reação às manobras do concorrente, seja no caso de algumas empresas de telecomunicações movidas pela evidente complementaridade dos dois setores.
Novo ambiente
De qualquer modo, o que se verá nos próximos meses será bem diferente das operações feitas em 2000 pelo grupo sueco Metro, que tentou se estabelecer no Brasil a partir de suas operações em Santiago do Chile e Buenos Aires. O projeto naufragou, por motivos variados, um dos quais um erro de cálculo no tempo de maturação da legislação [a nova redação do artigo 222 da Constituição] que viria a permitir o ingresso de capital estrangeiro na mídia nacional. Os grandes da comunicação tupiniquim simplesmente gastaram o tempo que quiseram para fazer amadurecer a legislação até o ponto de degustação que desejavam, enquanto os suecos viam sua operação na Argentina acabar em tango, sem que pudessem iniciar as operações no Rio de Janeiro.
Os negócios que se desenham nos gabinetes de conceituados advisers também guardam distâncias enormes com a gastança pontocom que assistimos entre 1999 e 2001. Nesse período, entre os negócios milionários em território latino-americano ? que ganharam manchetes no noticiário e seduziram não poucos jornalistas ? houve fartos indícios de lavagem de dinheiro, oriundo de ganhos não declaráveis em campanhas eleitorais ou dos processos de pacificação envolvendo o narcotráfico na Colômbia e no México.
Depois da farra, que reforçou o patrimônio legal de algumas celebridades da mídia e atrasou a vida de centenas de jornalistas e outros profissionais, está chegando finalmente a hora dos negócios que vão redesenhar o cenário das comunicações no Brasil. Para o bem ou para o mal, antes que este ano termine estaremos vivendo num ambiente completamente novo.
(*) Jornalista